Uma vida inteira em que uma mulher tenta se encaixar naquilo que a colocaram: o sistema, o amor, a religião, a família. Quantas de nós temos essa vida de seguir receitas, padrões (até nem sempre necessariamente impostos, mas de tantas pressões e regras acabamos moldando o que achamos que está de acordo), até vir alguém e chacoalhar-nos para nos endireitar e tentar ver lados B, C, etc? É sobre as descobertas, ainda que tardias, que nós mergulhamos ao adentrar “O Barril mágico de Lena Finkle“, da já famosa e conhecidíssima Anya Ulinich, autora de “Petrópolis”.
Sinopse: “Com o fim de um casamento de 15 anos, Lena Finkle desperta para uma educação reveladora sobre amor, sexo e perda ao se envolver numa série de encontros marcados online. Ao mesmo tempo em que cuida das duas filhas adolescentes. O Vampiro de Bensonhurst, o Órfão, o Homem Drama e a Psiquiatra do Diamante são apenas alguns dos personagens inesquecíveis que ela encontra pelo caminho.”
Uma vida dentro do que lhe cabia
Lena nasceu quando ainda havia a União Soviética, numa família judia que não era praticante. Cercada de tabus acerca de amor e sexo, como muitas mulheres crescem até hoje, moldando todos os seus relacionamentos até hoje. Não só tabus, como abusos e masturbação sendo tratados como doença! E não deu uma boa guinada quando ela e sua família imigraram para os EUA, onde deixou uma namorado.
A vida sexual e amorosa da protagonista nunca foi exatamente incrível, e após se separar do casamento de 15 anos, reencontra com seu antigo namorado, hoje casado e com quem está emocionalmente ligada, mas o qual ele parece tratar mais com desdém a possibilidade de retorno, pois o mesmo vive um casamento “empurrado com a barriga”. Nada do que ocorre é mera coincidência na vida de muitas de nós, mulheres.
Até que ao retornar, num dos desabafos com amigas sobre sua vida (des)amorosa, elas sugerem que ela se aventure nos sites de relacionamentos, descobrindo o mundo do sexo, diferente de tudo que ela viveu e nos mostrando como é recomeçar a vida em um namoro de adultos mais maduros pós-casamento.
A narrativa de “O Barril mágico de Lena Finkle”
Anya consegue casar muitos assuntos de maneira sutil, bem ligada e extremamente carismática. Mesmo quem não passou por situações semelhantes (como esta que vos escreve, uma jovem dos anos 90 ocidental) consegue se sentir cativada e empática a personagem, reconhecendo em detalhes situações vividas ou vividas por alguém próximo.
Ao mesmo tempo é possível notar como uma vida recheada de tabus e maus ensinamentos trazem situações danosas, e também como aquele machismo sutil também, como a esperança do crush largar a esposa com promessas ou usar de bebês para tentar achar uma estabilidade emocional.
A arte de Anya consegue fazer um misto entre um leve puxado ao realismo (e suas hachuras e linhas rabiscadas) com cartoon (com traços bem deformados e simples). Altamente recomendado para mocinhas, moças, jovens, mulheres maduras, “O Barril mágico de Lena Finkle” traz altas lições de vida e bons questionamentos. Não seria você a hora de repensar sua forma de ver o amor e o sexo, leitora?
O Barril mágico de Lena Finkle
O Barril mágico de Lena Finkle368 páginas
Edição: 1ª (4 de abril de 2017)
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