[GAMES] Submerged: O protagonismo feminino em uma realidade submersa (SEM SPOILER)

[GAMES] Submerged: O protagonismo feminino em uma realidade submersa (SEM SPOILER)

Lançado em 2015 pela Uppercut Games, Submerged é um jogo indie em terceira pessoa cuja trama gira em torno da chegada da protagonista Miku e seu irmão Taku em uma cidade abandonada e parcialmente submersa em água. A história coloca a jogadora no controle de Miku, que precisa navegar pela cidade e escalar edifícios abandonados para procurar itens que ajude a salvar o seu irmão que está ferido, a princípio, por motivos desconhecidos. Submerged pode parecer um jogo tradicional de mundo aberto, entretanto, se diverge dos demais, não só pela construção diferenciada da narrativa e dos personagens, mas também pelo sistema incomum de exploração.

Submerged
Imagem: Uppercut Games

Logo no início é possível perceber que Submerged não procura despertar uma adrenalina na jogadora ou incentivá-la a consumir o produto rapidamente. O game se apropria de um sistema de exploração diferenciado, que não envolve combates, prezando assim por uma aventura com uma jogabilidade simples e que ao mesmo tempo proporcione uma experiência calma e relaxante. Essa tranquilidade é visível na ambientação do game, que, embora apresente a situação pós-apocalíptica e catastrófica de uma cidade submersa, tanto a narrativa quanto o design do universo não traz à tona uma atmosfera sombria e melancólica, pelo contrário, o ambiente é equilibrado. Isso é comprovado ao mostrar o que restou da cidade em sincronia com a natureza, seja pela presença constante de plantas atreladas aos grandes edifícios ou à aparição de animais durante a jornada da protagonista. A trilha sonora do jogo fomenta o equilíbrio e tranquilidade do ambiente ao trazer músicas lentas e melodias harmoniosas.

Confira a trilha sonora abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=KeLGuHHitoM&t=511s

Claramente, Submerged não busca trazer uma experiência dinâmica, pois além da ausência de combates e do incentivo constante, ao observar o ambiente com calma, os objetivos não são complexos.

Durante a trama, Miku precisa sempre explorar o local, seja escalando edifícios para buscar as caixas com os suprimentos que irão salvar o seu irmão, ou navegando pela cidade à procura de peças para a melhoria do seu pequeno barco. À medida que o mapa é revelado, encontrar os objetos não é uma tarefa difícil, e, mesmo se for, o jogo oferece uma luneta que torna possível identificar onde os objetos estão até uma determinada área de visão, auxiliando na exploração do mapa de forma mais rápida.

Outro ponto que torna Submerged um jogo relativamente fácil é o fato de que, não importa o tempo que a jogadora gaste para cumprir os objetivos, não existe “game over”, pois Taku, o irmão ferido da protagonista, não irá morrer se Miku demorar para trazer os itens necessários.

Submerged
Imagem: Uppercut Games

Essa falta de cobrança em relação ao cumprimento dos objetivos e a ausência de conflito, pode decepcionar algumas pessoas que estão em busca de um jogo desafiador. Todavia, isso não invalida Submerged, pois mesmo com gráficos razoáveis e jogabilidade simples, ao encaixar em sua categoria, ele se apresenta como um jogo interessante, possuindo revelações surpreendentes durante a narrativa que pode agradar tanto novatas quanto jogadoras fervorosas.

Ainda que se diferencie dos jogos tradicionais de mundo aberto, a narrativa de Submerged é satisfatória e concreta como a maioria dos games, possuindo um mistério que precisa ser desvendado de maneira criativa caso a jogadora queira entender o passado dos personagens e da cidade.

A história de Miku e Taku é aos poucos desvendada por meio de pinturas rupestres que ilustram as lembranças da protagonista, e são concedidas sempre que um dos objetivos é cumprido. Os mistérios da cidade submersa são também representados por pinturas rupestres, entretanto, para descobrir o que se passou nesse universo é necessário recolher os papéis espalhados pela cidade.

Outro ponto que torna a narrativa interessante e simultaneamente incentiva a explorar o ambiente são os itens colecionáveis. Eles trazem atrações turísticas da cidade e os animais presentes nela após a catástrofe, e são representados da mesma maneira que as lembranças de Miku, por meio de pinturas rupestres. Para consegui-los basta navegar pelo universo de Submerged e encontrá-los.

Submerged
Imagem: Uppercut Games

Entretanto, é preciso destacar que um dos principais atrativos do jogo gira em torno da personagem principal, cuja construção é marcante pela presença do protagonismo feminino atrelado à diversidade cultural e representatividade.

Primeiramente, Miku é uma personagem feminina não só controlável, mas também a figura principal da história. Isso é algo raro de se encontrar na indústria dos games, que apresenta as personagens femininas como a minoria secundária, não controlável e com participação passiva na trama. Esse diferencial traz outro ponto interessante de Submerged, que é o fato de Miku não ser representada como a vítima fragilizada e dependente de uma figura masculina.

Mesmo sendo um jogo com pouquíssimas falas, é perceptível que Miku traz uma personalidade esforçada e determinada a cumprir seus objetivos com ou sem a ajuda de qualquer pessoa. Isso pode ser visto também por meio das pinturas rupestres, em que revela o motivo pelo qual ela foi parar na cidade submersa. É bastante evidente que ao colocar Taku, o irmão de Miku e a única figura masculina da trama, dependente dela e não ela dele, traz à tona uma quebra de paradigmas machistas que são presentes em vários jogos e que delegam a dependência da mulher a um personagem do gênero masculino.

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Além da própria participação e personalidade, Submerged traz a personagem Miku um design inovador que entra em conflito com estereótipos envolvendo a sexualização da mulher nos jogos. Em momento algum, a câmera se posiciona de forma que destaque mais os seios ou a bunda da personagem e, tampouco, utilizou as roupas para dar mais valor ao corpo da protagonista.

Além de não ser sexualizada, Miku é uma personagem diversificada em sua aparência, saindo do padrão de beleza comum dos jogos que envolve massivamente personagens brancas e urbanas. As roupas e aparência de Miku remetem a uma cultura semelhante a dos povos indígenas ou africanos.

Veja a aparência de Miku:

Submerged
Imagem: Uppercut Games

A indústria dos games ainda carece de protagonismo, representatividade e diversidade envolvendo o gênero feminino. Seja dentro público, na jogabilidade ou na própria narrativa, há um gritante desequilíbrio envolvendo a diferença entre os sexos. Tendo em vista esse problema e por ser um jogo que desvia de diversos padrões consolidados nos videogames, Submerged pode ser considerado um avanço em meio a uma indústria que ainda utiliza do machismo para construir e promover os seus produtos.

O jogo não possui dublagem nacional, mas traz interface e legendas em português. Submerged está disponível para PC, PS4 e Xbox One.

Gostou da análise? Assista o trailer do jogo:

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Estudante de jornalismo, cacheada, vegetariana que é viciada em chá gelado e adora comida. Geralmente passa as horas vagas jogando no PC, lendo livros, assistindo documentários na Netflix e fazendo seu papel de otaku curtindo um anime ou mangá aleatório.
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