Hoje estreia nos cinemas brasileiros Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice, a continuação do clássico dos anos 1980 dirigido por Tim Burton. 36 anos após o primeiro filme, Beetlejuice Beetlejuice traz de volta o amado personagem que dá nome ao título original para resolver alguns assuntos inacabados. O filme conta com o retorno de parte do elenco original, incluindo Michael Keaton, Winona Ryder e Catherine O’Hara.
Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice
No filme de 1988, Os Fantasmas Se Divertem, acompanhamos o casal de “recém-falecidos”, Barbara e Adam Maitland (Geena Davis e Alec Baldwin), tentando assombrar a excêntrica família Deetz, que havia acabado de se mudar para a antiga casa deles.
Os Deetz contavam com Lydia, vivida por Winona Ryder, uma adolescente gótica com uma predisposição à melancolia, além de seu pai, Charles (Jeffrey Jones) e sua madrasta, a artista plástica Delia, encarnada pela brilhante Catherine O’Hara.
Vendo suas tentativas em afugentar a família falharem, os Maitland recorrem ao anúncio de um “bio-exterminador” que os leva até Beetlejuice (Michael Keaton) (ou Besourosuco, como foi traduzido na dublagem original). Mesmo tendo começado a construir uma amizade com a jovem Lydia, logo eles percebem que o espírito não é confiável, mas já é tarde demais. “The juice is loose”.
Em Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice, os dramas dos vivos recebem mais destaque, já que não temos o retorno de Barbara e Adam. Os Deetz e Beetlejuice dividem o foco central da trama, que traz a difícil relação entre Lydia e sua filha Astrid (Jenna Ortega) como sua força principal.
No mundo dos mortos, o espírito de uma antiga bruxa sugadora de almas (Monica Bellucci) se liberta e está em busca de Beetlejuice. Esses dois arcos se encontram quando o pai de Lydia morre e a família precisa retornar à antiga casa dos Maitland para vendê-la.
O retorno de Tim Burton
O longa é um respiro para os fãs do estilo cinematográfico de Burton, que em suas produções mais recentes flertou mais na construção de visuais baseados na computação gráfica, deixando a desejar no roteiro. É o caso de O Lar das Crianças Peculiares (2016) e Dumbo (2019). Aqui, porém, o diretor resgata a essência do primeiro filme, algo que o mantém como um clássico até os dias de hoje.
Os efeitos visuais são usados a favor dos efeitos práticos, maquiagem e bonecos, todos empregados para dar vida ao mundo dos mortos. O avanço da tecnologia permite que a integração entre computação gráfica e maquiagem tenha suas transições ainda mais imperceptíveis, o que contribui ainda mais para a imersão no filme, mesmo que o que está sendo retratado pareça o fruto de alucinações causadas por um fantasma melodramático. Há também uma sequência em stop motion que serve à narrativa de forma genial.
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A trilha sonora continua sendo assinada por Danny Elfman, colaborador de longa data de Burton e responsável por algumas das composições mais memoráveis nos filmes do diretor.
Há um retorno aos motivos e temas musicais já conhecidos pelo público, que são a marca registrada do universo criado em Os Fantasmas se Divertem. Os momentos musicais, no entanto, são ainda mais grandiosos e divertidos, com referências ao icônico uso de Banana Boat Song (Day-O), de Harry Belafonte, no filme de 1988.
Os fantasmas estão ainda mais divertidos
A narrativa também não deixa a desejar. O roteiro de Miles Millar e Alfred Gough resgata tanto a nostalgia do original quanto adiciona novos elementos e utiliza as personagens de forma que enriquecem ainda mais o desenvolvimento e o enredo.
Um dos aspectos mais marcantes é o uso do humor, que está ainda mais afiado do que no primeiro filme. Grande parte desse mérito se deve ao talento cômico de Catherine O’Hara, cuja personagem passa por uma transformação, assumindo um tom mais leve. Desta vez, o conflito central envolve a personagem de Jenna Ortega e sua relação com a mãe.
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Além disso, a inclusão de novos personagens não compromete a sequência, aproveitando muito bem os talentos e o carisma únicos de Willem Dafoe e Justin Theroux. A vilã de Bellucci não acrescenta tanto, exceto pela motivação que impulsiona o desenvolvimento da história do lado de Beetlejuice. Ainda assim, ela tem pouca relevância para o desfecho dos protagonistas, mas traz muita beleza à cena.
O vilão original retorna com todo o seu charme e repulsa. Mais caótico do que no primeiro filme, mas sem descaracterizar o personagem ou exagerar na dose de elementos camp. O filme também não tenta complicar as relações e seus personagens além do necessário.
No primeiro filme, há uma carga emocional significativa por parte da personagem Lydia, que chega a desejar a morte. No segundo, essa intensidade emocional é transferida para Astrid, que lida com o luto pelo pai. Ao revelar um pouco de como o vilão era em vida, o filme apenas reforça o quão terrível ele é.
Bettlejuice Bettlejuice…
A alternativa criada para justificar a saída de Jeffrey Jones do papel de Charles Deetz, pai de Lydia, demonstra o quão inventivo pode ser um roteiro que explora a forma cinematográfica. Afinal, em um filme sobre fantasmas, matar um personagem off-screen não resolve o problema. Mas Tim Burton solucionou isso da maneira mais autêntica ao seu estilo.
O desempenho do elenco continua sendo um dos pontos fortes da franquia, tanto para os novos rostos quanto para os que retornam. Michael Keaton continua brilhante como Beetlejuice, ao ponto de parecer que nenhum tempo se passou entre os dois filmes.
O longa não é, e nem pretende ser, uma obra-prima cinematográfica, mas atende à nostalgia dos fãs antigos enquanto se conecta diretamente com o público mais jovem. Tornando-se, assim, uma excelente opção de entretenimento para assistir em família, com amigos ou até mesmo com os fantasmas da sua casa.