Carole e Tuesday: a união feminina no cenário da música pop

Carole e Tuesday: a união feminina no cenário da música pop

Quem não gostaria de virar uma estrela da música pop? Cantar para milhares de pessoas, ser adorado por fãs ao redor do mundo e paparicado por agentes e empresários? Mas assim como é com qualquer sonho ambicioso, a ideia é mais atraente do que arregaçar as mangas e colocá-lo em prática. A verdade é que correr atrás de seus sonhos não é fácil. E é sobre isso que tratam os primeiros doze episódios de “Carole e Tuesday“, novo anime de Shinichiro Watanabe, disponível na Netflix.

Carole and Tuesday - anime de Shinichiro Watanabe - Netflix
Elenco de “Carole e Tuesday” (Imagem: reprodução)

Com direção de Motonobu Hori, a premissa de toda a trama já é posta à prova na primeira cena, na qual somos introduzidas a Tuesday (Kana Ichinose), jovem aparentemente rica e privilegiada, que abandona uma mansão – com visual de casa antiga do século XIX – para seguir sua carreira como música. Ela deixa tudo para trás com nada além de seu violão Gibson e uma mala robotizada rosa, que aparentemente demonstra indícios de uma inteligência artificial pacata (?). Mas pouco importa isso, por enquanto. Afinal, o drama apresentado é tão universal, que ainda permanece coerente e crível mesmo num cenário levemente futurista e interplanetário.

Futuro próximo

Não demora muito até que esse panorama meio sci-fi, meio teen drama, fique bem contextualizado. Enquanto os dramas e sonhos são bem terrestres, a história toda se passa, na verdade, em Marte, num futuro que não parece tão distante assim. Mesmo com robôs e serviços automatizados, as pessoas ainda precisam trabalhar para se sustentar e a vida continua não sendo fácil para que não desce rolando pela ladeira do privilégio. Quem sabe bem disso é Carole (Miyuri Shimabukuro), que se vira no tempo entre um trabalho e outro para se dedicar à sua música. Até chorar em velório alheio ela já fez em troca de dinheiro. Ela é quem acolhe Tuesday, recém-chegada na cidade grande, e as duas iniciam a parceria musical que intitula o anime. 

Carole e Tuesday - anime de Shinichiro Watanabe - Netflix
Tuesday (esquerda) e Carole (direita). Imagem: divulgação

Ao contrário de suas histórias anteriores, Shinichiro Watanabe não traz em “Carole e Tuesday” grandes cenas de ação. Ao invés das explosões e lutas, o enfoque é nas apresentações da dupla e das outras atrações musicais que esbarram no caminho das jovens rumo ao estrelato – que muitas vezes roubam a cena. Como é o caso da performance do trio de drag queens Irmãs-Sereias.

A estética continua belíssima e bem adaptada neste slice of life de Watanabe. Os cenários de Marte do futuro ilustram com delicadeza a atmosfera futurista. Enquanto o traço dos personagens é elegante, os ambientes internos são ricos em detalhes, que imprimem um realismo ao mundo apresentado. 

Uma menção especial deve ser feita à caracterização de Carole, uma das poucas protagonistas negras no universo dos animes. Em um meio em que a diversidade étnica é retratada de maneira exagerada, ou então, totalmente esquecida, é preciso enaltecer a estética realista e natural com que ela é retratada.

Carole e Tuesday - anime Netflix
Cena de “Carole e Tuesday” (Imagem: reprodução)
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Como música para os ouvidos…

Além disso, outro grande mérito desse anime é sua trilha sonora. Se seu amor pela música já era perceptível em seus trabalhos anteriores, em “Carole e Tuesday” é definitivamente quando Watanabe o realiza por completo. Além das inúmeras referências ao mundo da música pop em todos os episódios (todos mesmo!), a começar pelos nomes deles – com grandes hits ocidentais –, a trilha sonora é um dos pontos altos. Entre os músicos que ajudaram a montar essa trilha, estão Flying Lotus, Thundercat, Alison Wonderland e Taku Takahashi. E sim, a trilha sonora está disponível online! Yay!

No entanto, não é só de estética e trilha sonora que se sustenta uma história por 12 episódios. O drama das protagonistas, embora envolvente e universal – como já citado no início – não é a única temática que compõe a narrativa da dupla de cantoras. Aos poucos, os personagens coadjuvantes vão tomando destaque, como o agente Gus Goldman (Akio Ôtsuka), e dramas paralelos, como o da ex-modelo-mirim Angela (Sumire Uesaka), que deseja transicionar sua carreira para a de popstar, ganham proporções maiores e tão interessantes quanto a jornada da dupla principal. 

novo anime de Shinichiro Watanabe
Cena de “Carole e Tuesday” (Imagem: reprodução)

Ao final desta primeira metade de “Carole e Tuesday“, somos introduzidas a uma série de histórias e personagens com grande potencial. Os doze primeiros episódios, além de introduzir de maneira bastante satisfatória os personagens, assim como o mundo futurista em que vivem, também oferece um arco narrativo redondo e competente, de um modo geral. Mas ainda assim, fica um gostinho de quero mais. 

No dia 24 de dezembro deste ano, os doze episódios finais estarão disponíveis no Brasil. E sim, vale a pena continuar e conferir!


Edição realizada por Isabelle Simões.

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Criança que queria ser bailarina, depois foi querer virar oceanógrafa, que depois sonhou em ser fotógrafa da National Geografic, para depois querer ser escritora. Acabou virando jornalista (no diploma) e professora (na carteira de trabalho – RIP). Adulta, só daqui uns anos.
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