CRÍTICA | The Handmaid’s Tale – 2×11: Holly

CRÍTICA | The Handmaid’s Tale – 2×11: Holly

Já na reta final da segunda temporada, o episódio anterior de The Handmaid’s Tale impactou e trouxe mais uma carga de incertezas. The Last Ceremony foi intenso e pesado. Mesmo diante do conhecimento da realidade brutal de Gilead, foi um episódio que ultrapassou o que se esperava. Ao mesmo em que foi violento, porém, apresentou sensibilidade através de um importante reencontro. E finalizou com uma mulher sozinha. Uma possibilidade à sua frente, mas também muitos entraves a ela.

>> Leia aqui as resenhas dos episódios anteriores

Holly, blessed be the fruit

Holly, o décimo primeiro episódio, não é, de longe, tão violento quanto o anterior. É chegado o momento do parto. Agora, o evento por que se esperou a temporada inteira está prestes a ocorrer. É a ruptura, o momento em que a aia Offred (Elisabeth Moss) cumpre com seu papel e finda um pacto de que não participou. E é por isso, mas também pela ideia culturalmente construída da maternidade, um ato “sagrado”.

Surge então a referência a holly (em português, a planta azevinho). Holly, sagrado. Ou a planta de frutos vermelhos como as vestimentas das aias, mas também como o sangue que escorre entre as pernas de uma mulher. Mas também holly, a planta persistente – tanto quanto uma criança que nasce mesmo diante de todas as improbabilidades. E também Holly (Cherry Jones), a mãe de June. Aquela que veio antes e aquela que vem depois. Aquela que lutou e resistiu. E aquela que se espera que resista, lute e mude no futuro.

Handmaid’s Tale

O que foi induzido

O esforço de Serena (Yvonne Strahovski) e Fred (Joseph Fiennes) para induzir o parto de Offred através do estupro teve as consequências esperadas. Todavia, eles não esperavam as condições em que essas consequências ocorreriam. A concessão de Fred ao encontro entre Offred e Hannah (Jordana Blake) saiu de seu controle. Com Nick (Max Minghella) e Offred desaparecidos, o casal se desespera. Não significa apenas a perda de seu futuro filho. Fred desobedeceu às normas de Gilead ao promover o reencontro. Além disso, não é a primeira fuga de sua aia.

A relação, que já estava abalada, começa a mostrar suas rachaduras quando ambos se dirigem ao local onde Nick e Offred foram vistos pela última vez. Enquanto buscam por alguma pista do paradeiro deles, Serena e Fred trocam acusações. Ele a acusa de não ter sido minimamente gentil com a mulher sob seu teto. Ela, por sua vez, acusa-o não apenas de ter estuprado Offred – algo para o que ela contribuiu –, como também de ter lhe retirado a única coisa que ela havia pedido. Serena defendeu a causa dele, compactuou para que ele alcançasse uma espécie de poder, enquanto seu único desejo era o de ser mãe. E, sem Offred, esse desejo não pode ser consumado.

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O momento do parto

Enquanto Serena e Fred rondam a casa, Offred permanece escondida. Contudo, mesmo quando eles se ausentam, ela não está em uma posição confortável. Sinais de um início de trabalho a deixam apreensiva. Ainda que não haja ninguém por perto, ela não tem para onde ou como fugir. Não apenas sua condição de gravidez complica sua situação, como fatores externos. Isto porque ela está em um local desconhecido, sem recursos, em um inverno rigoroso.

Quando o trabalho de parto se inicia, é impossível para ela não comparar com o parto de Hannah. São situações de vidas distintas. Enquanto em uma ela tinha todo o suporte médico e apoio de pessoas próximas, na outra ela está por si. É apenas ela, seu corpo e sua filha. Ela se recorda da escolha do modo do parto. Também se lembra da presença de Luke (O-T Fagbenle) e Moira (Samira Wiley). E, principalmente, lembra-se da presença da mãe.

Ela se recorda da promessa de Holly de que estaria lá com ela. E June não acreditava, a princípio, que ela cumprisse o que prometeu, pois sempre estava em função de seu trabalho. E, de fato, ela não pode estar no exato momento. Mas ela tentou cumprir a promessa feita à filha. Nem sempre as promessas podem ser cumpridas em conformidade a todos os termos. E, assim, mesmo que não tenha tudo o que teve antes, mesmo sozinha, ela precisa fazer aquilo. E ela sabe como, pois é algo natural. O corpo sabe como parir naturalmente.

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Promessas que não se podem cumprir

Do mesmo modo que sua mãe não conseguiu cumprir com o que havia prometido, June talvez não seja capaz de cumprir com aquilo que prometeu à criança que esperava. Ela lhe prometeu um lugar seguro. Mas como concretizar uma promessa que parece inalcançável nas condições dela? Ela não tem para onde fugir ou como proteger aquele ser. Ela está sozinha, quando precisa de ajuda. E, no momento do desespero, ela o vê.

Um lobo solitário como ela à espera de uma oportunidade. Os olhos famintos encaram uma mulher grávida sem saída. Uma mulher que tem dentro de si esse espírito selvagem, mas também o esforço de cuidar de sua cria. É uma analogia à metáfora da Mulher Selvagem. Mas não apenas remete ao arquétipo da Mulher Selvagem. Também fala de animais sozinhos que emitem sinais para seus companheiros.

Diante da presa, uma mulher sangrando e prestes a dar à luz, o lobo uiva. E, por mais que doa a ela, esse ato lhe concede uma ideia. O medo de que sua filha não tenha as condições ideais para nascer ou que algo lhe incapacite de proteger a criança, ela dá um tiro em direção ao céu. Um pedido de socorro, um sinal de vida para que alguém possa encontrá-la. Ainda que isso signifique retornar à rotina de Gilead, é a escolha que ela precisa tomar para proteger sua filha.

Holly é seu nome

E então ela nasce. Holly é seu nome, como era o de sua avó. Holly, neta de Holly, filha de June, irmã de Hannah. E a importância de um nome já foi ressaltada em diversos momentos da história. Porque nomes carregam memórias, identidades e histórias. Nomes são resistência. E enquanto ela conta sua história para aquela criança, ela tenta deixar viva a sua memória. Ela conta e espera que um dia possa ouvi a história daquela criança. Ela espera que um dia Holly construa sua própria história e também a conte a ela.

https://youtu.be/Da1pYfJqiMg

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Mestra em Teoria e História do Direito e redatora de conteúdo jurídico. Escritora de gaveta. Feminista. Sarcástica por natureza. Crítica por educação. Amante de livros, filmes, séries e tudo o que possa ser convertido em uma grande análise e reflexão.
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