Maria Callas foi uma das cantoras de ópera mais famosas do século XX, conhecida por suas performances intensas, sua bela voz, e seu relacionamento com o rico Aristóteles Onassis, que foi uma festa para os tabloides da época. Parece então estranho que o diretor Pablo Larraín esteja mais interessado em retratar a última semana de vida da diva, onde ela estava frágil e reclusa, parecido com o que já vimos antes no filme Judy (2019).
O fascínio pelo sofrimento (sobretudo o feminino) como uma forma de representar o que há de mais “humano” e supostamente interessante nas pessoas segue firme e forte no cinema.

Maria Callas ao menos foge de alguns clichês
O restrito recorte temporal pelo menos faz a narrativa fugir dos maiores clichês de filmes biográficos, embora também haja pinceladas do passado de Callas por meio de flashbacks.
O roteiro concebe uma Callas contida, sem grandes cenas de escândalos e outros momentos hiper dramáticos. Mesmo quando faz demonstrações de ego ou quando ordena pedidos fúteis a seus empregados, tudo é performado no limite do razoável.

A narrativa inventa um jornalista imaginário com quem Callas conversa, como forma de demonstrar suavemente a loucura que habita a mente da protagonista, e também resgatar pontos-chave de sua história pregressa.
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Porém, esse artifício também não gera resultados satisfatórios. A verdade é que Maria Callas é um filme bastante frio e entediante, que não mostra nada realmente interessante sobre a personagem, o que é um pecado para alguém com uma história e trabalho tão fascinantes como Maria Callas.
Nem as cenas de ópera empolgam
Mesmo as breves cenas de Callas performando no palco, dentro de flashbacks, soam frias e sem emoção. Larrain apenas as usa para comparar o momento de auge da cantora com sua decadência presente. Tudo é retratado de forma tão desinteressante que custa gerar qualquer empatia pela protagonista.
A performance de Angelina Jolie também nunca sai do apenas aceitável, talvez restringida pelo roteiro, que não a confere material bom o suficiente para trabalhar. Os problemas de sincronização da voz nos momentos de canto também incomodam bastante, dando a impressão de uma dublagem mal feita e artificial, nos tirando totalmente da atmosfera da cena.
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Maria Callas certamente merecia um filme melhor, assim como Angelina Jolie, em seu retorno às telas do cinema após vários anos afastada. Certamente este é um dos filmes mais fracos da temporada de premiações de 2025.