William Shakespeare nasceu na cidade inglesa de Stratford-upon-Avon, a cerca de 130 quilômetros de distância de Londres, em 1564. Aos 18 anos, casou-se com Anne Hathaway, com quem teve três filhos. Apesar das obras mundialmente conhecidas, a vida pessoal do autor não é tão amplamente divulgada.
Ao mudar-se para Londres e dedicar-se à vida de autor e dramaturgo, sua popularidade cresceu entre o público da época, e o brilho de suas criações permaneceu aceso ao longo dos séculos, ganhando cada vez mais prestígio.

As obras de Shakespeare atravessaram gerações e se tornaram clássicos literários atemporais. Independentemente do gosto ou não por temas como literatura e história, é praticamente impossível nunca ter ouvido falar sobre “Romeu e Julieta” ou “A Megera Domada”.
Até mesmo quem nunca ouviu falar de “Hamlet”, conhece a famosa frase “Ser ou não ser, eis a questão”. O fato é que, por mais popularmente conhecidas que sejam as obras do bardo inglês, com o tempo, seu nome virou sinônimo de erudição e elitismo intelectual. Contudo, nem sempre foi assim.
Leia também: O fascínio dos clássicos literários: por que ainda são relevantes hoje em dia?
O período Elisabetano e a utilização política do teatro
Durante o reinado da rainha Elizabeth I (1558-1603), houve um inegável crescimento do prestígio da arte na Inglaterra, com foco principalmente nas artes cênicas. Isso ocorreu porque, devido ao grande apreço da monarca pelo teatro, grupos eram convidados a fazer apresentações frequentes nas dependências reais.
Além disso, a rainha via os espetáculos apresentados ao grande público como uma oportunidade de promover seu reinado e sua própria linhagem. Portanto, pode-se dizer que o teatro recebia maior “financiamento” real como consequência de ser uma oportunidade de representação e projeção política de fácil compreensão.
Devido ao grande incentivo às atividades teatrais, o reinado de Elizabeth I é considerado como sendo o começo da profissionalização de atores e profissionais de cena. Por ser uma arte apoiada pela monarquia e grandes figuras políticas da época, o teatro acabou se tornando majoritariamente voltado para a aristocracia.

A democratização do acesso ao teatro
O cenário começou a mudar quando Shakespeare fundou o Globe Theatre, responsável por democratizar o acesso às apresentações cênicas a classes sociais menos abastadas.
Os ambientes anteriormente frequentados apenas por cidadãos socialmente prestigiados e de classe social mais alta, agora possuíam setores mais baratos, onde pessoas com menos condições financeiras também poderiam assistir aos mesmos espetáculos da nobreza.
As principais mudanças se concentram no formato do palco, que se tornou circular, possibilitando uma visão mais ampla do público, e nos supramencionados novos e mais acessíveis setores, onde o público assistia às peças no chão e em pé, ao invés de sentados em arquibancadas como o restante da plateia.
Estudiosos afirmam que o teatro nunca havia alcançado tamanha popularidade quanto naquela época, e talvez nem mesmo depois dela. Essa facilitação do acesso à cultura contribuiu para que se tornasse mais inclusiva e participativa, consequentemente fazendo com que o público valorizasse a arte e literatura independentemente de sua condição financeira.

Shakespeare nunca foi erudito
Tendo isso em vista, é irônico perceber que nos dias de hoje o trabalho de Shakespeare é enxergado com uma visão classista de que apenas pode ser consumido por uma pseudo elite intelectual. Essa interpretação errônea nos faz refletir sobre como a arte é percebida e consumida ao longo do tempo.
A linguagem arcaica e textos formatados como peças teatrais da renascença inglesa podem ser algumas das razões para que as obras do bardo sejam vistas com olhos elitistas na atualidade.
É inegável que seja necessário certo conhecimento de palavras já obsoletas tanto no inglês, quanto na tradução para o português para compreender aspectos específicos das obras originais, contudo, é necessário lembrar dos costumes da época em que foram escritas.
Leia também: Shakespeare em Quadrinhos, da Editora Nemo
As ambientações que hoje podem soar fantasiosas e irreais, eram a realidade da época retratada na ficção, e apesar de as tragédias ou comédias parecerem exageros líricos para os leitores contemporâneos, seus temas são tão atuais hoje, quanto eram há 500 anos.
Para além do linguajar antigo e rebuscado, é preciso compreender que suas peças falam sobre amor, poder, redenção e traição. São as misérias e alegrias da vida humana que, ao contrário das palavras utilizadas por Shakespeare, nunca entram em desuso.

Um grande exemplo disso são suas constantes adaptações no cinema contemporâneo. A começar pelo óbvio, o sucesso “Romeu + Julieta” (1996), protagonizado por Leonardo DiCaprio e Claire Danes, conta exatamente a mesma história narrada pelo escritor inglês, porém em um contexto moderno, em Verona Beach, em Nova York.
O clássico das comédias românticas adolescentes “10 Coisas que eu Odeio em Você” é uma releitura do romance shakespeariano “A Megera Domada”. Na obra original temos Catarina, uma mulher de espírito livre que resiste às expectativas de submissão feminina, enquanto no filme, Kat Stratford (Julia Stiles) é uma adolescente rebelde que se recusa a se conformar com os estereótipos do ensino médio.
Ambas as histórias envolvem um plano masculino para conquistar essas mulheres, resultando em desenvolvimento pessoal e emocional para todos os personagens envolvidos. A mesma peça inspirou a produção da novela brasileira “O Cravo e a Rosa” (2000), o que reforça ainda mais a proximidade das obras do escritor com a nossa realidade.

Outros títulos famosos também têm seus roteiros inspirados em peças do dramaturgo britânico, como “Ela é o Cara” (2006) – “Noite de Reis”, “Jogo de Intrigas” (2001) – “Otelo”, e “Todos Menos Você” (2023) – “Muito Barulho Por Nada”.
É essencial reconhecer que a verdadeira essência das obras de William Shakespeare não está no linguajar complicado ou nas épocas remotas descritas em seus cenários, mas em sua capacidade de fazer sentido independentemente do século em que está sendo lido.
Suas peças abordam temas universais e atemporais que continuam ecoando no público contemporâneo. As adaptações modernas de suas obras demonstram que, apesar da percepção elitista, Shakespeare ainda tem o poder de tocar pessoas de todas as classes sociais, mesmo que elas não saibam disso.
Em 1590 ou 2025, o bardo segue tornando a arte acessível a todos, e seu legado continua carregando imensurável relevância para a literatura, cinema e artes cênicas de todo o mundo.