Esse mês estreia nos cinemas o filme “Procurando Dory“, onde a peixinha esquecida vai tentar descobrir sua origem. Mais de 10 anos depois de “Procurando Nemo” nós voltamos ansiosos ao mar para uma nova aventura.
Há duas semanas nós tivemos a oportunidade de ver o segundo trailer oficial do filme, que nos deu motivo para especular e comemorar uma possível representatividade lésbica. A cena é bem curta. O polvo Hank pula em um carrinho de bebê fazendo a criança cair. Logo em seguida vemos duas mulheres assustadas com a troca, ao virar para dar um brinquedo à criança.
Na última quinta-feira, 9 de junho, o diretor e parte da produção participou de uma coletiva de imprensa onde foram questionados sobre o possível casal. Sem drama, o diretor respondeu que não sabia se elas eram lésbicas, porque não havia perguntado quando as “contratou” para fazer figuração no filme. E completou dizendo que elas poderiam ser o que elas quisessem.
Quase simultaneamente a essa entrevista, eu recebi no whatsapp a seguinte mensagem:
“Bom dia mamães e papais, pra vocês que tem filhos pequenos. Vai estrear um filme de desenho animado da Disney, ‘Procurando Dory’. Nesse filme tem um casal gay feminino. Divulguem para sua família toda e amigos não levarem seus filhos a esse filme. Há também várias cenas pesadas entre esses gays. Eles fazem isso para influenciar as crianças e para elas crescerem achando isso normal. Não vos conformeis com este mundo. Fica o alerta.”
E finalmente, no dia em que deveríamos celebrar o amor, 12 de junho, passamos o dia inteiro sendo bombardeados com notícias sobre o atentado que matou 50 pessoas numa boate gay de Orlando. Mas o que isso tem a ver com “Procurando Dory”?
Amor x Ódio
Eu sou apaixonada por animação, de qualquer estúdio, de qualquer duração, de qualquer mídia. Portanto, eu sei que uma das premissas indispensáveis e inevitáveis de filmes feitos para o público infantil é o amor. Não existe um único vilão e situação que não possam ser derrotados ou transformados pelo amor. É isso que queremos ensinar à crianças, afinal. Não é?! Vamos nos manter nesse caminho.
Quando a gente comemora, SIM, nós realmente estamos felizes de saber que existe um subsídio para que as crianças cresçam achando a homossexualidade normal, porque ela É, porque é amor. A representatividade não é importante só pra quem é representado na tela. Ela educa o olhar de quem não é representado a também ver o outro coexistindo com ele. Não é difícil entender que enxergar as diferenças e respeitá-las é amor.
Ninguém está querendo ensinar a criança a ser homossexual. Muito menos forçá-la a ser. Veja bem, isso não seria amor! Mas não podemos negar a existência das pessoas. Nas animações o mal não é uma pessoa que está querendo viver a própria vida. O mal, o que deve ser combatido, é o que quer destruir a liberdade, quer matar ou manipular as pessoas.
“Procurando Dory” é um filme voltado para o público infantil, portanto tem classificação livre. Existe uma regulamentação bastante rigorosa com relação a isso. Cenas pesadas jamais seriam aprovadas em um filme infantil. Então, você entende que quando diz que existem “várias cenas pesadas entre esses gays” está manipulando as pessoas com mentiras?
Negar a existência de pessoas que só querem viver em paz é ÓDIO.
Inventar mentiras para justificar suas crenças é ÓDIO.
Incentivar e justificar a violência contra homossexuais (ou qualquer pessoa) é ÓDIO.
Nenhum ódio vai aproximar ninguém de Deus, se é isso que você pensa repassando essa mensagem. Na vida real VOCÊ é o vilão! Enquanto nós queremos ensinar as crianças a amar, vocês as ensinam a odiar. Quando eu digo que “Procurando Dory” e o massacre de Orlando tem a ver um com o outro, eu estou querendo dizer que essa mensagem de whatsapp que você acha inocente, na verdade é a culpada. É ela que inicia mais uma corrente de ódio, que vai culminar em mortes, físicas e psicológicas, dos seus filhos ou dos outros através deles.
Nas animações infantis o amor sempre vence. Queria eu que na vida também fosse assim. Nós perdemos muitas batalhas, é verdade, mas nenhum vilão vai matar nosso amor. Todos os dias existem vitórias maiores que qualquer ódio. Nós só vamos ficar mais fortes para enfrentar o mal, o ódio.
Nós somos um mar de possibilidades. Continuemos a nadar!
ATUALIZAÇÃO: A apresentadora Ellen DeGeneres, que empresta a voz para a Dory na versão americana no filme, afirmou em entrevista que Sting-Ray, o professor arraia do Nemo, adotou um novo nome para “Procurando Dory”. Agora ele passa a se chamar Sting-Rhonda, sendo assim a primeira personagem transgênero da Disney. Já quero esse filme pra ontem, por favor! *-*