“Elas são lindas, elas são perigosas. Mulheres lobo. Têm a missão de garantir a continuidade da espécie e a supremacia das lobas na sociedade. Mas foram enganadas, perseguidas e agora querem vingança. Esqueça os vampiros e esqueça os mortos-vivos. Chegou a hora das lobas”
Essa é a sinopse encontrada no livro de estreia do escritor e quadrinista Rafael Campos Rocha, autor de “Deus essa gostosa” (Companhia das Letras, 2012). Em “Lobas” temos uma história de aventura e terror com um enredo cinematográfico que envolve humanos, lobisomens e monstros dignos da imaginação de H.P. Lovecraft.
Aqui temos uma história dentro de outra, a expectativa de tentar descobrir a relação entre as duas gera um suspense agradável que nos agarra.
O livro é dividido em quatro partes, ou noites se preferir, nas quais um grupo de adolescentes se encontra para ouvir uma história de terror contada por Roma, uma garota misteriosa que exerce alguma forma de controle sensual sobre as amigas, que são absorvidas pelos seus dons narrativos que beiram o sobrenatural.
A história que Roma conta é a de Lupina e Hermínia, duas lobisomens fêmeas que desafiam a instituição da Matilha. Para quem conhece jogos de RPG como “Lobisomem: O Apocalipse”, o conceito da Matilha não é algo novo , mas o autor inova ao transformar a sociedade dos lobisomens em um matriarcado (Fúrias Negras, melhor tribo), onde fêmeas centenárias são as que mandam em toda a espécie. Com o passar dos anos e a busca para manter os lobisomens vivos e ocultos, as anciãs se tornaram corruptas dentro de suas próprias leis. Sedentas pelo poder, acabaram criando um ambiente hostil para os jovens que ousam se rebelar contra o duro sistema do grupo, como é o caso das personagens principais que questionam os papéis dados a elas na ocasião de seu nascimento.
Lupina é uma Reprodutora, mantida pela Matilha apenas para gerar novos lobisomem puro-sangue para o grupo. Sua função é acasalar com um dos reprodutores enviados pela Matilha, um monstro semi-racional feito de músculos e violência. Hermínia é a loba-soldado que precisa certificar que Lupina cumpra o seu papel. Castrada quando ainda era filhote, ela só sabe obedecer às ordens da Matriarca e caçar lobisomens desobedientes, mas quando seu caminho cruza o de Daren, um jovem bonito e inteligente, ela acaba refletindo sobre o próprio destino que lhe foi imposto.
O autor aproveita o cenário fantástico para fazer algumas críticas sociais relevantes como o racismo e o machismo dos brasileiros, que passou de forma velada por muito tempo, mas que está cada dia mais escancarado. Mesmo que em certos pontos as críticas se apresentem de forma muito didática, o autor acerta ao trazer essas discussões para dentro da ficção voltado a um público jovem, mostrando que ficção pode ser divertida e informativa ao mesmo tempo.
Apesar das descrições constantes sobre a beleza das lobas, as personagens femininas possuem personalidades distintas. Embora o autor tenha feito um trabalho melhor ao construir suas “lobisminas”, as adolescentes também possuem suas particularidades. Também é interessante ler um livro onde a maioria dos personagens é mulher, desde as personagens principais, passando pelas antagonistas e coadjuvantes de destaque. O personagem masculino de maior importância é Daren, um imigrante negro que por acidente se vê no meio da turbulenta trama dos lobisomens.
No mesmo caminho de outros escritores nacionais da atualidade, R.C. Rocha nos apresenta um Brasil de várias caras, urbano em alguns pontos e rural logo em seguida. Mesmo que use um pouco do folclore nacional para legitimar seu universo, ele foge da maioria dos estereótipos comuns sobre a nossa cultura.
Lobas é o primeiro livro de uma trilogia e o segundo chega às livrarias ainda esse ano também pela Editora Veneta.
Lobas
R.C. Rocha
224 páginas
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