Sombra e Ossos (Shadow and Bones, no original) é a maior aposta que a Netflix fez em termos de seriado em um longo tempo. A série capta elementos fantásticos com efeitos especiais de primeira, e nos apresenta não apenas um universo qualquer, mas algo belo e complexo. Repleto de detalhes, conflitos, segredos, e magia. Muita magia.
Para aqueles de primeira viagem, a adaptação é baseada no Universo best-seller da escritora Leigh Bardugo. Numa breve explicação, temos uma trilogia (Sombra e Ossos, Sol e Tormenta e Ruína e Ascensão), uma duologia (Six of Crows: Sangue e Mentiras, e Crooked Kingdom: Vingança e Redenção), e outra duologia (King of Scars e Rule of Wolves).
Todas se passam no mesmo universo, sob perspectivas e em lugares diferentes, fios políticos se desenrolam motivados pelo asco aos mágicos, pela necessidade em se livrar de uma Dobra Não-Mar. E esses elementos políticos que vão levar a uma inevitável comparação com certo seriado. Mas acreditem, não é nada disso. Nas aventuras do Grishaverse, nada é o que parece.
O texto a seguir não contém spoilers da série
O mundo fantástico e viciante de Sombra e Ossos
Amantes de fantasia vão se encantar. E amantes de boas séries também. Existe muito o que explicar, antes de embarcar no dualismo da trama. Sim, é uma trama dual. De um lado, temos mágicos. Perseguidos à sua própria maneira, como acontece com toda a história da bruxaria. No entanto, no lado oposto, temos humanos. Humanos tentando sobreviver dando tudo que possuem. Você pode escolher um lado, ou não. Vai aproveitar a jornada da mesma forma.
Os “bruxos” da história, ganham a alcunha de Grisha, pessoas que possuem poderes especiais classificados em categorias próprias. Mesmo entre os Grisha presenciamos uma hierarquia: temos Infernais, Artesãos, Construtores, pessoas que controlam elementos como água, fogo, ar, e a mais antiga lenda… Uma Conjuradora do Sol. Alguém que viria para destruir a terrível Dobra das Sombras no meio do mapa, que separa os reinos. Lá dentro, existem animais místicos, canibalescos, e que ameaçam toda estrutura das sociedades ao redor.
A Dobra representa um perigo, mas não é apenas ela a maior ameaça nesse mundo. Intrigas políticas fazem parte da história, e a origem dos personagens é vital para compreender suas motivações. A concepção geral é dos Grishas serem esnobes, e dos humanos, inferiores. Mas não se deve julgar o coração de um bruxo, e não se deve subestimar o poder de um humano.
Conheça Alina Starkov
Uma órfã, que viveu por muito tempo na tutela de um orfanato junto ao seu melhor amigo, Mal. Ela é a protagonista da série, e a atriz merece todos os créditos. A Netflix e Leigh Bardugo conseguiram encontrar alguém que captura inocência, força, determinação e pureza. Uma cartógrafa que se torna muito mais, após acabar no exército de Ravka.
Tudo em apenas uma mulher guiada por seus instintos. O que faz Alina ser tão atraente é sua humanidade e resiliência. Você consegue a reconhecer como personagem principal e dar toda atenção que a jornada dela merece.
Ela vai de alguém que não se considera importante, para uma garota descobrindo um novo mundo e, finalmente, para a heroína que o universo tanto esperou. Mas seria ela, mesmo, uma Santa? Isso você descobrirá assistindo, e abraçando a história de uma mulher determinada, porém falha. Que se deixa levar por desejos, por emoções. E ainda assim, continua fiel à sua personalidade. Engatar na vida de uma personagem feminina colocada ao centro e que, ao mesmo tempo, é sua própria heroína, é um grande trunfo. O espectador pode esperar muito disso na primeira temporada da série.
Elenco de Sombra e Ossos
Temos uma adaptação rara em nossas mãos, onde os atores são carismáticos, cada um deles é capaz de prender sua atenção – obviamente, algum vai atrair mais ou menos. Começando por Jessie Mei Li, escolhida para protagonizar Alina Starkov, existe um fogo nela. Uma paixão em seu olhar, pontuação das palavras, atos. Foi uma belíssima escolha para a personagem. E antes de irmos até o nome mais famoso da série, vamos passar pelos Corvos.
Ah, os Corvos. Cada cena, diálogo, interação. Tudo presente atrai o espectador. Os três atores detêm uma química fora do comum, presente em cada um dos momentos onde dividiram a tela. Mesmo em duplas, funcionam.
Freddy Carter convence como um atormentado, angustiado porém brilhante líder. Inej Ghaja encontrou em Amita Suman uma representação viva da sua personagem. A fé, o show de facas, o talento, a força que ela contém em suas falas. Inej é uma das prediletas dos fãs nos livros, e aqui, eles não vão se desapontar. E temos Kit Young como Jesper, bissexual, brilhante, carismático. O ego passado pelo ator é simplesmente no ponto correto, charmoso e engraçado. Convincente. É um trio magnético, pronto para chamar a atenção de quem vai assistir Shadow and Bones.
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E então, chegamos ao nome que era a escolha dos fãs há anos: Ben Barnes. E ele não decepciona como General Kirigan. Suas cenas são suas. Suas lutas são suas. Quando ele está em cena, é difícil alguém conseguir chamar atenção, mas aqui cabe um elogio para Alina (Jessie Mei Li), que consegue fazer seu igual.
Curiosamente, o ator realmente foi a preferência dos fãs de livros por muitos anos, e sua escolha foi quase que através do Tumblr. Ele é um ator apaixonado por seu personagem, é bem ativo nas redes sociais. Créditos ao ator por conseguir nos mostrar todas as nuances do personagem: solidão, angústia, e um ar perigoso.
Seu Kirigan vai agradar muitos, muitos fãs. Ele, Jessie, os Corvos. A química entre Kirigan e Starkov é palpável. O afeto entre Alina e Mal é visível. Podem aguardar. Não há decepção alguma em nenhum personagem. Mesmo Mal (Archie Renaux), um tanto preterido nos fóruns, consegue transmitir vigor, determinação e algo especial para a versão que a Netflix conseguiu adaptar.
Os Corvos de Shadow and Bones
Os Corvos, compostos nessa temporada por Inej Ghaja, Kaz Brekker e Jesper Fahey, dominam muitos episódios. A química entre eles é fantástica e transmitem uma imagem de amizade, lealdade, quase que real. Não importa onde a produtora queira levar a série, eles devem ir.
Inej é uma acrobata, uma sombra, ninguém vê quando ela chega ou vai embora, além de exímia atiradora de facas e ter sua própria história pessoal revelada na série. Kaz é um mistério, mas convence. Um homem esperto, líder nato, de feições ranzinzas mas comportamento leal. Jesper, o que falar de Jesper? Belo, charmoso, um talento com armas de fogo, não erra um tiro. Conheceremos todos eles.
Em termos literários, eles acabam levando o prêmio entre muitos devotos do livro. Seu grupo é diverso, repleto de problemas com os quais muitos podem se relacionar, e geram um encantamento muito grande. Apostas altas que mesmo os não familiares com os livros, vão acabar se apaixonando por essa found family (família que se encontra) desajustada e leal.
Não só de protagonistas vive uma obra
Nina Zenik (Danielle Galligan), Matthias Helvar (Callaghan Skogman), Fedyor Kaminsky (Julian Kostov), Genya Safin (Daisy Head), Zoya Nazyalensky (Sujaya Dasgupta) e David Kostyk (Luke Pasqualino). Decore esses nomes, pois são papéis que apesar de não aparecerem em todos os episódios, conseguem marcar.
Aliás, a grande vitória da Netflix em Sombra e Ossos é essa: seus personagens têm a capacidade de permanecer no imaginário dos fãs. Existe um interesse genuíno em descobrir as motivações, o desdobramento, os romances, e o alinhamento de cada um. Existem ainda outros, mas seria preencher demais com elogios uma série fantástica onde você definitivamente vai gostar de um núcleo.
Aliás, entrosamento é o que não falta nessa série. Os atores parecem ter feito um belo treino ou criado um vínculo antes, durante e depois. Sabemos, por exemplo, que existem diversas fotos deles juntos pelo Instagram. Também conhecemos a dedicação de Amita Suman, que realmente treinou para se tornar uma acrobata. Conhecemos a paixão de Ben Barnes pelo General Kirigan, e que ele e Archie já tinham trabalhado juntos anteriormente.
Sem muitos detalhes sobre o que você verá, mas existem certas conexões tão bem trabalhadas pelos atores, que é garantia de sucesso. Além, claro. Dos conflitos. Dos poderes. Da dedicação que a Netflix colocou em criar verossimilhança com “como esse poder deveria funcionar em cinematografia”? E conseguiram. É um deleite ver os Grisha usando suas habilidades.
Veredito
Dia 23 de abril, fãs do mundo inteiro podem esperar por uma adaptação que dá o seu melhor para mesclar múltiplas histórias. Também devem aguardar momentos emocionantes, química entre personagens, poderes de fantasia feitos para exatamente quem gosta de ver magia funcionando.
É uma conquista, que com sorte, dará frutos. Apostamos nesses frutos e no interesse do mais distraído dos espectadores em conhecer a magia por trás do Grishaverse. Aos já apaixonados pelo mundo, falaremos mais sobre isso em outro texto.
