10 mulheres mangakás para iniciar no universo dos quadrinhos japoneses

10 mulheres mangakás para iniciar no universo dos quadrinhos japoneses

Os mangás como conhecemos hoje são fruto dos encontros da cultura japonesa tradicional com as culturas de outros países, principalmente a partir da Era Meiji, quando as relações internacionais e os portos foram abertos. A partir de 1930, as separações por idade e sexo começaram a ser definidas: shonen, shoujo, yuri, yaoi, josei, seinen e outras. Foi Osamu Tezuka que introduziu a estética do que conhecemos hoje como mangá shonen, voltado para o público jovem masculino, com grandes lutas, aventuras, traços e personagens fortes. Alguns exemplos são “Dragon Ball’, “Narutoe “One Piece”.

O mangá shoujo, voltado para garotas adolescentes, também era escrito por homens durante os anos 1950. O público feminino consumia as histórias avidamente e demandava cada vez mais dos autores. Foi nessa época que surgiu o Grupo de 24, mulheres nascidas no ano 24 da Era Showa (1949 do calendário ocidental) responsáveis por revolucionar os temas abordados e o modo de desenhar as sequências narrativas ao entrarem para o mercado dos mangás. Atualmente, os shoujos são escritos, desenhados e editados majoritariamente por mulheres mangakás, o que gera mais identificação entre as narrativas e as leitoras, mas não se engane, as mangakás não se restringem apenas à produção de mangás shoujo.

É bastante comum autores de obras japoneses não revelarem quem são para os fãs. Por isso, muitas vezes não sabemos se o mangá foi escrito por um homem ou por uma mulher. Hiromu Arakawa, criadora de “Fullmetal Alchemist,  foi tida como homem por anos, já que o mangá feito por ela se encaixava no gênero shonen, feito em sua maioria por homens e também voltado aos leitores do sexo masculino. Outro caso de anonimato é o da mangaká de “Beastars”, Paru Itagaki. Em suas aparições públicas, a artista utiliza uma cabeça gigante de galinha para esconder o rosto e permanecer irreconhecível.

Como ainda existe certo anonimato no mercado dos mangás, é possível que existam muitas mulheres produzindo títulos sem sabermos quem realmente são. Apesar dessa questão, não faltam mulheres mangakás para se iniciar no universo dos quadrinhos japoneses. A partir disso, selecionamos 10 nomes para você começar sua jornada pelos mangás feitos por mulheres: 

10) Machiko Satonaka

Mulheres mangakás: Machiko Satonaka
Machiko Satonaka e seu mangá “Pia no Shōzō” (Imagem: reprodução)

Machiko Satonaka nasceu no dia 24 de janeiro de 1948 em Osaka, Japão. Machiko é uma das responsáveis pela revolução estrutural no mercado de quadrinhos japoneses logo aos 16 anos, quando ainda no segundo ano do ensino médio venceu o concurso de mangá Kodansha New Faces Award com o trabalho “Pia no Shōzō”. Até 1970, a profissão de mangaká era predominantemente masculina e isso motivou Machiko a se tornar uma profissional da área:

Eu achava que poderia fazer um trabalho melhor eu mesma, e que as mulheres eram mais capacitadas para entender o que as meninas queriam ler do que os homens. (…) Era alguma coisa que eu poderia fazer por mim mesma, era um tipo de trabalho que permitia que as mulheres fossem iguais aos homens.¹

Machiko Satonaka recebeu o prêmio de Obras e Atividades Culturais Vitalícias do Ministério da Cultura e Ciência do Japão, em 2006, e a Comenda do Comissário para Assuntos Culturais, em 2010. Além de escrever livros, ela contribui em várias outras áreas, inclusive como diretora da Associação de Cartunistas do Japão, chefe da fundação Manga Japan, representante da Asia Manga Summit Administering Authority NPO, chefe do Departamento de Artes Criativas da Universidade de Artes de Osaka e membro do Secretariado do Gabinete da Sede da Estratégia de Propriedade Intelectual do Japão.

A artista adota predominantemente o estilo shōjo, dirigido ao público feminino adolescente. Entre suas obras estão Pia no ShōzōAshita Kagayaku, Ariesu no Otometachi, Umi no Ōrora, Asunarozaka, Karyūdo no Seiza e Tenjō no Niji.

9) Keiko Takemiya

Keiko Takemiya
Keiko Takemiya, uma das pioneiras do Boy’s Love (Imagem: reprodução)

Keiko Takemiya nasceu no dia 13 de fevereiro de 1950, em Tokushima, Japão. Takemiya faz parte do “Grupo do Ano 24”, geração de mulheres artistas que revolucionaram o shoujo mangá nos anos 70, e é uma das pioneiras do gênero Boy’s Love, o romance entre garotos. Há uma história curiosa de que Takemiya e outra mangaká pioneira do Boy’s Love, Moto Hagio, dividiam um apartamento em Tóquio nos anos 1970, mas que a ideia de desenhar romances entre meninos não veio das duas e sim da vizinha, Norie Musuyama. Norie não sabia desenhar, então apresentou às artistas a revista gay Barazoku e o filme “Les amitiés particulières” que, a princípio, motivaram Takemiya e Hagio a criar os primeiros mangás shounen ai, “Sunroom ni te” e “Touma no Shinzou“respectivamente.

Em “Kaze To Ki No Uta”, um dos primeiros mangás shoujo com foco no relacionamento entre meninos, e o primeiro a ter sexo como um dos pontos principais da história, Takemiya levou cerca de nove anos para publicá-lo, pois se recusava a censurar elementos sexuais da narrativa. Apesar de ter aberto caminho para mais publicações do gênero, a história traz alguns aspectos problemáticos, como o estupro para compor o melodrama.

A mangaká também já foi reitora e professora da Universidade de Kioto Seika. Por sua importância e serviços prestados à comunidade japonesa, Keiko Takemiya recebeu, em 2014, a Fita Púrpura, honraria concedida a cada dois anos pelo governo japonês para homenagear pessoas que contribuem para o desenvolvimento, melhorias e conquistas no campo artístico e acadêmico do país. Entre as obras de Takemiya estão: Terra e…, Andromeda Stories, Farao No Haka, Izuaroon Densetsu, Hermès no Michi e Shippuu no Matsurigoto.

8) Rumiko Takahashi

Rumiko Takahashi
Rumiko Takahashi, a criadora de InuYasha (Imagem: reprodução)

Rumiko Takahashi nasceu no dia 10 de outubro de 1957, em Niigata, Japão. Seu interesse por mangá surgiu tardiamente, mas nem por isso deixado de lado. Durante seus anos de faculdade, ela se matriculou na Gekiga Sonjuku, escola de mangá fundada por Kazuo Koike, criador de “Crying Freeman” e “Lone Wolf and Cub”. Um dos aprendizados a partir de Koike foi o de idealizar personagens interessantes e bem pensados, o que Rumiko aplica até hoje. “Bye-Bye Road” e “Star of Futile Dust” foram as primeiras criações dōjinshis, termo japonês para publicações independentes, em 1975.

A carreira profissional de Takahashi começou em 1978 e, depois de lançar três séries curtas, começou a publicar sua série completa, “Urusei Yatsura”. A partir de outubro de 1980, ela publicou “Urusei Yatsura” e “Maison Ikkoku” simultaneamente, o segundo rapidamente se tornou um dos mangás de romance mais amados do Japão. Ambos foram concluídos em 1987, quando Takahashi iniciou a série escrita por nove anos, “Ranma ½”, que se tornou seu trabalho de maior sucesso, com aproximadamente 53 milhões de cópias vendidas no Japão.

Nove meses após finalizar “Ranma ½“, seu próximo mangá, “InuYasha, foi realizado de novembro de 1996 a junho de 2008 e vendeu 45 milhões de cópias. O anime foi sua primeira adaptação transmitida extensivamente no Ocidente, sendo reproduzido em nove idiomas pelo mundo. Rumiko foi convidada pela Sunrise, produtora de “InuYasha”, para supervisionar a criação do anime, com o objetivo de que a obra não desviasse do que foi idealizado pela mangaká.

Seu trabalho concluído mais recente, “Kyoukai no Rinne”, vendeu 3 milhões de cópias a partir de 2014, antes de sua adaptação para anime, e seu volume final ficou em 32º lugar em vendas semanais após o lançamento. Atualmente, Rumiko Takahashi trabalha no desenvolvimento do mangá “MAO” pela revista Weekly Shōnen Sunday, que está em seu terceiro volume. Além do número de vendas surpreendente, a artista coleciona várias premiações: Prêmio de Mangá Shogakukan (1980, 2001); Seiun Award (1987, 1989); Inkpot Award (1994) e o Grande Prêmio de Angoulême (2019).

7) Takano Ichigo

Mulheres mangakás: Takano Ichigo
Orange, o mangá de grande sucesso de Takano Ichigo (Imagem: reprodução)

Takano Ichigo nasceu no dia 11 de janeiro de 1986, em Nagano, Japão. Por ser bastante reservada em relação a sua vida pessoal, pouco se sabe sobre essa mangaká. Foi publicada pela primeira vez em 2002, com o one-shot Start” na revista shōjo Bessatsu Margaret, da editora Shueisha. Após a publicação de vários one-shots, Takano realiza sua primeira história longa com a série “Yumemiru Taiyou”, publicada no Japão de 2008 a 2011 em 10 volumes.

Foi em 2012 que Takano Ichigo iniciou o mangá que se tornaria seu grande sucesso, “Orange. A obra foca em Naho Takamiya, uma jovem que está recebendo cartas de seu futuro eu, dando-lhe conselhos para que ela não se arrependa do que acontecerá quando mais velha. Apesar do sucesso, a série entrou em hiato a partir de dezembro do mesmo ano devido a problemas de saúde da mangaká e foi retomada em 2014 pela editora Futabahsa, culminando em seis volumes lançados até 2015. “Orange” vendeu mais de um milhão de cópias só no Japão e foi adaptado para live-action e anime.

Apesar de reservada, tanto que não é possível encontrar fotos da artista que ora se desenha como urso ora com cabeça de morango, Ichigo é bastante ativa em sua conta do Twitter e expõe as pressões sofridas por mangakás durante o processo de produção, com prazos apertados e muitas páginas para desenhar. A tira abaixo, publicada em agosto de 2019 no Twitter,  ilustra o desabafo:

Takano Ichigo

Takano Ichigo

Na conclusão, Ichigo reforça: “se um artista de mangá perder um capítulo, por favor, não fique chateado e registre uma queixa. Eles não falharam o prazo devido à preguiça. Eles não receberam nenhuma margem e estavam a desenhar o máximo que conseguiam. Capítulos incompletos não são publicados”. 

6) Paru Itagaki

mulheres mangakás: Paru Itagaki
Em 2020, o mangá de Paru Itagaki será distribuído mundialmente pela Netflix (Imagem: reprodução)

Paru Itagaki nasceu no dia 09 de setembro de 1993, na capital do Japão, Tóquio. A artista é conhecida pelo mangá “Beastars”, vencedor dos prêmios Manga Taishō, Tezuka Osamu Cultural Prize, Kodansha Manga Award e Japan Media Arts Festival Award, todos referentes a 2018. Paru começou a desenhar no jardim de infância e ainda na adolescência criou Legosi, o lobo antropomorfizado de “Beastars”.

O mangá, publicado na revista Weekly Shonen Champion em 2016, com 15 volumes até então, traz uma sociedade de animais antropomórficos carnívoros e herbívoros. Entre eles está Legosi, um lobo muito gentil apesar da aparência ameaçadora, que se vê acusado pelos herbívoros de assassinar um estudante da Academia Cherryton. A obra foi adaptada para anime e será exibida mundialmente pela Netflix em 2020, no Japão já é possível acompanhar as aventuras de Legosi na plataforma de streaming desde outubro de 2019.

Em suas aparições públicas, Paru parece uma personagem saída de “Beastars” ao utilizar uma máscara de galinha, mantendo o anonimato de seu rosto. Entre seus trabalhos estão as séries Beast Complex, Beastars, Paruno Graffiti e os one-shots, mangás de apenas um capítulo, White Beard and Boyne e Manga Noodles.

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 5) Kan Takahama

mulheres mangakás: Kan Takahama
Kan Takahama é referência do Nouvelle Manga (Imagem: reprodução)

Kan Takahama nasceu no dia 06 de abril de 1977 em Amakusa, Japão. Licenciada pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Tsukuba, Kan Takahama não se interessava muito por quadrinhos e nem ambicionava ser uma mangaká. Certo dia, uma de suas amigas envia uma história criada por Takahama à editora Kodansha, que pede mais material à artista para figurar na revista japonesa Weekly Morning. Kan Takahama ganha o prêmio de excelência Manga Open da publicação, o primeiro de sua carreira.

A partir de 2001, a mangaká começa a publicar histórias curtas na Garo, revista mensal japonesa especializada em mangás alternativos e avant-garde, e leva no mesmo ano o Grande Prêmio de Excelência da Garo por “Binari Sun”. A artista atingiu a internacionalização para Europa e Estados Unidos ao publicar “Yellowbacks” (Kinderbook nos EUA), coletânea das histórias feitas para a revista Garo. O título também foi premiado como melhor história curta pelo The Comics Journal (EUA) em 2004.

O estilo de Kan Takahama é associado ao Nouvelle Manga, movimento que combina elementos da Nouvelle Vague do cinema francês, com mangás que abordam narrativas sobre o cotidiano e aspectos dos quadrinhos franco-belgas. Dentro do estilo, Takahama cria em parceria com o artista Frédéric Boilet, um dos pioneiros do Nouvelle Manga, a obra “Mariko Parade”. Outros trabalhos de Kan Takahama são: L’Eau Amère, Le dernier envol du papillon (“O Último Voo das Borboletas, publicado no Brasil, em 2019, pela editora Pipoca e Nanquim),Tokyo, amour et libertés, La lanterne de Nyx, Sad Girl, 2 Expressos, Le Goût d’Emma. Em 2020 será publicada uma adaptação do romance “O Amante” da escritora francesa Marguerite Duras pelos traços de Takahama.

4) Ai Yazawa

mulheres mangakás: Ai Yazawa
NANA, de Ai Yazawa, é o josei/shoujo mais vendido do Japão (Imagem: reprodução)

Ai Yazawa nasceu no dia 07 de março de 1967, em Osaka, Japão. Conhecida por ser bastante reservada, a artista utiliza o pseudônimo da fusão de Ai (amor) com Yzawa (Eikichi Yazawa, cantor japonês de quem ela é fã) para assinar seus trabalhos. Antes de se tornar mangaká, chegou a frequentar a Academia de Moda de Osaka, uma das mais concorridas do país, mas abriu mão para se dedicar unicamente aos mangás.

Ai Yazawa começou a publicar profissionalmente em 1985, com o lançamento da one-shot shoujo, histórias de um capítulo voltadas para garotas adolescentes, “Ano Natsu” na revista Ribon Original. A artista foi contratada pela revista e seguiu lançando histórias curtas. Yazawa começou a chamar atenção com os quatro volumes de “Marine Blue no Kaze ni Dakarete”, lançados no início dos anos 1990. Ainda na década de 90, a mangaká lançou “Tenshi Nanka Ja Nai”, “Gokinjo Monogatari” e “Kagen no Tsuki”.

Porém, foi nos anos 2000 que Ai Yazawa alcançou fãs internacionalmente ao publicar seus primeiros joseis, estilo voltado para mulheres jovens-adultas, “Paradise Kiss”, primeiro josei a chegar no mercado brasileiro, e “NANA, o josei/shoujo mais vendido de todos os tempos no Japão, chegando a mais de 40 milhões de cópias. “NANA” foi publicado entre 2000 e 2009, mas por complicações de saúde da autora segue paralisado até hoje. Apesar da paralisação, a obra já ganhou jogo para Playstation 2, dois longas, anime com 47 episódios pelo estúdio Madhouse, e CD com a trilha sonora do filme. Ai Yazawa venceu com “NANA”, na categoria shoujo, um dos maiores concursos de mangá do Japão, o Shogakukan.

3) CLAMP

mulheres mangakás: CLAMP
CLAMP, dos mangás independentes a Cardcaptor Sakura (Imagem: reprodução)

O CLAMP surgiu em meados dos anos 1980 e começou pelas mãos de 11 mulheres mangakás. Inicialmente chamado de Clamp Cluster, o grupo era formado por estudantes que criavam dōjinshis (mangás independentes) inspirados nas histórias de “Capitão Tsubasa” e “Cavaleiros do Zodíaco”, mas com toque yaoi (mangás que contém relações homoafetivas entre garotos). A partir de 1989, já com sete integrantes, começaram a surgir os primeiros trabalhos originais do grupo, como “RG Veda”, baseado na mitologia hindu. Em 1993, outras três artistas deixaram o coletivo e desde então o CLAMP é formado por Mokona, Nanase Ohkawa, Satsuki Igarashi e Tsubaki Nekoi.

Mokona nasceu no dia 16 de junho de 1968 em Kyoto. Ela é a ilustradora principal do CLAMP e deu seu nome a uma personagem de Guerreiras Mágicas de Rayearth”, “Tsubasa Reservoir Chronicles” e “XXX Holic”. Já Nanase Ohkawa nasceu no dia 2 de maio de 1967 em Osaka e é a líder do grupo, sendo responsável pelo roteiro dos mangás e por algumas animações baseadas neles. A terceira integrante, Satsuki Igarashi, nasceu em 8 de fevereiro de 1969 em Kyoto. Entre suas funções estão a coordenação de produção e assistência no processo de ilustração, as artes dos mangás “Chobits” e “Tsubasa” são de sua autoria, seu nome também foi dado a uma das personagens de “X/1999″. Por último, Tsubaki Nekoi nasceu em 21 de janeiro de 1969 em Kyoto e é a arte-finalista do grupo, seu sobrenome é utilizado em uma das personagens de “X”.

Mesmo com o número reduzido de integrantes, o CLAMP mantém a variedade em seus trabalhos, indo do shōjo aos mangás mais adultos, passando ainda pela mitologia. A diversidade também está presente nas personagens LGBTQs, não-binárias e assexuadas. Entre os títulos mais famosos do grupo estão “Cardcaptor Sakura, “Guerreiras Mágicas de Rayearth”, “Chobits”, “Tsubasa Reservoir Chronicles” e “X/1999″.

2) Naoko Takeuchi

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Antes de criar Sailor Moon, Naoko Takeuchi cursou Química e trabalhou em um hospital (Imagem: reprodução)

Naoko Takeuchi nasceu no dia 15 de março de 1967, em Kofu, Japão. Antes de se tornar mangaká, Naoko formou-se em Química na Universidade de Farmácia de Kyoritsu e fez especialização em Ultrassonografia e Utilitários Médicos, tornando-se uma farmacêutica licenciada no Hospital da Universidade de Keio. Durante o ensino médio, a artista também mostrava grande interesse por astronomia e trabalhou como sacerdotisa no santuário de Shiba Daijingu, o que provavelmente refletiu de maneira direta em suas criações, como “Sailor Moon”.

Takeuchi publicou seu primeiro mangá, “Love Call”, ainda quando era estudante universitária e recebeu o Nakayoshi Shinjin Manga Award de melhor estreante em 1986. Após a universidade, ela trabalhou por seis meses no Hospital da Universidade de Keio, enquanto continuava a enviar trabalhos de mangá one-shot para publicação. O sucesso inicial a impulsionou e em 1991, aos 24 anos, ela criou “Codename: Sailor V” que serviu como protótipo para seu trabalho mais conhecido “Sailor Moon.

Os dois mangás duraram seis e cinco anos, respectivamente, e “Sailor Moon” rendeu a Takeuchi o Prêmio de Mangá Kodansha como melhor shōjo (mangá para garotas), em 1993. Embora “Sailor Moon” seja sua série de maior sucesso, Takeuchi também trabalhou como colorista, autora de livros infantis, além de escrever outras séries de mangá como “The Cherry Project”, “Prism Time”, “PQ Angels”, “Princess Takeuchi Naoko’s Return-to-Society Punch!!” e “Toki☆Meca!”.

Além dos mangás, a artista também mostrou interesse por animes e trabalhou em estreita colaboração com a Toei Animation na popular série de TV “Pretty Guardian Sailor Moon, de 2003, escrevendo a letra de muitas das músicas. Em 2020 um longa especial de 25 anos, “Sailor Moon Eternal”, chegará ao Japão no dia 11 de setembro. “Bishoujo Senshi Sailor Moon Eternal”, será dividido em duas partes que contarão a história do arco Dead Moon, trama que dá seguimento à terceira temporada do anime, exibida em 2016. O novo trabalho conta com supervisão direta da própria Naoko Takeuchi.

1) Hiromu Arakawa

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Fullmetal Alchemist, shonen criado por Hiromu Arakawa (Imagem: reprodução)

Hiromu Arakawa nasceu no dia 8 de maio de 1973, em Hokkaido, Japão. Durante a infância e parte da adolescência, Arakawa trabalhava em uma fazenda produtora de laticínios com a família, mas quando chegava o momento de descansar a leitura de mangás era seu passatempo favorito. Ao final dos anos 1990, mudou-se para Tóquio e passou a criar mangás independentes, os dōjinshis, com suas amigas e passou a colaborar em uma revista. Seu trabalho começou a chamar a atenção de outros mangakás e ela se tornou assistente de Etō Hiroyuki no mangá “Mahōjin Guru Guru”.

O primeiro mangá original da carreira de Hiromu Arakawa foi “Stray Dog”, publicado pela revista Enix em 1999 e vencedor do 9° Prêmio Enix Século XXI. Em seguida, lançou “Totsugeki Tonari no Enikkusu” (2000) e “Shanghai Youma Kikai” (2000-2006). Porém, foi em 2001 que a mangaká começou a obra que lhe tornaria conhecida mundialmente: “Fullmetal Alchemist”. A história dos irmãos Edward e Alphonse Elric que desafiaram a lei básica da alquimia foi adaptada para dois animes de finais diferentes, live-action distribuído pela Netflix, diversos jogos para PC e consoles, além de faturar o 49º Prêmio Shogakukan de Mangá na categoria shōnen.

Durante a produção do mangá “Fullmetal Alchemist”, finalizada em 2010, Hiromu Arakawa trabalhava em outros títulos, como “Raiden 18″ (2005), “Souten no Komori” (2006), “Juushin Enbu” (2006-2010) e “Gin no Saji” (2011-em publicação), vencedora do prêmio Manga Taishō em 2012. Reservada em suas aparições, a mangaká utiliza o desenho de uma vaquinha de óculos, remetendo aos animais que cuidava na fazenda, para substituir fotografias e inserções suas nos mangás.

Fontes:
  • DEMARCHI, Helena. Mangakás: mulheres envolvidas na indústria de mangás. Chimichangas, outubro de 2019. Disponível em: <https://www.chimichangas.com.br/manga/mangakas-mulheres-envolvidas-na-industria-de-mangas>.
  • GAVA, Priscila Gerolde. Sentimento e ação: os elementos visuais característicos do mangá shōjo em Angel Sanctuary e sua aproximação com o mangá shōnen. IV Encontro de Pós-Graduandos em Estudos Japoneses, p. 79-89, Universidade de São Paulo, 2018. Disponível em: <https://sites.usp.br/ppgllcj/wp-content/uploads/sites/219/2019/07/IV-Encontro-de-P%C3%B3s-Graduandos-em-Estudos-Japoneses_final_capa_contracapa_07.06.pdf#page=77>.
  • KOSAKA, Kris. Naoko Takeuchi: ‘Sailor Moon’s’ strong-willed guardian of girls manga. The Japan Times, outubro de 2019. Disponível em: <https://www.japantimes.co.jp/culture/2019/10/19/books/naoko-takeuchi-sailor-moons-strong-willed-guardian-girls-manga/#.Xhtbt8hKjIU>.
  • SILVA, Valéria Fernandes da. Elas fazem mangá: discutindo a importância das mulheres quadrinistas no mercado japonês. Anais Eletrônicos das 3as Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos. Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, 2015. Disponível em: <http://www2.eca.usp.br/jornadas/anais/3asjornadas/artigo_080620152228412.pdf>.
  • WINTERSTEIN, Cláudia Pedro. Mangás e animes: sociabilidade entre cosplayers e otakus. Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de São Carlos, 2009. Disponível em: <https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/193/2879.pdf?sequence=1&isAllowed=y>.
  • WRIGHT, Usagi. Ichigo Takano explica a vida difícil de um artista de mangá. PT Anime, agosto de 2019. Disponível em: <https://ptanime.com/ichigo-takano-explica-a-vida-dificil-de-um-artista-de-manga>.
  • YAMAMOTO, Kensho. Manga artist, Machiko Satonaka, speaks of the things she cherishes about Japan. Manabi JAPAN, abril de 2019. Disponível em: <https://manabi-japan.jp/en/special-interview/20190423_11234>.

Edição e revisão por Isabelle Simões.

Escrito por:

Rafaella Rodinistzky é graduada em Comunicação Social (Jornalismo) pela PUC Minas e atualmente cursa Edição na Faculdade de Letras da UFMG. Participou do "Zine XXX", contribuiu com a "Revista Farpa" e foi assistente de produção da "Faísca - Mercado Gráfico". Você tem um momento para ouvir a palavra dos fanzines?
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