[LIVROS] “Menina Má” – um pouco sobre psicopatia infantil e hereditária

[LIVROS] “Menina Má” – um pouco sobre psicopatia infantil e hereditária

“Nascemos todos inocentes e somos corrompidos pelo mundo à nossa volta? Ou será a maldade uma espécie de semente que carregamos dentro de nós, capaz de brotar na mais adorável das crianças?”

Desde que “Menina Má”, de William March foi lançado pela DarkSide Books, eu fiquei morrendo de ansiedade para tê-lo logo em minhas mãos. E como uma viciada em casos de psicopatia/serial killers, posso garantir que o livro não ficou a desejar.

Rhoda é uma garotinha adorável, “singular, modesta ou tradicional”, com cabelo fino, liso, de um castanho-escuro opaco (não me perguntem o porquê do filme e da capa terem uma garotinha e boneca loiras), com fenda entre os dentinhos e com uma covinha unilateral. Mas se engana quem acha que Rhoda é a personagem principal. Apesar de ser o assunto e tema do livro, é ao redor de sua mãe, Christine Penmark, que o livro gira. 

Desde o dia 7 de junho, dia do piquenique da Escola Primária Fern, a Sra. Penmark redobrou sua atenção pela filha. Ela tinha certeza de que a menina, que desde sempre fora um tanto quanto fora dos padrões para uma criança, estava de alguma forma envolvida no assassinato de seu colega de escola, o jovem indefeso Claude Daigle. O motivo ela tinha: dias antes o garoto havia ganhado a medalha de ouro concedida anualmente à criança, cuja a caligrafia mais se aperfeiçoou no decorrer do ano letivo, prêmio que Rhoda almejara desde o início. Mas seria ela capaz de causar a morte dele apenas por isso?

No decorrer do livro vamos nos deparando com pistas e indícios sobre esse suposto acidente, tudo através da visão de Christine (embora o narrador seja onisciente em terceira pessoa). A leitura é leve e fácil de digerir. Apesar de não causa mais tanto impacto quanto causou na época de lançamento (1954), o livro não deixa de ser inquietante. Desejamos avidamente saber o que ocorreu naquele primeiro final de semana de junho, assim como mais sobre o passado suspeito da garotinha e também sobre as descobertas de Christine no seu estudo sobre psicopatas. 

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Foto: Darkside

Além de tudo, ainda contamos com um baita protagonismo feminino. Temos uma mãe sozinha lidando com as dificuldades de criar sua filha fora no normal. Ela carrega as dúvidas entre o que é certo e o que é melhor, enquanto sofre com a distância do seu marido que viaja a trabalho, e com a pressão social que sofreria caso descobrissem tudo a cerca da menina. As perguntas iniciais permeiam todo o livro, e por vezes é difícil responder. Diria até que mesmo ao final do livro, elas ainda permanecem em nossas mentes, com respostas plausíveis para ambos os lados. 

Se algo me incomodou na leitura foram alguns fatores jogados e sem demais explicações. Como por exemplo, a suposta paixão do zelador Leroy por Rhoda, ou a “homossexualidade enlarvada” de Emory, irmão solteiro de meia-idade de Monica Breedlove – amiga de Christine. A única explicação possível são os transtornos passados pelo autor, como é exposto no prólogo do livro, por Elaine Showalter. Fora isso, a leitura continuou sendo prazerosa e instigante.

Recomendado fortemente para os leitores das seções Crime Scene e Cine Book da mesma editora. Lembrando também que “Menina Má” é um romance que influenciou não só a literatura como o cinema e a cultura pop. A crueldade escondida na inocência da pequena Rhoda Penmark serviria de inspiração para personagens clássicos do terror, como Damien, Chucky, Annabelle, Samara, de “O Chamado” e o serial killer Dexter.

O livro ganhou uma montagem nos palcos da Broadway pouco tempo depois de seu lançamento em 1956; uma adaptação ao cinema “Tara Maldita” (The Bad Seed), indicada a quatro prêmios Oscar, incluindo o de melhor atriz para a menina Patty McComarck, que interpretou Rhoda Penmark.

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Menina Má

William March

Editora DarkSide

272 páginas

Capa dura

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36 Textos

“O senhor não imagina bem que eterna variação de gênio é aquela moça. Há dias em que se levanta meiga e alegre, outros em que toda ela é irritação e melancolia.” (Ressurreição, Machado de Assis). 20 anos, estudante de Engenharia e que prefere passar o dia vendo filmes do que com a maioria das pessoas.
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