The Marvelous Mrs. Maisel: a comédia feminista que você precisa conhecer!

The Marvelous Mrs. Maisel: a comédia feminista que você precisa conhecer!

No dia 29 de novembro estreou na Amazon Prime Video o novo trabalho da criadora de “Gilmore Girls, chamado The Marvelous Mrs. Maisel. Uma ideia original de Amy Sherman-Palladino, co-produzida com seu marido Daniel Palladino, com a atriz Rachel Brosnahan, de “House of Cards”, no papel de Miriam “Midge” Maisel, uma jovem esposa que vive no Upper West Side novaiorquino no fim dos anos 50.

Logo no piloto da série percebemos que ela não é recatada ou quieta. Verborrágica como toda personagem de Amy, Miriam foi capaz de discursar no próprio casamento cuja a decoração é um easter egg para os fãs de “Gilmore Girls”. O tema do casamento de Mrs. Maisel é o inverno russo, com muitas flores brancas e neve artificial na decoração. Exatamente como Emily sonhava que fosse a festa de sua filha Lorelai.

Quatro anos depois desse prólogo, Miriam Maisel é uma dona de casa com dois filhos que está ajudando o marido a fazer carreira no stand up comedy. Acontece que o marido é ruim. Mas ela não está preocupada com isso. Sua meta é zelar pela harmonia do lar. Ficou chocada? Nós também. Nossa protagonista aceita todos os dogmas da época. Foi para faculdade apenas para arrumar um marido. Seu pai (Tony Shalhoub, de Monk), ainda tentou que ela cursasse uma coisa prática, mas Miriam se formou em literatura Russa.

Aprendeu com a mãe neurótica a fazer tudo para ser perfeita ou pelo menos parecer ser. Ela espera o marido ir dormir para tirar a maquiagem e acorda mais cedo que ele para se arrumar. Garantindo que o marido só a veja linda. Faz ginástica e controla suas medidas o tempo todo. Se esforça para ser maravilhosa e sua maior preocupação é o tamanho da testa de sua filha de menos de um ano. Mas é otimista e sabe que a menina pode resolver esse problema no futuro com uma franja.

The Marvelous Mrs. Maisel
Miriam Maisel em cena de “The Marvelous Mrs. Maisel”. (Imagem: reprodução)

The Marvelous Mrs Maisel é sobre uma mulher totalmente adaptada a seu tempo que diante de uma adversidade descobre uma vocação e vai lutar por ela. Sua transformação acontece de forma gradual e sutil. Mais que isso não dá para falar sem dar spoilers e a partir daqui entregamos um pouco da trama do piloto.

Depois de uma noite fracassada no clube Gaslight, onde conseguiu um lugar para se apresentar graças ao pirex de carne assada que sua mulher usou para subornar o gerente do lugar, Joel, o marido de Miriam, faz a mala, conta que tem uma amante e resolve ir embora de casa. Antes de ir culpa a esposa pelo seu fracasso, pois ela havia sugerido uma piada que não funcionou. Porque ele não soube contar, como bem lembra Midge. Ele vai embora, olha só que legal, porque seu ego não aguenta ficar do lado de quem testemunhou seu fracasso. Está permitido odiar esse ser.

Ao perceber que passar privações de sono e fome durante anos para estar sempre bela, não foram capazes de impedir que seu marido se interessasse por outra mulher, sendo a pessoa bastante razoável que é, Miriam toma um porre de vinho kosher, veste um casaco por cima da camisola e segue para o Greenwich Village, onde totalmente embriagada sobe no palco e brilha na melhor cena do piloto. Um stand up do bom, desbocado e sarcástico. Se você via Seinfeld, esqueça daquela parte sem graça que a gente ficava esperando passar.  Aqui o troço funciona, o texto é um primor. Miriam chama atenção de Susie, que trabalha no bar e sonha em ser agente.

The Marvelous Mrs. Maisel
Miriam Maisel e Susie (Alex Borstein) em cena de “The Marvelous Mrs. Maisel”. (Imagem: reprodução)

Ela é vivida por Alex Borstein, a primeira Sookie. Fãs de “Gilmore Girls” já devem ter visto o extra do DVD com as cenas do piloto sem Melissa McCarthy, com Borstein como Sookie St James. A partir daí a personagem tem sua grande virada e decide se tornar uma comediante profissional.

Acompanhamos Miriam e sua agente tentando conseguir espaço num meio dominado por homens. Ao mesmo tempo em que sofre as consequências sociais da sua separação. Tudo isso com muito chame e uma reconstrução de época encantadora que lembra o filme romântico “If a Man Answers, de 1962, que tinha Sandra Dee no papel de uma jovem socialite recém-casada que segue conselhos da mãe para manter o marido domesticado.

Outro acerto da série é a forma fantasiosa como Nova Iorque é retratada. Stars Hollow já tinha um tom nostálgico de fantasia, assim como a cidadezinha da outra série de Amy, “Bunheads“. As cidades interioranas de Sherman são banhadas por uma ingenuidade típica dos fifties. Dessa vez a autora traz esse universo para a cidade grande. A Nova Iorque de Mrs. Maisel lembra muito uma cidadezinha do interior onde todos são vizinhos e amigos. Apesar de cativante, a série sofre uma queda de ritmo a partir do sexto episódio, quando se torna um pouco cansativa e não sustenta mais a qualidade do piloto.

Porém o grande trunfo do trabalho de Amy Sherman-Palladino é a forma como ela cria personagens espirituosos que adoramos acompanhar as aventuras sem ligar muito para as situações desenvolvidas. Por isso vale a pena ver investir seu tempo em The Marvelous Mrs. Maisel. A série já tem mais duas temporadas confirmadas!

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Candida Sastre é roteirista de humor e pesquisadora. Escreve artigo e entende dos paranauê acadêmico. Suas inspirações na crítica são Clement Greenberg (amém), Arthur Danto e a rainha Aracy de Almeida. Carioca, mother of cats, diferentona, tinha um blog chamado Sylvia. Faz parte do Gloria Steinem Futebol Clube. Escreve humor porque tem facilidade, mas queria mesmo ser o Daniel MacIvor.
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