Recentemente, a nossa tão querida caveirinha iniciou o selo de Graphic Novels, e Wytches foi uma de suas estreias. Desde o início é importante saber que a obra é diferente de tudo o que estamos habituadas a ver sobre o universo a qual esta se propõe apresentar:
“Esqueça tudo o que você já ouviu falar sobre bruxas; quase todas as informações devem estar erradas, de qualquer forma. Aquilo que você aprendeu na escola — que, por séculos, centenas de pessoas foram queimadas, torturadas, perseguidas e assassinadas por bruxaria — é um fato. O que ninguém contou para você é que essas pessoas morreram para proteger uma terrível realidade escondida dos meros mortais: bruxas, bruxas de verdade, existem e estão por aí. Elas são criaturas muito mais perversas e diabólicas do que você poderia pensar — e, portanto, muito mais assustadoras. Ver uma é coisa rara; sobreviver a elas é mais raro ainda.”
Escrita por Scott Snyder e com arte de Jock, Wytches nos traz o recomeço da família Rook em 2014, após sua mudança para Litchfield. Desnecessário dizer que esta tentativa de enterrar o passado tenha sido frustrada por problemas ainda maiores – as bruxas. Mas se engana quem acha que este é o principal foco da narrativa.
Inicialmente protagonizada por Charlie Rook, a história se desdobra na sua relação com a filha Sailor – uma garota de apenas 13 anos que vem sendo aterrorizada por criaturas malignas, que intensificam ainda mais seus problemas psicológicos e os relacionados à idade (como o bullying). E são exatamente estes dois últimos que deixam a trama tão envolvente e maravilhosa.
As bruxas servem quase que unicamente como fator potencializador das dificuldades enfrentadas por Sailor e seu pai. Vindos de uma outra cidade, tentando remediar os traumas anteriores, os dois têm de enfrentar agora seus maiores medos. Enquanto ela se esforça para lidar com uma nova escola e com os rumores que a perseguem desde a cidade anterior, ele enfrenta pavor de qualquer um que tenha filho: a perda dele.
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Importante ressaltar que, como o próprio Scott diz, “a HQ é absurdamente pessoal”. É visível que muitos dos diálogos e passagens foram baseados diretamente na vida do autor durante sua infância, vida adulta e como pai. Ter tal propriedade para falar dos problemas enfrentados pelos personagens (principalmente por Charlie), deixa tudo ainda mais fascinante e verossímil, mesmo que dentro de um cenário como este.
E, diga-se de passagem, QUE CENÁRIO! A arte do exemplar é incrível, e parte do processo de criação se encontra como material extra, assim como na edição original, além da explicação da origem da ideia e dos objetivos deste projeto.
Sem sombra de dúvidas a DarkSide Books acertou novamente em cheio para a escolha deste título em seu catálogo. A arte, o universo, a narrativa… toda a edição merece a nossa atenção e incentivo para o tão aguardado “volume 2” desta jornada – que promete desta vez um protagonismo maior para Sailor!
Wytches
Scott Snyder, Jock, Matt Hollingsworth, Clem Robins
Capa dura, 192 páginas