Nessas duas últimas semanas me desafiei a ler a coleção da Editora Nemo “Shakespeare em quadrinhos”, adaptações das peças do bardo inglês para a mídia das HQs. O interessante sobre Shakespeare é que aprendemos a ver suas obras como inacessíveis, leitura para gente cabeçuda que passa o dia todo de cachecol quadriculado e bebendo café e é verdade que mais de quatrocentos anos se passaram desde que Shakespeare escreveu sua última palavra, então por que ainda deveríamos nos importar com o que ele tinha a dizer?
Mesmo se desconsiderarmos a beleza de sua poesia, a perfeição musical de seus versos decassílabos e sua influência na cultura popular do ocidente (Sério, “Rei Leão” não existiria se não fosse por ele) a resposta seria simples: Shakespeare ainda importa porque mesmo depois desse tempo todo, a humanidade ainda continua a mesma. O cara que sentava no banquinho rústico do Teatro Globe e aprendia sobre tolerância com as palavras de Shylock, o mercador judeu de “O Mercador de Veneza” (Nós também não sangramos?) é o mesmo cara que hoje precisa ouvir sobre empatia quando escreve absurdos sobre qualquer minoria no Facebook (normalmente em caixa alta e sem pontuação). Inveja, raiva, ciúmes, solidão e amor são sentimentos com os quais todos nós (ou quase todos) podemos nos identificar e são abundantes nas obras do inglês.
É por isso que aplaudo a inciativa da Editora Nemo de tornar essa leitura acessível e por abrir a porta para Shakespeare na vida dos brasileiros.
As peças adaptadas são “Otelo” e “Rei Lear” (de Jozz e Akira Sanoki); “Romeu e Julieta” e “Macbeth” (da roteirista Marcela Godoy em parceria com os ilustradores Roberta Pares no primeiro e Rafael Vasconcellos no segundo); “A Tempestade” e “Sonhos de Uma Noite de Verão” (da dupla Lillo Parra e Wanderson de Souza) e por fim “Hamlet” (roteirizado por Wellington Srbek e ilustrado por Alex Shibao).
Embora o texto não seja apresentado de forma integral, todos os autores tiveram o cuidado de manter a fidelidade à obra original em seus diálogos adaptados e na construção dos famosos personagens.
Em “Otelo” o jovem casal Otelo e Desdemona, um jovem general e sua amada, são vítimas da inveja de Iago que não se conforma com a adoração que Otelo causa nas pessoas e trama um plano maléfico para destruir a vida de todos.
Em “Rei Lear”, o velho rei está a beira da morte e sua têm sua sanidade testada por suas gananciosas filhas que o colocam contra a única filha que realmente se importa com ele e o traem por suas terras e fortuna, uma história sobre o envelhecimento e a solidão dos idosos na nossa sociedade.
“Romeu e Julieta” dispensa apresentações, mas o traço de mangá rejuvenesce a história e a aproxima da nova geração as desventuras do jovem casal a quem o amor foi proibido pela guerra entre suas nobres famílias.
Em “Macbeth” conheça a trama de um duque e sua esposa, cegos pela ganância, que acabam partindo um reino ao meio por uma guerra civil cheia de traições e violência.
“A Tempestade” traz a história de Próspero, rei de Milão que sofreu uma traição para a qual busca vingança, sua filha Miranda e o pretendente Fernando, além das figuras fantásticas de Caliban, o disforme invejoso e o espírito Ariel.
“Sonho de Uma Noite de Verão” traz uma comédia de fantasia, uma peça teatral dentro de uma peça teatral, amantes desafortunados perdidos em uma floresta à mercê das brincadeiras cruéis de Puck, o duende, a história pode agradar desde o amante das histórias de fantasia até aqueles mais românticos.
Por fim “Hamlet”, a tragédia do príncipe da Dinamarca, em busca de vingança pelo assassinato de seu pai e usurpação do trono de seu reino.
Nada mais justo do que trazer as obras de Shakespeare para novos leitores em uma mídia moderna como as HQs.
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