Em “Mãe(s)”, terceiro curta-metragem de Maïmouna Doucouré, vemos através dos olhos de Aida (Sokhna Diallo), uma menina de 8 anos de idade, uma transformação familiar que afetará todos seus membros de formas distintas. Aida, sua mãe e seu irmão vivem em um apartamento no subúrbio de Paris e estão entusiasmados com os preparativos para o retorno do patriarca que estava em sua terra natal no Senegal. A felicidade inicial dá lugar rapidamente a uma angústia: sem maiores explicações, o pai volta ao lar acompanhado de uma segunda esposa e um bebê. Aida precisa ceder seu quarto para esta nova habitante e tudo ao seu redor parece desmoronar. Aos poucos, aquele apartamento vai se transformando, se afunilando e ganhando ares claustrofóbicos com o eficiente uso de super closes que vão dando novo tom ao filme. A Aida não cabe qualquer pergunta ou esclarecimento e acompanhamos suas descobertas sobre aquela nova estrutura familiar e sobre si mesma.
A atuação da jovem atriz engrandece o roteiro que é pautado em grande parte em silêncios e trabalho corporal. Sem qualquer julgamento de valor e sem vilanizar personagens, Maïmouna vai dedilhando sobre as consequências da poligamia institucionalizada para as culturas que a praticam, principalmente para os africanos da Diáspora.
O tom de suspense que o curta adquire ao final, leva a interessantes reflexões sobre configurações familiares e seus efeitos na pós modernidade. Com uma larga carreira em Festivais ao redor do mundo, “Mãe(s)” já conquistou inúmeros prêmios, com destaque para o de melhor curta-metragem em Toronto (2015) e o prêmio do Júri em Sundance (2016).
O filme está em competição dentro da Mostra “A woman’s life”, do My French Film Festival 2017, e pode ser visto de graça online até 13 de fevereiro no site do próprio Festival.