As mulheres e o horror caminham juntos na franquia Alien

As mulheres e o horror caminham juntos na franquia Alien

Há 45 anos, Alien: O Oitavo Passageiro, dirigido por Ridley Scott, marcou o início de uma das maiores franquias de ficção científica da cultura pop. Nessas quase cinco décadas seguintes, a série continuou a crescer com mais seis filmes, além de jogos eletrônicos e diversos de curtas-metragens ambientados no mesmo universo.

Com o lançamento do filme mais recente, Alien: Romulus, dirigido por Fede Álvarez, em agosto deste ano, uma thread no Twitter (atual X) repercutiu o debate sobre uma possível metáfora nos filmes, relacionando a violência das criaturas ao estupro de mulheres.

Para um Alien nascer, ele precisa eclodir de um ‘ovo’, se agarrar ao rosto de uma pessoa, penetrando sua garganta e forçando o surgimento de uma nova vida dentro dela. Essa nova vida se tornará um Alien”, explicou Chris Gonzatti, usuário da rede social.

O design do Alien, por Hans Ruedi Giger
O design do Alien, por Hans Ruedi Giger

Como era de se esperar, a thread gerou muitas reações negativas, especialmente de homens, que acusaram a leitura de Chris de ser “pura lacração”. No entanto, esses estudos de metáforas para a violência sexual dentro da franquia têm uma base bastante sólida e não são recentes, eles não surgiram na “era da lacração do twitter”, pelo contrário.

Desde o primeiro filme em 1979 até o último em 2024, a franquia, junto com outras obras do gênero da cultura pop, gera diversos debates a respeito das mulheres no horror. Questões como: Qual o papel delas? Por que é importante todo esse destaque? Por que sempre é a mulher que sobrevive no final dos filmes? nos fazem pensar a respeito da figura feminina dentro do terror e, neste caso, também no espaço.

Ellen Ripley: a primeira final girl do espaço

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A imagem da personagem Ellen Ripley, interpretada por Sigourney Weaver, é com certeza o maior símbolo da franquia, junto com a própria criatura.

Ela é a protagonista dos quatro primeiros filmes Alien: O Oitavo Passageiro (1979), Alien 2: O Resgate (1986), Alien 3 (1992) e Alien: A Ressurreição (1997). A personagem teve, e ainda tem, um papel muito importante por ter contribuído na mudança da figura feminina no cinema de ficção científica e horror, construindo algo diferente do padrão daquela época, que se baseava geralmente em mulheres mais passivas ou “donzelas em perigo”.

No gênero de terror, Ripley se tornou uma das mais famosas “final girl” — onde uma única mulher consegue sobreviver aos ataques do vilão no filme. No entanto, diferente de algumas outras personagens, que são perseguidas e tentam fugir, Ripley realmente tenta lutar contra os alienígenas. Ela é inteligente, corajosa, forte e isso a ajudou a sobreviver, diferente de muitos personagens masculinos na franquia.

A personagem é tão importante que influenciou outras produções espaciais como Gravidade (2013) e Interestelar (2014), além de, claro, outros filmes da própria franquia Alien, que apresentam protagonistas femininas fortes iguais a Ripley.

Elizabeth Shaw: a mulher que sobreviveu ao Prometheus

Elizabeth Shaw: a mulher que sobreviveu ao Prometheus

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Elizabeth Shaw, interpretada por Noomi Rapace, é a protagonista de Prometheus (2012), uma cientista e arqueóloga que quer descobrir as origens da humanidade. A personagem praticamente representa a curiosidade humana e a busca por um propósito, temas que aparecem com frequência na franquia e no gênero da ficção científica em geral. 

Em Prometheus, através da personagem, vemos um lado mais filosófico e existencial do universo de Alien. Ao encontrar os “Engenheiros”, seres que supostamente criaram a vida humana, Shaw acredita que poderá entender o sentido de sua própria existência e da raça humana. 

Ela não é uma guerreira nata, mas uma cientista que precisa lidar com o medo, o trauma e o horror corporal, este último sendo usado em das cenas mais impactantes de Prometheus, na qual Shaw realiza uma cirurgia em si mesma para remover uma forma de vida alienígena de seu corpo. 

Apesar das diversas críticas negativas feitas pelo público ao filme, a personagem traz uma perspectiva nova à franquia, especialmente devido à sua dualidade entre fé e ciência, semelhante a personagem Scully de Arquivo X.

Rain Carradine: a mais nova estrela da franquia Alien

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Rain Carradine, interpretada por Cailee Spaeny, é a protagonista de Alien: Romulus (2024) e a mais jovem entre as heroínas dos filmes. Diferente de Ellen Ripley ou Elizabeth Shaw, que possuem formação científica ou treinamento técnico, Rain é uma garota de origem humilde, lutando por melhores condições de vida para ela e seu meio-irmão Andy (David Jonsson), um sintético.

A relação com seu meio-irmão é uma das forças de Rain. Ela sente que tem a responsabilidade de proteger e apoiar seu irmão, por mais que ele seja um sintético e os outros personagens não entendam essa ligação especial entre os dois. 

Diferente de ser movida por ciência ou curiosidade, como Shaw, Rain é movida pela necessidade básica de segurança e essa característica a diferencia, tornando-a uma figura mais próxima do público. Rain é um novo tipo de heroína: jovem, vulnerável, mas com uma coragem similar às das outras protagonistas da franquia.

A força feminina em Alien

Em Alien, personagens como Rain, Ripley e Shaw mostram a importância de uma perspectiva feminina em narrativas de terror e sobrevivência, onde as mulheres são retratadas não apenas como vítimas, mas como lutadoras e heroínas. 

Ao contrário de muitas outras produções cinematográficas em que o homem é o grande destaque, o único capaz de salvar a todos ou de sobreviver ao perigo, a franquia Alien coloca as mulheres nesse papel em todos os filmes. Elas são as grandes personagens que se adaptam, confrontam e vencem o horror em meio ao desconhecido.

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Escritora, estudante de jornalismo e leitora voraz de fanfics. Assiste filmes, séries e shippa casais gays mais do que deveria. Parece fria e séria, mas já chorou escrevendo sobre Sherlock Holmes e John Watson na internet.
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