Jovens Bruxas: Magia, bullying e feminismo

Jovens Bruxas: Magia, bullying e feminismo

Lembro que na década de 90, época de pré-adolescência, acompanhei minha prima um pouco mais nova numa ida à locadora de filmes. Depois de ficarmos discutindo um tempo sobre qual filme levaríamos, finalmente escolhemos “Jovens Bruxas” (The Craft). Logo nos encaminhamos alegremente para casa e quando nos sentamos e assistimos o filme ficamos A-P-A-I-X-O-N-A-D-A-S!

Esta obra é um marco dos anos 90 e conquistou vários jovens. A história, as personagens, a trilha sonora (inclui “The Smiths”) e os cenários, são simplesmente impecáveis e revê-lo traz toda aquela nostalgia de quem foi adolescente nessa época. Falarei do filme esperando animar os conhecedores a reprisá-la e instigar a  curiosidade para quem nunca viu.

Jovens Bruxas estreou em 1996, dirigido por Andrew Fleming. Foi o responsável pela estreia das atrizes Fairuza Balk, Rachel True, Robbin Tunney e Neve Campbell. Foram empregados efeitos especiais de ponta, exaltando a “moda gótica” e o comportamento pagão para a geração de jovens da época de uma forma bastante atraente.

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Somos apresentados a personagem Sarah Bailey, que acabou de se mudar para Los Angeles, vindo de São Francisco, Califórnia. Assim como qualquer adolescente seu desejo é ser respeitada e aceita como ela é, mas parece que coisas estranhas acontecem inevitavelmente. Inicialmente sente dificuldades para se incluir e interagir com os alunos do novo colégio, porém não tarda muito e ela faz amizade com três meninas da instituição (que também sofrem exclusão pelos colegas), são elas: Nancy, Bonnie e Rochelle. As três meninas são estudantes de bruxaria e acreditam que Sarah é quem faltava para o coven (grupo) estar completo. Sarah vai aprendendo sobre bruxaria e todas as meninas vão se aprofundando mais nesse conhecimento antigo. Cada uma das meninas usa a magia para se ajudar da forma que acha melhor, e cada uma delas possui um interesse inicial diferente pelo estudo da magia, porém entre elas há bastante empatia e união. Só que muitas coisas no desenrolar do enredo vão saindo de controle.

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Acho muito interessante falar das características de cada uma das personagens desse grupo em questão, pois nos é mostrado muito mais que magia, em uma análise intrínseca das meninas, vemos o que as levam a serem como são e os motivos de suas atitudes.

Nancy: uma adolescente problemática que apesar de se mostrar a durona, possui grandes dificuldades no seu lar com um padrasto misógino, que não respeita ela e nem sua mãe. Junto com as outras sofre bullying no colégio e dá a entender que possui raiva de homens. Parece ser a mais solitária e sem apoio e por isso se mostra tão egoísta. 

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Sarah: bastante introvertida, porém é direta ao falar o que acredita. Sente muitas dificuldades no novo colégio desde o primeiro dia de aula e não se dá bem com os outros alunos. Possui grande bondade e empatia, apenas quer ser respeitada.

Bonnie: uma jovem complexada. Se preocupa muito com a visão dos demais sobre ela mesma, e possui marcas de queimadura em seu corpo, das quais ela se envergonha muito. Seu maior desejo é “ser normal” e ter enfim aceitamento dos outros alunos.

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Rochelle: é a única negra do grupo, bastante determinada e sofre racismo pelas outras alunas do colégio. O racismo a afeta muito e faz com que cada vez mais seu ódio por quem a trata assim aumente, mesmo ela sendo alguém com empatia e disposta a conversar.

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Foi muito interessante observar as características pessoais e psicológicas de cada uma das meninas, pois se tornou muito fácil a identificação com elas para quem assistia, já que bullying e outros tipos de tratamentos ofensivos sempre foram tidos como “normais” e inerentes ao ambiente escolar por muitas pessoas (ainda mais na década de 90). Ali vemos um grupo de meninas que não se enquadram, não se adaptam, se unindo e fazendo das fraquezas sua força, servindo de apoio umas as outras para as situações vivenciadas.

O filme gerou grande impacto na cultura pop, por todo o visual e conceito apresentados, fazendo com que muitos adolescentes se interessassem por paganismo e bruxaria, especialmente “wicca”. Muito desse interesse passou, mas é notável que a obra foi um auxílio para que religiões menos conhecidas “tivessem seu momento pop” por um tempo, dando mais visibilidade as mesmas. Apesar de ser ficção, muitos detalhes de “Jovens Bruxas” são baseados em crenças e práticas neo-pagãs.

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Mesmo contendo sensacionalismo na obra, uma sacerdotisa wiccana, Pat Devin, ajudou em muitas características do filme com seu conhecimento verdadeiro. Por isso várias passagens  realmente tratam-se da realidade pagã. Obviamente alguns fatos são fictícios, mas muitos deles possuem embasamento na bruxaria.

A entidade nomeada no filme é totalmente fictícia, já que muitos desavisados poderiam tentar invocar uma entidade verdadeira se ela fosse inclusa na obra, então dessa forma foi evitado problemas.

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Parece estar em produção uma continuação dessa obra pela direção de Leigh Janiack, mas sem nenhuma previsão.

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“Jovens Bruxas” é um filme muito legal e com uma pegada bem feminista, mantendo uma visão firmada contra o bullying. É muito interessante para os cinéfilos nostálgicos pela década de  90 (como eu), ou para quem gosta de enredos ligados a magia. Vale super a pena assistir essa obra, vocês não vão se arrepender.

Escrito por:

Ilustradora, quadrinista, colorista, amante da arte tradicional. Fã de mangá e anime desde a infância, gamer e rpgista. Amante de livros e viciada em seriados. Seus gêneros favoritos de filmes inclui thriller psicológico e animação. Curte rock alternativo, rock clássico, indie rock, metal (folk, viking e heavy). Sente-se determinada como sua heroína Mulan, mas gosta de abraços quentinhos igual o Olaf.
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