Saído do forno, Tabloide, novo quadrinho de Leandro M. Melite lançado pela editora Veneta, mistura thriller, perseguição e surrealismo, com um pezinho no film noir. Para quem gosta de um bom gênero policial, não vai se decepcionar com nada nessa história. Melite tem uma narrativa inteligente, atando as pontas do mistério num ritmo que prende, sem deixar de fazer uma viagem metafórica pela estrutura social podre e doente.
A personagem principal é Samantha Castello, uma jornalista durona, sem papas na língua, que não mede esforços pra conseguir a pior história que puder publicar no Tabloide. Samantha não está interessada no crime banal diário, ela quer a poça de sangue grosso, o “nojo do nojo”. Curiosamente, ela não tem estômago pra encarar gente morta, mas incorpora a detetive sem escrúpulos, andando à frente da polícia o tempo todo.
Partindo da descoberta do corpo de uma mulher vestida de noiva, encontrada dentro de um Corsa que jazia no cemitério de carros da represa de Atibainha, Samantha segue uma trilha que cava cada vez mais fundo na sujeira da cidade. A partir da placa do carro, uma tatuagem e uma etiqueta, a narrativa vai se desenrolando numa teia que só vai ficando mais bizarra.
O quadrinho é permeado de simbolismos. O lugar onde Samantha vive é uma extensão de como ela enxerga o próprio trabalho. Visão suja e realista do jornalismo de tabloide, que não respeita protocolo, ética, não faz grande distinção entre verdade e mentira. “Um jornalista não limpa nada“, é como Samantha introduz cada passo que dará daí em diante.
Cada vítima também traz consigo um retrato de minorias. Quem manda e quem obedece, quem mata e quem morre. Mas nada é preto no branco, por vezes tudo se mistura. Mesmo Samantha se mistura, carrega uma consciência tão obscura quanto o próprio mistério surreal que investiga.
A narrativa e o desenho combinam perfeitamente, fazendo jus ao fato de L. M. Melite ser considerado uma das grandes revelações do quadrinho nacional. A edição da Veneta coroa tudo com capa dura, um quadrinho grande que lembra o formato de tabloide, todo colorido, com revisão impecável, tudo muito bem feito.
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Tabloide
L. M. Melite
136 páginas
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Essa HQ foi cedida pela editora para resenha.
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