Wicked (2024), dirigido por Jon M. Chu, é uma adaptação do musical da Broadway de mesmo nome, de Winnie Holzman, que desde 2003 já rodou diversas partes do mundo, incluindo algumas temporadas no Brasil. O filme se concentra em personagens da história O Mágico de Oz, de L. Frank Baum. Cynthia Erivo e Ariana Grande, vivem as protagonistas dessa adaptação, Elphaba e Glinda. O filme também conta com grandes nomes do cinema e TV, como Michelle Yeoh, Jeff Goldblum e Peter Dinklage.
Antes da Bruxa Má do Oeste
Em Wicked, seguimos a história por trás dos acontecimentos que levam Elphaba Thropp (Cynthia Erivo) a se tornar a Bruxa má do Oeste, que aterroriza Oz quando Dorothy e Totó são transportados para esse mundo mágico, pelo tornado.
Nessa versão, Oz é uma terra de muita magia, em que originalmente humanos e animais (que possuíam as mesmas habilidades que os humanos) conviviam como iguais. Isso pelo menos até a chegada do misterioso Mágico de Oz, que assume o controle de Oz sendo visto ao mesmo tempo como governante e entidade mágica.
É neste contexto em que Elphaba, a filha mais velha do governador de Muchinkinland, nasce completamente verde. O que a torna um alvo para o ataque de outros, assim como a distância e frieza por parte do seu pai. É só quando Elphaba tem a oportunidade de atender a escola Shiz, se tornando a favorita de Madame Morrorosa (Michelle Yeoh), para desenvolver suas habilidades mágicas, que a jovem encontra um espaço para se desenvolver longe da sombra do pai.
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Assim ela também conhece Galinda (Ariana Grande), uma jovem muito diferente de Elphaba, que tem na sua aparência e modos os seus principais artifícios para conseguir o que deseja. No entanto, apesar de em um primeiro momento não se darem bem, as duas formam uma importante amizade com grandes repercussões tanto para uma, quanto para a outra.
Wicked também é um espetáculo no cinema
O filme conta com uma bela construção de direção de arte que expande os cenários limitados do palco do teatro, no mundo de Oz. O colorido do filme, assim como os figurinos extravagantes também remetem ao clássico de 1939, O Mágico de Oz, que introduziu esse mundo e personagens icônicos na história do cinema. A fotografia também serve bem ao formato e ao tom da história.
Os elementos de números musicais em filmes não são estranhos para o diretor Jon M. Chu, que já dirigiu desde alguns volumes da franquia Step Up, até mais recentemente a adaptação de outro musical da Broadway, In the Heights (Um bairro em Nova Iorque).
Em Wicked, os números musicais foram muito bem adaptados para o cinema, indo além das coreografias, fazendo também, usos criativos dos cenários e da fotografia, que se tornam possíveis dentro do audiovisual. Além disso, o filme conta com ótimos performers que sabem cativar a audiência com ou sem música.
Os elementos práticos e de computação gráfica se complementam de forma a traduzir essa adaptação do teatro ao audiovisual, unindo o melhor de cada formato. Sem tentar alcançar um realismo que faria pouco sentido para a história e a experiência do filme. A produção se debruça sobre os aspectos mágicos do mundo que retrata, sem tornar ridículo ou desconfortável os encontros desses elementos.
Como todo filme de estúdio da última década, com intenções de blockbuster, Wicked garante a sua sequência de ação durante o terceiro ato do filme, levando a produção a um registro mais próximo do que está sendo feito comumente pelas produções de grandes estúdios. O clímax do filme, que é também o momento mais aguardado pelos fãs do musical, termina com um estrondo que deixa o espectador ansioso pela segunda parte da história, imediatamente.
Elphaba ou Galinda, o espectador sai ganhando
A Galinda (eventualmente Glinda), interpretada por Ariana Grande, rouba a cena com sua graça, talento vocal e um charme à altura da personagem. A atriz e cantora também se destaca pelo excelente timing cômico, que enriquece a dinâmica entre as protagonistas ao longo do filme.
No entanto, isso faz com que a Elphaba de Cynthia Erivo pareça mais apagada em comparação à colega de cena. Esse contraste pode ser atribuído ao fato de Elphaba estar associada aos momentos mais sombrios da história — que, por outro lado, são os que realmente impulsionam a narrativa rumo ao desfecho desta primeira parte.
Ainda assim, a atriz inglesa é hipnotizante em cena, equilibrando a vulnerabilidade e a determinação de Elphaba, especialmente com sua voz impressionante em todos os números musicais. O fato de Elphaba ganhar mais destaque longe de Galinda reforça os arquétipos das personagens e a própria disputa que a narrativa propõe ao espectador.
O elenco coadjuvante também brilha, mesmo com um tempo de tela reduzido. Entre os destaques, talvez tenha faltado um maior desenvolvimento para a personagem Nessarose (Marissa Bode), especialmente em sua relação com a irmã. Embora essa dinâmica não receba tanto destaque quanto a interação entre Elphaba e Galinda, ela promete ter impacto nas decisões de Elphaba no próximo volume da história.
Wicked é um retorno aos musicais de outrora
Enfim, Wicked busca preservar a magia do espetáculo teatral, distanciando-se das tendências observadas desde os anos 2000 nas adaptações de musicais. Essas tendências frequentemente tentaram aplicar uma estética mais realista a um formato narrativo que depende da imaginação, o que acabou contribuindo para a redução da produção de filmes do gênero. No entanto, os musicais parecem estar ressurgindo, especialmente após Amor, Sublime Amor, de Steven Spielberg, lançado em 2021.
Aqui vemos um resgate ao modo de fazer musicais da era de ouro desse gênero cinematográfico. Que não só Spielberg experimentou, como também o próprio Jon M. Chu em Um bairro em Nova Iorque e até mesmo na sequência musical em Barbie, da Greta Gerwig, que se tornou um dos momentos mais populares do cinema de 2023.
Aqui, vemos um resgate ao estilo clássico de produção da era de ouro dos musicais cinematográficos. Esse retorno não foi explorado apenas por Spielberg, mas também pelo próprio Jon M. Chu em Um Bairro em Nova York e na sequência musical de Barbie, de Greta Gerwig, que se tornou um dos momentos mais marcantes do cinema de 2023.
Essa estética também faz jus ao clássico de 1939, que continua sendo nossa maior referência para as personagens de L. Frank Baum. O filme original permanece como um dos maiores feitos do cinema moderno, conquistando gerações mesmo 85 anos após seu lançamento. Wicked (2024) respeita esse legado, homenageando a história que o precedeu e preservando a trajetória do musical no teatro. O longa ainda conta com participações especiais que despertaram exclamações animadas dos fãs presentes nas salas de cinema.
O filme é uma ótima experiência para os fãs de musicais e de espetáculos cinematográficos. Além disso, introduz uma narrativa poderosa sobre enfrentar injustiças e permanecer fiel às próprias crenças, prometendo ainda mais emoções em sua continuação, prevista para 2025.