Estreia amanhã (13) no Espaço Itaú de Cinema o documentário Gatos (no original: Kedi), da diretora da diretora turca, Ceyda Torun. O documentário conta com sensibilidade e leveza a importância e o significado histórico dos gatos na cidade de Istambul, na Turquia. Em Gatos, conhecemos os percursos de alguns felinos da região e as histórias movidas por sentimentos singelos que esses felinos geram aos humanos.
[Não contém spoilers]
É a partir dos diversos relatos que conhecemos de pessoas que tiveram suas vidas tocadas pelo convívio com os gatos que a sensibilidade do documentário é construída. E assim como os humanos, cada gato em Istambul têm personalidades e costumes diferentes.
Conhecemos, por exemplo, um relato comovente e simbólico de um pescador, que a partir de um acontecimento que o impactou, passou a admirar e a compreender a sabedoria que podemos extrair do convívio e respeito mútuo, e não deixa de viajar em seu barco nenhuma vez sem a companhia deles.
A diretora também demonstra, a partir da perspectiva de uma artista plástica muçulmana da região, um comparativo dos gatos com a questão de gênero e os problemas que as mulheres turcas enfrentam. Nesse momento, podemos lembrar do texto da autora Aline Valek, “Gatos são animais que não se dão ao respeito”.
Gatos é carregado de frases impactantes e lições valiosas que homens e mulheres aprendem os esse seres dotados de flexibilidade e que escolhem seus donos através do amor e respeito que recebem. Eles compreendem onde são bem vindos e recebem proteção e segurança.
Podemos entender que o respeito admirável dos cidadãos turcos tem como origem o impacto histórico pelo convívio antigo com os felinos na região, pois sabemos que a origem dos gatos domesticados é do Egito e do território atual da Turquia.
A diretora, através de uma cena rápida e simbólica demonstra certa preocupação com as questões políticas da Turquia, sobre o atual governo do presente Recep Tayyip Erdoğan. Vemos uma cena onde um gato boceja diante de uma mensagem em stencil, que critica o presidente atual da Turquia e demonstra que é possível criticar um governo até mesmo em um documentário sobre gatos.
Além disso, o documentário aborda também o problema da gentrificação estabelecida entre os habitantes de Istambul e os gatos, onde comerciantes antigos de bairros temem tanto pela constituição de suas rendas, quanto pelos gatos que estão acostumados a frequentam esses lugares recebendo os cuidados necessários.
Certamente o que pode nos incomodar um pouco no documentário (ainda mais para quem compreende o problema que enfrentamos no Brasil com cerca de 37 milhões de animais abandonados no país, dentre eles, cerca de 21 milhões de gatos) é a falta do controle reprodutivo dos felinos em Istambul.
Com o desenvolvimento de colônias de gatos torna-se incontrolável a quantidade e distribuição necessária de alimentação e de atendimento veterinário. Felizmente o documentário mostra a perspectiva de pessoas que cuidam e alimentam dos gatos, porém, podemos questionar que o número de pessoas que se preocupa pode não ser o suficiente, assim como o trabalho árduo que ONGs brasileiras de gatos enfrentam.
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Se fizermos um comparativo com o Brasil, sabemos que muitos brasileiros por falta de conhecimento e afeto ainda pensam que gatos são animais transmissores de doenças e os envenenam cruelmente. Em Istambul, apesar da falta de controle, vemos no documentário que as pessoas realmente admiram os felinos, tanto que em um momento vemos a importância que os gatos tiveram no procedimento terapêutico de problemas decorrentes de saúde mental.
Gatos é um documentário essencial para quem gosta desses felinos adoráveis e companheiros. Cada gato que conhecemos no documentário deixa um aprendizado em nossas vidas, assim como na vida dos habitantes de Istambul. É uma verdadeira e tocante carta de amor da diretora Ceyda Torun aos gatos da região.