[NOTÍCIA] Women’s March: cultura pop como resistência e o discurso de Angela Davis

[NOTÍCIA] Women’s March: cultura pop como resistência e o discurso de Angela Davis

O Women’s March (Marcha das Mulheres) foi um evento que aconteceu durante o dia 21 em diversas cidades dos Estados Unidos e reuniu inúmeras mulheres em prol dos direitos reprodutivos e sexuais das mulheres, ameaçados pelo atual governo do Presidente americano Donald Trump, bem como em defesa do Planned Parenthood – organização americana sem fins lucrativos que assegura os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. Através do Planned Parenthood é possível que as mulheres americanas decidam livremente sobre a escolha da realização da interrupção da gravidez, por exemplo. Além disso, o Women’s March recebeu o apoio e ocorreu em diversos locais da Europa, México e Coreia. 

O site Collant Sem Decote reuniu em sua página do Facebook diversas fotos que leitoras enviaram com intuito de mostrar como a cultura pop pode ter um papel importante para expressar resistência em tempos ameaçadores aos direitos das mulheres. Diversas mulheres famosas participaram da marcha, como atrizes, cantoras, diretoras, e algumas, inclusive, realizaram discursos marcantes, como Angela Davis e Gloria Steinem.

Segue abaixo algumas fotos do Women’s March tiradas em diversos locais (créditos ao álbum do Collant Sem Decote).

Angela Davis no Women’s March

Um dos discursos mais marcantes e poderosos do Women’s March foi realizado por ninguém menos que Angela Davis – filósofa socialista estadounidense, escritora, professora e feminista negra. Angela também foi integrante do Partido Comunista dos Estados Unidos durante a década de 70 e membro dos Panteras Negras. É uma das militantes mais importantes do feminismo interseccional, sempre lutando pelos direitos das mulheres e o combate da discriminação racial e social nos Estados Unidos, bem como ativista pela luta anticapitalista. Recentemente, seu livro “Mulheres, Classe e Raça” foi lançado no Brasil pela editora Boitempo, considerado um clássico sobre a interseccionalidade de gênero, raça e classe.

Confira o vídeo do discurso de Angela Davis no Women’s March em Washington (21/01/2017):

Tradução do discurso feito por Juliana Borges:

“Em um momento histórico desafiador, vamos nos lembrar que nós somos centenas de Women’s March On Washington milhares, milhões de mulheres, transgêneros, homens e jovens que estão aqui na Marcha das Mulheres. Nós representamos forças poderosas de mudança que estão determinadas a impedir as culturas moribundas do racismo e do hetero-patriarcado de levantar-se novamente.

Nós reconhecemos que somos agentes coletivos da história e que a história não pode ser apagada como páginas da Internet. Sabemos que esta tarde nos reunimos em terras indígenas e seguimos a liderança dos povos originários que, apesar da massiva violência genocida, nunca renunciaram a luta pela terra, pela água, pela cultura e pelo seu povo. Nós saudamos hoje, especialmente, o Standing Rock Sioux.

A luta por liberdade dos negros, que moldaram a natureza deste país, não pode ser apagada com a varredela de uma mão. Nós não podemos esquecer que vidas negras importam. Este é um país ancorado na escravidão e no colonialismo, o que significa, para o bem ou para o mal, a real história de imigração e escravização. Espalhar a xenofobia, lançar acusações de assassinato e estupro e construir um muro não apagarão a história.
Nenhum ser humano é ilegal!

A luta para salvar o planeta, interromper as mudanças climáticas, para garantir acesso a água das terras do Standing Rock Sioux, à Flint, Michigan, a Cisjordânia e Gaza. A luta para salvar nossa flora e fauna, para salvar o ar – este é o ponto zero da luta por justiça social.

Esta é uma Marcha das Mulheres e ela representa a promessa de um feminismo contra o pernicioso poder da violência do Estado. E um feminismo inclusivo e interseccional que convoca todos nós a resistência contra o racismo, a islamofobia, ao anti-semitismo, a misoginia e a exploração capitalista.

Sim, nós saudamos o ‘Fight for 15’. Dedicamos nós mesmas para a resistência coletiva. Resistência aos bilionários exploradores hipotecários e gentrificadores. Resistência a privatização do sistema de Saúde. Resistência aos ataques contra muçulmanos e imigrantes. Resistência aos ataques contra as pessoas com deficiência. Resistência a violência do Estado perpetrada pela polícia e através da indústria do complexo prisional. Resistência a violência de gênero institucional e doméstica, especialmente contra mulheres trans negras.

Direitos das mulheres são direitos humanos em todo o planeta. E é por isso que nós dizemos ‘Liberdade e Justiça para a Palestina!’. Nós celebramos a iminente libertação de Chelsea Manning e Oscar Lopez Rivera. Mas também dizemos ‘Liberdade para Leonard Peltier! Liberdade para Mumia Abu-Jamal! Liberdade para Assata Shakur!’Nos próximos meses e anos nós estamos convocadas a intensificar nossas demandas por justiça social e nos tornarmos mais militantes em nossa defesa das populações vulneráveis. Aqueles que ainda defendem a supremacia masculina branca e hetero-patriarcal devem ter cuidado!

Os próximos 1459 dias da gestão Trump serão 1459 dias de resistência: Resistência nas ruas, nas escolas, no trabalho, resistência em nossa arte e em nossa música. Este é só o começo. E termino nas palavras da inimitável Ella Baker: ‘Nós que acreditamos na Liberdade não podemos descansar até que ela seja alcançada!’ Obrigada.”

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Fundadora e editora do Delirium Nerd. Apaixonada por gatos, cinema do oriente médio, quadrinhos e animações japonesas.
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