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DELIRIUM NERD
Boas Intenções
CINEMA

Boas Intenções: fazendo piada às custas das minorias

por Carol Lucena · 12 de junho de 2019
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A premissa de “Boas Intenções“, que está em cartaz no Festival Varilux, é ótima: Isabelle (Agnès Jaoui) é uma professora de francês para imigrantes e refugiados, sempre envolvida em causas humanitárias. Quando ela descobre que seus alunos precisam de carteira de motorista, bola um plano para ajudá-los a passar na prova. O filme, dirigido por Gilles Legrand, segue um estilo cômico e sarcástico, fazendo da turma uma grande família de pessoas peculiares e desajustadas, mas com um bom coração no fim das contas. Ou pelo menos é isso que ele nos faz acreditar a princípio.

Contudo, infelizmente, “Boas Intenções” acaba utilizando o humor em detrimento da mensagem principal que quer passar. Em vez de humanizar os personagens, os mesmos acabam sendo apenas estereótipos preconceituosos de seus países de origem. Há até um nerd brasileiro, cuja representação do que se passa em sua mente consiste num videogame com samba tocando de fundo. Quando ele erra as questões da aula, Isabelle o chama atenção gritando “não estamos em Copacabana!”. Há alguns personagens do leste europeu que são tratados como se fossem bandidos e prostitutas. E esses são apenas os piores casos, dentre vários outros que são rechaçados ao longo da projeção.

Boas Intenções

Cena de “Boas Intenções”. Imagem: reprodução

Em “Boas Intenções”, o problema é que jamais acontece uma redenção, em que os estereótipos seriam subvertidos e outros lados positivos dessas pessoas fossem mostrados. Sem isso, não ocorre um balanceamento, e o filme acaba reforçando percepções negativas sobre estrangeiros, em vez de ajudar a dissipá-las. Uma pessoa preconceituosa poderia muito bem assistir esse filme e sair com sua visão inalterada, crendo que os imigrantes não passam de pessoas degeneradas, que usam métodos ilegais para conseguir o que querem, e que os nativos franceses que os ajudam são cidadãos igualmente sem ética.

Boas Intenções

Cena de “Boas Intenções”. Imagem: reprodução

Isabelle, sendo a protagonista, também sofre com um roteiro que a desenvolve como uma personagem extremamente antipática. Em vez de parecer alguém “com bom coração, embora atrapalhada”, ela passa a impressão de ser maldosa e irresponsável. Ela é rude com o marido sem motivo, ignora os filhos sem propósito algum, fala coisas super impróprias a seus alunos, comete graves deslizes no emprego, e “Boas Intenções” quer que compremos que isso tudo é apenas parte de peculiaridades de sua personalidade, que deveriam até dar um charme à personagem.

Só que isso não funciona, em parte porque o humor é falho diversas vezes. Mas, mesmo quando ele funciona, qualquer pessoa com mais consciência se sentirá mal de rir de piadas que são feitas em detrimento de outros em desvantagem. Ainda mais envolvendo questões tão delicadas como imigração.

Isabelle acaba tendo sua vocação de ajudar as pessoas ridicularizada. Todos ao seu redor veem seu coração humanitário como um problema, que só traz confusão e atrapalha a vida de sua família. Pouco é feito para subverter essa mensagem, e a sensação final de é de que ela persegue esses objetivos apenas por causa de uma obsessão pessoal. Em nenhum momento é vendida a ideia de que ajudar os outros seria algo realmente legal e nobre, mas sim como algo que somente pessoas loucas como Isabelle procurariam.

Boas Intenções

Cena de “Boas Intenções”. Imagem: reprodução

Um filme desse na época atual presta um grande desserviço, em meio à ainda corrente crise de refugiados na Europa, e com o mundo inteiro dando uma guinada em direção a posições extremistas e isolacionistas. A França, sendo um país imperialista, impactou com graves consequências diversos lugares pelo mundo, e a maior parte de seus imigrantes provém hoje justamente dessas regiões.

Desperdiçando a chance de usar o humor de forma crítica e como ponto de partida para uma mensagem reparadora, “Boas Intenções” acaba sendo uma grande decepção. Pode até ser que ele realmente tivesse a pretensão de passar uma ideia positiva, no fim das contas. Mas, dada sua execução extremamente frágil, acabou ficando apenas nas boas intenções mesmo.

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Carol Lucena

Cineasta, musicista e apaixonada por astronomia. Formada em Audiovisual, faz de tudo um pouco no cinema, mas sua paixão é direção de atores. Vocalista da banda Noite e compositora nas horas vagas. Também escreve sobre cinema em seu site Cine Medusa.

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