Bioshock: a passagem da utopia para a distopia

Bioshock: a passagem da utopia para a distopia

Quem nunca sonhou com uma sociedade igualitária? Ou nunca quis um futuro onde a liberdade de se expressar fosse garantida? Ao sonharmos com utopias, podemos acabar vivenciando uma mudança para terríveis futuros distópicos. A sociedade presente em “Admirável Mundo Novo” ou “1984” já nos mostra como o autoritarismo revestido de uma roupagem diferenciada acaba dando no mesmo fim: uma utopia negativa. E é nessa pegada distópica em que o primeiro jogo da série “Bioshock” é lançado.

A história de Bioshock começa com um cidadão russo que vivenciou a Revolução Socialista, mas não flertava muito com o que era pregado, logo esse cidadão se muda para os Estados Unidos e adota o nome Andrew Ryan. Apesar de Andrew conseguir sair da Rússia, ele ainda se decepciona com os EUA, devido à todo fanatismo religioso presente no país.

Com uma utopia de construir uma cidade onde “o artista não temeria censura, o cientista não seria atrapalhado pela moralidade e o grande não seria limitado pelo pequeno”, um lugar onde não haveria a noção de deuses, apenas seres humanos; Andrew usa sua riqueza para construir Rapture, uma cidade submersa.

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Os habitantes de Rapture eram selecionados à dedo pelo próprio Andrew, sendo selecionado, em sua grande maioria, cientistas de renome. Estes cientistas rapidamente começaram a se mudar em massa para Rapture, o que ocasionou de diversas pessoas que ajudaram a construir a cidade, ficassem sem moradias. Habitantes com trabalhos ditos “simples”, como limpar e cozinhar, logo foram realojados em uma parte esquecida da cidade, chamada Paupers Drop. Além de ficar afastada de tudo, Paupers Drop não recebia luz solar e rapidamente as pessoas começaram a entrar em depressão. Quando começa a perceber a revolta das pessoas, Andrew contrata uma psicóloga para tratar da “situação” (manobras de um sistema autoritário). Esta psicóloga acaba se tornando uma rival de Andrew e começa a denunciar certas injustiças.

little-sister1-639x1024A situação de Rapture começa a mudar quando uma cientista descobre um plasmídeo capaz de dar “superpoderes” às pessoas, manipulando o DNA de seres humanos. Porém, o único organismo que conseguia se adaptar ao plasmídeo ADAM era o de meninas com menos de 10 anos. Os cientistas descobrem que para produzir ADAM em massa precisavam de várias meninas, com isso se aproveitam da pobreza de Paupers Drop e criam um orfanato, alegando que seria para auxiliar as crianças de Paupers Drop. Se aproveitando das crianças, os cientistas finalmente conseguem produzir ADAM para uso comercial, e com isso Rapture passa de um autoritarismo com mesclas de capitalismo, para uma sociedade com traços de anarquismo misturado com um distopia pós-humana.

Rapture é a idealização de um sonho da elite que não dá certo. Observamos como o discurso meritocrático se faz presente no jogo, justificando vidas “que valem mais e outras que valem menos”. Além disso, Bioshock faz uma crítica à busca incansável por riqueza (presente em diversos personagens no jogo) e no velho ditado de “os fins justificam os meios”, onde podemos perceber o nível de depreciação presente em uma sociedade que visa o lucro como força norteadora. A desigualdade social presente no jogo é cuidadosamente desenvolvida e também criticada.

Jogar “Bioshock” é um lembrete para analisarmos como os discursos travestidos de uma falsa igualdade podem representar uma injustiça ainda maior do que as existentes. O objetivismo presente na trama mostra como as corporações são responsáveis por ditar os ramos econômicos e sociais na vida da população. No universo de Rapture temos um dogma: mandam os que tem dinheiro, ou como diria Andrew Ryan “um homem escolhe, um escravo obedece”.

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Feminista e estudante de serviço social. Ama Star Wars e é viciada em gatos. Adora conversar sobre gênero e brinca de ser gamer nas horas vagas. Nunca superou o fim de The Smiths.
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