Sky – Children of the Light: combatendo a escuridão através da união

Sky – Children of the Light: combatendo a escuridão através da união

Em 2012, uma pequena desenvolvedora independente de games chamava a atenção da indústria com o lançamento de um jogo sem diálogos, de controles simples e que contrastava com todos os lançamentos daquela época. Esse jogo, “Journey“, foi um marco na indústria de games e reacendeu as discussões de se jogos poderiam ser considerados obras de arte. “Flower, lançado pela mesma empresa, faz parte da coleção permanente do Smithsonian American Art Museum desde 2013. Recentemente, a thatgamecompany, desenvolvedora de “Journey” e “Flower”, deu um passo para além dos consoles de mesa, ao lançar “Sky – Children of the Light” exclusivamente para mobile.

Nesta nova aventura social (social adventure game), como a companhia gosta de chamar seus jogos, encontramos um novo mundo, repleto de carisma e que tem algo diferente a oferecer.

Sky: uma proposta diferente

Por trás de dezenas de prêmios que “Journey” arrematou, havia duas pessoas interessadas em criar jogos que despertam sentimentos, reimaginando possibilidades interativas que essa mídia poderia oferecer. Jenova Chen e Kellee Santiago fundaram a thatgamecompany (2006) com o ideal de criar jogos que evocassem sentimentos, utilizando-se de interações positivas e não violentas.

Ambos acreditavam em criar games que fizessem os jogadores sentirem emoções além da adrenalina. A essência dos jogos da thatgamecompany está na experiência cooperativa, onde os jogadores precisam trabalhar juntos, mas sem se utilizar meios tradicionais de comunicação, como conversas de áudio ou texto. E é com essa mesma essência que “Sky: Children of the Light”, consegue repetir as emoções que sentimos ao jogar seus antecessores.

Da esquerda para direita: Jenova Chen (criador e diretor), Kellee Santiago (presidente), Robin Hunicke (produtora executiva) após premiação de "Journey" no DICE Video Game Awards
Da esquerda para direita: Jenova Chen (criador e diretor), Kellee Santiago (presidente), Robin Hunicke (produtora executiva) após premiação de “Journey” no DICE Video Game Awards (2013) (Fonte: ABC News)

Sky – Children of the Light

Em Sky, o jogador é um criatura (uma criança da luz, ou “child of the light”, no original) que deve reunir os espíritos das estrelas que se perderam no mundo. A execução dessa premissa se dá com um modo história. Nele, deve-se explorar 7 ambientes diferentes, resolvendo puzzles para avançar na aventura, ou no acesso livre a algumas áreas – onde pode-se simplesmente relaxar voando pelo ambiente. Em cada ambiente, o jogador deve encontrar os espíritos perdidos, retornando-os ao céu para restaurar a constelação daquela área.

Cena de Children of the Light
Cena de Sky, no hub principal do jogo (Fonte: divulgação)

Em termos de mecânicas, Sky é o jogo com mais “cara de jogo” já criado pela thatgamecompany. Enquanto “Journey”, “Flower” e “Flow” tinham mecânicas e narrativas mais experimentais, inclusive ausência de menus, Sky reproduz elementos já conhecidas de jogos de multiplayer cooperativo.

Entre elas, há a customização de seu personagem, com opções de capas, máscaras, cabelos e outros atributos físicos, e um hub que centraliza essas opções e onde os jogadores podem se encontrar. Ações como acenar, bocejar, agradecer, bater palmas, etc, são adquiridas ao encontrar os espíritos perdidos. Sky investe também no modelo atual de jogos de celular e de jogos online onde há temporadas com itens especiais. Até aqui, nada novo, de fato.

Sky - Children of the Light
Cena de Sky, mostrando os menus do jogo (Fonte: AppUnwrapper)

As novidades e surpresas de Sky estão nas pequenas descobertas de interatividade com outros jogadores, de como fazê-lo e do que é possível fazer a partir daí. Tudo isso sempre evocando um espírito colaborativo e altruísta entre os jogadores. Além disso, possui um design belíssimo de mundo e de personagens.

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Sky - Children of the Light (review)
Uma simples vela é a ferramenta de interação entre jogadores e o cenário (Fonte: divulgação)

Por exemplo, a principal ferramenta do jogador é uma vela. É com ela que você interage com o cenário, acendendo outras velas para ganhar luz. Dessa forma, lhe é permitido abrir portas e interagir com outros jogadores. Aliás, manter sua luz também é vital para que o jogador mantenha sua habilidade de voar – se sua chama está apagada, não há muito o que você possa fazer até encontrar uma vela ou outro jogador. É com a luz que o jogador destrói criaturas da escuridão e outros elementos que atrapalham seu progresso.

Cooperação entre jogadores

Dito isso, é possível terminar o jogo sozinho, mas Sky foi intencionalmente desenvolvido para favorecer a cooperação entre jogadores. Estar próximo de um outro jogador também recarrega a sua chama – o poder que acende sua capa e lhe permite voar mais alto, e áreas opcionais só abrem com a ajuda de outro jogador. Além disso, Sky incentiva a interação repetida com o mesmo jogador, fazendo com que novos tipos de interações sejam possíveis a cada contato. Para organizar esses contatos todos, ao contrário de “Journey”, dessa vez a interação com outros jogadores não é anônima e é possível dar apelidos aos companheiros que você encontra pelo mundo de Sky.

Monstros e escuridão são as ameaças de alguns ambientes em Sky
Monstros e escuridão são as ameaças de alguns ambientes em Sky (Fonte: divulgação)

Sky possui áreas bem diferentes umas das outras, com a intenção de evocar sentimentos distintos no jogador, a cada área explorada. Parece algo muito abstrato de se descrever. Porém, para quem já jogou “Journey”, é o mesmo sentimento de alegria ao descer dunas ao pôr-do-sol, do medo das criaturas da montanha e da desesperança de andar pela nevasca.

O destaque de Sky está em interações simplórias – um contato com um jogador e uma vela de presente que lhe dará pontos para trocar por itens. Desta forma é incentivada a cooperação entre jogadores e não a competitividade. Sendo assim, essa cooperação traz opções muito divertidas, como a de adquirir um instrumento musical e tocar junto com outro jogador.

Deixar-se guiar por outro jogador é uma das surpresas mais agradáveis de Sky (Fonte: arquivo pessoal)

A sensibilidade dessas interações leva a situações inesperadas, como a opção de dar a mão para outro jogador, um total estranho, e se deixar ser guiado por ele. E depois, noutra oportunidade, de ser você a guiar um outro jogador. É nessas pequenas interações altruístas que reside o carisma de Sky.

Controles tempestuosos

É compreensível a escolha da plataforma mobile para Sky, devido à toda a sua premissa de aventura social. Dessa forma, o jogo chegará a pessoas que estão fora do nicho dos consoles de mesa. Porém, o principal problema de Sky são os controles. A aposta ousada de levar um jogo como este para mobile tem como consequência a baixa responsividade dos controles de tela e o desconforto de jogar neste modo por muito tempo.

Os maiores desafios de Sky são… os controles (Fonte: arquivo pessoal)

Além disso, uma vez que o celular não é um hardware exclusivamente dedicado a games, há diversos contratempos: o aparelho aquece; os controles falham; a conexão fica lenta e o jogo dá umas engasgadas; notificações de outros aplicativos sobrepõem a tela do jogo. E, às vezes, todos esses elementos juntos tornam a experiência de Sky um pouco menos serena.

Para quem possui um aparelho com iOS13, é possível agora conectar controles the Xbox e de PS4 ao iPhone. Dessa forma, a experiência de jogar Sky é muito mais confortável.


Edição e revisão por Isabelle Simões.

Escrito por:

Bióloga, doutora em Imunologia. Entre um paper e outro, investe seu tempo em games, livros e filmes. Fã de Neil Gaiman, Legend of Zelda, filmes do Studio Ghibli e recomenda podcasts sem ser perguntada.
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