Copa do Mundo de Futebol Feminino de 2019: um sopro de esperança

Copa do Mundo de Futebol Feminino de 2019: um sopro de esperança

Aguardei com bastante ansiedade o início da Copa do Mundo de Futebol Feminino. Desde as Olimpíadas de 2016, quando o Brasil arrebentou na fase de grupos, teve uma sofrida vitória nos pênaltis contra a Austrália nas quartas, para depois ser derrotada, em pleno Maracanã, também nas penalidades, pela Suécia (aquela mesma Suécia da qual tinha ganhado de 5 a 1 na fase de grupos). Depois amargou uma derrota para a seleção do Canadá na Arena Corinthians e se despediu da competição sem levar o bronze.

Copa do Mundo de Futebol Feminino
Brasil x Canadá na Rio 2016. Autor: Paulo Whitaker. Crédito: Reuters (reprodução)

Foi sofrido? Foi. Mas além do sofrimento da derrota, também ficou na torcida aquele gostinho de quero mais. Perdeu, mas perdeu com garra. Era notável a imensa força de vontade que todas as jogadoras demonstraram ao longo de toda a competição. Esse afinco das jogadoras fez que fossem extremamente aplaudidas após a derrota, e chamou atenção de torcedores e até da CBF e de patrocinadores, tornando a Copa do Mundo de Futebol Feminino a competição de futebol feminino mais comentada até hoje, mesmo antes da estreia.

A esperança é grande, mas as incertezas também

Há muitas dúvidas sobre o desempenho que a equipe terá durante a Copa. A última vez que a seleção feminina venceu em um jogo oficial foi em julho de 2018. Chovem críticas ao técnico Vadão, que comandou a seleção de 2014 até 2016, na Rio 2016, e depois foi substituído por Érika Lima, técnica que comandou a seleção por apenas 10 meses.

Vadão voltou a seleção com a função de comandar o time na Copa do Mundo visando a taça, porém sua atuação pífia na Copa SheBelieves, onde a seleção saiu sem vitória e a desorganização tática e falta de entrosamento da equipe era visível, cria grande insegurança sobre o futuro da seleção. E os questionamentos surgem. Seriam toleradas tantas derrotas sem mudança técnica caso a seleção ainda estivesse sob comando de Érika Lima ou outra mulher? Ou se o mesmo desempenho fosse de um técnico da seleção masculina?

Copa do Mundo de Futebol Feminino
Marta se recuperando de lesão: Crédito: Rener Pinheiro / MoWA Press (reprodução)

Outro fator preocupante são os desfalques. Fabi Simões, lateral-direita do Internacional, foi substituída poucos dias antes do início da Copa por Poliana, jogadora do São José, devido uma lesão da coxa direita. A zagueira Érika, jogadora do Corinthians, foi desconvocada da seleção aos 45 do segundo tempo e substituída por Daiane do Paris Saint-Germain. E a aclamada atacante Marta Silva, Maior Artilheira da História da Seleção Brasileira (tanto masculina quanto feminina) e Maior Artilheira da História das Copas do Mundo de Futebol Feminino, vem driblando uma lesão na coxa esquerda, o que a impediu de jogar na estreia contra a Jamaica. 

A visibilidade do futebol feminino em 2019 incentivará futuras jogadoras

São tantas dificuldades enfrentadas pelas atletas, em um país onde futebol feminino chegou a ser proibido no Brasil, entre 1940 e 1980. De falta de apoio financiamento, além da infraestrutura nas categorias de base que formam as futuras jogadoras (embora tenha melhorado nos últimos anos, ainda é surreal se comparado ao incentivo que as categorias de base do futebol masculino recebem) há uma constante falta de visibilidade, reconhecimento e até mesmo salários.

Mas o fato é que tantas adversidades não abalam a esperança de mulheres que, como eu, cresceram no cantinho do futebol, nas margens da quadra, caçando uma oportunidade de jogar pelo menos uns 10 minutinhos na aula de educação física. Jogadores, comissão técnica, arbitragem e até a torcida sendo sempre majoritariamente masculina, assistíamos um número sem fim de jogos protagonizados por homens. Se enfrentamos dificuldades para participar até mesmo de um jogo de golzinho na rua, imagine para treinar em escolinha de base. Ouvindo aqui e ali uma crítica atrás da outra de que jogar futebol não é um comportamento aceitável para meninas, e só os rapazes podem se sujar por aí sem camisa, enquanto desviam de carro nas disputas de futebol na rua.

São tantos os impropérios ditos as meninas quando elas se enveredam pelo futebol. Reprimendas são feitas por pais, mães, professores, vizinhos e até pelos coleguinhas de partida.

Essa realidade é demonstrada no pagode “Jogadeira”, recém lançado pelas jogadoras Cacau e Gabi Kivitz:

“Desde pequena, muito preconceito.
Aqueles papo ‘futebol não é pra mulher’
Mas aprendi a dominar no peito, por no chão e responder com a bola no pé
Sempre com a molecada correndo na rua
É ligeira, monta o time, e a panela é sua
Não que brincar de boneca nem pintar na escola
Só quer saber de driblar, correr atrás de bola
Qual é, qual é?! Futebol não é pra mulher
Eu vou mostrar pra você mané
Joga a bola no meu pé.”

Futebol Feminino
Brasil x Jamaica- Copa do Mundo de Futebol Feminino 2019. Créditos: CBF (reprodução)

Que a visibilidade dada ao futebol feminino esse ano, através da transmissão de jogos do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino e da Copa do Mundo de Futebol Feminino em TV aberta, e do Grand Prix de Futebol Feminino e da Copa das Campeãs de Futsal Feminino na TV por assinatura, estimule garotas em todo o Brasil a ocuparem mais espaço no futebol brasileiro e mostrar a força, garra e alegria das mulheres em muitos campeonatos posteriores.

Autora convidada: Caroline Amaral e Sousa – cientista social. @caroldassociais

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