A Guerra das Rosas foi um conflito que aconteceu na Inglaterra de 1455 a 1485, entre duas casas reais, os York e os Lancaster. Depois de George Martin ter admitido a influência dessa guerra em “As Crônicas de Gelo e Fogo”, vários romances sobre o assunto surgiram aqui no Brasil, os mais famosos talvez sejam “Pássaros da Tempestade” – o primeiro de uma trilogia escrita por Conn Iggulden – e “Kingmaker – Uma Jornada no Inverno”, de Toby Clements – que também é parte de uma série. Mas o conflito sempre foi narrado pelo ponto de vista dos homens, ignorando a importância das mulheres que movimentaram os bastidores da guerra por muito tempo e é esse o destaque para a série “A Guerra dos Primos”, da renomada escritora Phillippa Gregory.
A série toda é baseada no olhar das mulheres como importantes peças para o resultado da trama política. Ela selecionou figuras chave da época como suas protagonistas, da rainha exilada Margaret D’Anjou à plebeia que subiu ao trono. São todas mulheres plurais e extraordinárias que vale a pena conhecer.
Em “A Rainha Branca” conhecemos Elizabeth Woodville, uma mulher de baixa nobreza que ficou viúva de um cavaleiro que lutava pelos Lancaster na guerra civil e por isso corre o risco de ter suas terras e sua renda confiscadas pelo novo rei, o jovem Eduardo IV da casa dos York. Determinada a não deixar que isso aconteça, ela vai atrás de Eduardo para obter o perdão real. Impressionado com a coragem e obstinação de Elizabeth, Eduardo acaba se apaixonando e como ela não aceita a posição de amante, eles acabam se casando em segredo e colocando por terra os planos de uma aliança com uma potência europeia. Naquela época casamentos eram contratos políticos e não tinham nada a ver com amor.
Sem nascimento nobre e portanto sem proteção na corte, Elizabeth se vê cercada de inimigos poderosos, como o Conde de Warrick, o fazedor de reis, principal aliado de Eduardo que se vê humilhado pela influência da nova rainha nos planos do governo; Margaret Beaufort a sobrinha de Henrique VI, o rei deposto, que fará de tudo para colocar o próprio filho, Henrique Tudor no trono da Inglaterra; os próprios irmãos do rei que buscam para si a glória e o reconhecimento; e a sombra sempre presente de Margaret D’Anjou, que busca auxílio na França para reconquistar sua posição como rainha da casa de Lancaster.
Sendo assim, a nova rainha precisa aprender a fazer alianças e a tramar o próprio jogo de influências para manter sua posição e proteger seus filhos e filhas, contando com sua astúcia e com as artimanhas da mãe, Jacqueta, a quem todos chamam de bruxa.
O livro é muito bem escrito e o período é reconstituído de forga fidedigna, embora a autora tome liberdades poéticas em nome do desenvolvimento da história, mas nada que prejudique a leitura até para os mais puritanos.
Elizabeth Woodville é uma personagem muito interessante que curiosamente (ou não) foi deixada de lado pelos historiadores do período, que em sua maioria eram homens e apenas recentemente, estudos a respeito da participação das mulheres na sociedade medieval começaram a aparecer, tanto sobre as camponesas quanto sobre as nobres (Muitas rainhas sequer foram nomeadas nos tratados genealógicos das famílias nobres da Europa, imagine as camponesas).
A título de curiosidade, coloco aqui os nomes dos outros livros da série em ordem cronológica da história e não de publicação: “A Senhora das Águas”, que conta a história de Jacqueta de Luxemburgo, a mãe de Elizabeth; “A Rainha Vermelha”, sobre Margaret Beaufort, mãe de Henrique Tudor; “A Filha do Fazedor de Reis”, sobre Anne Neville, filha do conde de Warwick; e “A Princesa Branca”, sobre Elizabeth de York, primogênita do rei Eduardo IV e Elizabeth Woodville. Há também um livro de transição entre essa série e a outra que Gregory escreveu sobre os Tudor, que chama-se “A Maldição do Rei” e finaliza a história de Elizabeth de York e sua família.
Não posso deixar de mencionar a série “The White Queen” feita pela BBC, que adapta a história em dez episódios com uma produção impecável e roteiros assinados por Emma Frost (não é a dos X-Men), Nicole Taylor e Lisa McGee. A atriz Rebecca Ferguson encarna Elizabeth Woodville com maestria, assim como todo o elenco feminino que é destaque na série. Vale muito a pena assistir e conhecer uma versão diferente da guerra e da corte medieval. Segue o link do teaser pra vocês sacarem o clima da série:
A Rainha Branca
Phillippa Gregory
Editora Record
434 páginas