A prática da poligamia é proibida por Lei em Israel, assim como no Brasil. Porém, essa é uma forma de organização social costumeira em algumas tribos beduínas do sudeste desértico daquele país. O longa-metragem de estreia da israelita Elite Zexer nos conduz para dentro de uma dessas tribos, lugar onde por cerca de 10 anos a diretora conviveu acompanhando sua mãe no trabalho de fotógrafa.
Partindo de histórias contadas pelas moradoras locais, Zexer escreve um roteiro triste, mas esperançoso. Utilizando um filtro arenoso que mostra um cotidiano enevoado em que as mulheres têm pouco ou nenhum direito, em um mundo onde a rua pertence unicamente aos homens, somos apresentadas a uma família formada pela mãe, suas 4 filhas e o marido que está prestes a se casar com sua segunda esposa.
O casamento com a segunda esposa, cerimônia da qual os homens não fazem parte e as mulheres usam inclusive bigodes para representá-los, ocorre no quintal da casa de Jalila, que ao mesmo tempo em que precisa ciceronear a nova esposa de seu marido, descobre que a filha mais velha, Layla, está se encontrando as escondidas com um rapaz. A partir desses dois fatos, o filme se desenvolve todo da perspectiva dessas mulheres, que através de embates angustiantes precisam encontrar uma forma dentro da sororidade para não sucumbir diante de suas expectativas sociais e subjetivas.
Vencedor do prêmio de melhor filme estrangeiro no Festival de Sundance, o grande mérito do filme de Elite Zexer é justamente não fornecer respostas fáceis e não trabalhar com explicações expositivas da cultura local em que se passa a trama. Destaque para a personagem da irmã mais nova, questionadora, e que desde pequena se demonstra subversiva e não encaixada numa configuração que pretende apagar as mulheres de qualquer subjetividade que seja desatrelada a dos homens.