[QUADRINHOS] “Na Vida Real”, de Cory Doctorow e Jen Wang (resenha)

[QUADRINHOS] “Na Vida Real”, de Cory Doctorow e Jen Wang (resenha)

O que você acharia de pegar um cara totalmente de exatas, que mexe com economia e uma ilustradora fofa para fazer um quadrinho? Eu digo, uma escolha mega estranha, mas que deu super certo e como as melhores pessoas nessa vida são piradinhas, apoiado essa combinação. Mas não é porque Cory é economista que o quadrinho terá megas cálculos ou onde aplicar seu dinheiro, mas sim algo totalmente humanitário e fora de nossa zona de conforto.

A histórias do quadrinho se passa pela vida de Anda, uma adolescente normal, mas que curte muitos jogos de vídeo game e passa a maior parte do seu tempo jogando e navegando na internet, vendo coisas nerdescas demais, que nós identificamos pacas. Sua vida muda drasticamente quando uma mulher vai até a sua escola para fazer um recrutamento de garotas que gostem de jogar MMO (que é um jogo online, parecido com World of Warcraft ou Legue of Legend, que são os mais famosos neste aspecto), para fazer parte de sua guilda no jogo Coarsegold. Fazer parte da guilda de um jogo famoso mundialmente, seria um privilégio disponível para poucos e somente para as melhores jogadoras.

 

Anda aproveita essa oportunidade para mostrar o que uma garota é capaz de fazer no mundo virtual, pois acham que a maior parte do público que joga esses tipos de jogos é masculino. Apesar de hoje já estar bem mais equiparado esses números, mas sempre rola o preconceito.

 

A garota encara esse desafio e vira membro honorário, jogando por algum tempo para mostrar suas habilidades. Como é um jogo novo e para não deixá-la a deuses dará, ela é tutorada por uma jogadora mais experiente, que ela se alto nomeia Sargenta. Ela é um pouco rabugenta, mas tenta ensinar a temática do jogo para nossa pequena padawan.

 

Neste jogo você descobrirá que existe o que chama de God Farmer (god é a moeda interna do jogo), que são pequenas formas fofinhas, que se encarregam em pegar itens do jogo e fazê-los transformar em itens que podem ser comprados por qualquer tipo de jogador. Portanto, se você começou a jogar e é totalmente noob, pode comprar uma armadura, montaria, casa ou qualquer tipo de item que um jogador comum – que não quer comprar dessa forma- levaria muito tempo e esforço para conseguir. Esses god farmers não são vistos com bom olhos no jogo, então alguns jogadores pagam outros para que eliminem essas coisinhas fofas do jogo. Aí você me pergunta: “Mas esses god farmers e jogadores que pagam para se livrar deles, não é ilegal?” Totalmente ilegal, perante as regras dos jogos.

 

Sabendo que esses dois atos são totalmente ilegais e arremetem expulsão do jogador envolvido, Anda participa dessas caçadas aos god farmers, mas o que ela não sabe é que a Sargenta que deveria tutorá-la e dizer o que pode e não pode fazer, deixa passar esse pequeno detalhe de ilegalidade, e as duas juntas vão em diversas caçadas.

 

Nenhum dos god farmers fala uma palavra de inglês ou alguma língua que algum dos jogadores possam entender. Em uma de suas caçadas, Anda corre pela floresta para exterminar um god farmers, que fugiu do grupo que estava sendo massacrado pelas duas jogadores. Para sua surpresa, ele fala inglês e começa a falar sua história para nossa pequena heroína. Descobrimos que esse pequeno god farmers é na verdade uma pessoa real, que também está jogando, mas ao contrario de Anda, que joga por prazer, esse é o emprego de nosso jovem god farmers, que mora na China, em uma situação totalmente precária para um ser humano.

 

Eu fiquei totalmente encantada com essa história e o caminho que ela toma ao se desenrolar para o leitor, que pode tirar uma lição de vida com os aspectos apresentados, pois nele é retratado alguns fatos que sabemos, mas decidimos ignorar simplesmente, pois a ignorância é uma dádiva fornecida para qualquer um que queira utilizar. Este é um quadrinho totalmente humanista, que leitores que já leram, por exemplo: Três SombrasPersépolis, Maus, Eu Mato Gigantes, Gen; é muito bem recomendado e aceito.

 

O trabalho da ilustradora Jen Wang é outra coisa que devesse ser notada e elogiada. O quadrinho está um arraso na colorização e a escola das palhetas de cores é totalmente harmônica. Seu traço é mega fofo e característico, que dá um toque todo especial a história.

 

Para quem nunca jogou nenhum tipo de RPG ou MMO, não se preocupe, dá para entender a história tranquilamente. Alguns termos que não entendemos de jeito nenhum, até Anda recorre ao pai Google para descobrir o que é, mas recomendo que o leitor faça uma busca depois também só para se situar. De princípio, só o que você deve saber, é que tudo que é apresentado no quadrinho realmente existe nos jogos. Principalmente os god farmers, que geralmente são russos ou chineses.

 

Diferentemente de muitos livros que andamos vendo por aí sobre gamer, o quadrinho é uma adaptação de um vídeo game, com uma história que se passa dentro do game e te dá uma perspectiva diferente que já foi apresentada no anime Sword Art Online e na obra magnífica do Jogador N°1. Portanto, se formos analisar, é algo pouco utilizado e que mostrado da forma certa, só tem corações para arrebatar.

 

Só tenho uma ressalva para falar sobre a tradução, pois ela está com alguns erros ortográficos, principalmente na introdução. Não é algo que vá atrapalhar sua leitura ou diversão, mas fica aqui a dica para a editora fazer uma revisão em uma próxima edição.

 

Gostou do quadrinho? Então se loga na internet! Escolhe o nome do seu personagem, classe e vamos todos descobrir o que acontece com Anda. Garanto que vocês irão amar tanto quanto eu.


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Na Vida Real

Cory Doctorow, Jen Wang

Marsupial Editora

192 páginas

Compre aqui: Amazon

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