SHINee fez jus ao seu legado com “Atlantis”

SHINee fez jus ao seu legado com “Atlantis”

Em 25 de maio de 2008, debutou no k-pop o grupo SHINee, formado por cinco talentosos, brilhantes e animados rapazes: Onew, Jonghyun, Key, Minho e Taemin. A estreia com a música R&B Replay foi capaz de fazer toda uma geração dançar enquanto declarava o seu amor por uma mulher mais velha.

Após quase treze anos, SHINee mantém sua autenticidade e ritmos únicos. Portanto, com a busca de sempre se reinventar, lançaram em 2021 “Don’t Call me” (álbum “principal”) e “Atlantis, o reckpage (relançamento de Don’t Call Me com três músicas extras).

O último lançamento do grupo havia sido a trilogia The Story Of Light, em que seus álbuns foram divididos em três episódios, encerrando com Epilogue. E após os lançamentos e promoções, três dos quatro membros atuantes do grupo tiveram de se ausentar e iniciar suas as atividades no Exército, que é um dever civil obrigatório na Coreia do Sul, pelo período de mais ou menos dois anos.

Enquanto Onew, Key e Minho estavam em hiatos musical, Taemin – o membro mais novo do SHINee – estreava no grupo SuperM e investia também na carreira solo.

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Grupo k-pop SHINee
SHINee | Imagem via: SM Entertainment

Com o retornou às atividades no final de fevereiro de 2021, Don’t Call Me apresentou os ouvintes de k-pop o que o SHINee sempre ofereceu de melhor, como o grupo experimental que é: arriscou e apostou em estilos musicais ainda não explorados.

E deu muito certo, além de terem não somente se reinventado, mas também aproveitado fórmulas que já haviam dado certo anteriormente. Portanto, vamos explorar e opinar nesta resenha as faixas oferecidas em Atlantis, que é o álbum de Don’t Call Me com adição de três novas músicas.

Nota: a ordem dos títulos seguirá aquela disposta no álbum de Atlantis no Spotify.

Atlantis

A música se inicia de maneira inconfundível com a presença icônica do som de violão e em seguida, com Taemin explorando sua potência vocal totalmente gracioso e marcante. Com uma sonoridade pop, Atlantis compara a sensação de conhecer uma nova pessoa com a ansiedade de explorar o continente perdido de Atlântida: amedrontante por seus mistérios, mas com certeza emocionante e viciante.

Através de evidentes referências ao mar e aventuras marítimas, Key e Onew marcam a música com high notes que se equilibram com o rap de Minho e sua voz grave; Taemin, que iniciou a música com sua voz bem alta, também a entrega em uma tonalidade mais baixa.

Atlantis é uma música refrescante (tal qual parecida com View, música título do trabalho do SHINee em 2016 com Odd), perfeita para dançar com os amigos, mas também ideal para curtir bons momentos na própria presença.

CODE

Com um início contido, mas com as presenças marcantes entre os raps de Minho e Key, CODE convida o  ouvinte a se arriscar e tentar conhecer o desconhecido. E a melhor maneira de fazê-lo é “quebrando o código” e permitir se mover, explorar o real e se conhecer.

A música mescla seu som com ritmo eurodance e eletrônico. Já as upbeats se elevam ao desenvolvimento da música, harmonizando também com a voz dos quatro rapazes ao torná-la uma música dançante, agitada e divertida.

Don’t call me

Se com Atlantis éramos apresentadas à maravilhosa sensação de conhecer alguém novo, com Don’t call me a sensação é outra: com essa música, o desejo é de se manter distante e buscar esquecer a existência daquela pessoa que um dia foi uma parceira.

A letra explora a raiva da traição e a frustração em descartar os sentimentos que um dia foram puros e recíprocos. O grupo trabalhou com ritmos de trap, aprofundou seus versos no hip-hop, e as maravilhosas habilidades vocais de Onew entregaram um tom melódico para a canção. E, é claro, eles trouxeram uma coreografia agitada e dançante.

Cena do clipe "Don’t call me" do SHINee
Cena do clipe “Don’t call me” do SHINee | Imagem: reprodução

Apesar da crítica especializada não ter se agradado tanto com a música single do comeback do SHINee, ela é capaz de transmitir muito do espírito do grupo: experimental, diferente de toda a discografia dos rapazes e, ainda assim, consegue ser viciante e interessante de ouvir, afinal, é a primeira vez que se vê o grupo trabalhar com a fórmula de trap e com um R&B mais sombrio.

Area

Escrita por Minho, a música tranquila e gentil faz diversas referências às músicas de Jonghyun (Before our Spring, Just Chill) e passeia do por toda a discografia do SHINee (Replay, Sleepless Night, Evil, Honesty, Dream Girl, entre outras).

O rapper confidenciou que chegou a escrever e rescrever Area cerca de quinze vezes até ficar contente com o resultado. Com isso, vemos o afinco em tornar todas as referências harmônicas, construindo versos que contribuíssem na música delicada que Area é.

Provavelmente, de todas as músicas do álbum, essa foi uma das que mais explorou a voz dos rapazes: enquanto Key abre a canção com a voz baixa, Onew apresenta falsetes, e tanto Taemin quanto Minho surgem com a voz melodiosa, cantando versos tranquilos sobre a solitária sensação de perder alguém.

Versos destacados de "Area", do SHINee, com as suas respectivas referências
Alguns dos versos destacados de “Area” com as suas respectivas referências | via: @JonghyunWorld

Heart Attack

A música que fala sobre o quão impactante é se apaixonar ao ponto de causar um “heart attack” (ataque cardíaco, em tradução) já se inicia de maneira animada.

Com um estilo funky, a música chega a ter uma pegada retrô – já antes trabalhada pelo grupo com 1 of 1 – , mas ainda assim brinca com as batidas, sintetizadores marcantes e o ápice de agito com o refrão. Tudo isso compõe um excelente balanço dançante ao unir às vozes pares dos quatro cantores. Ideal para um romance agitado, Heart Attack é uma música que nunca é dispensável de se ouvir.

Marry You

É possível criar histórias de amor com músicas, não é? Marry You é a faixa que veio neste álbum para cumprir esse papel.

A história de amor aqui contada teve seu primeiro capítulo em 2008, com Replay. O eu-lírico busca chamar a atenção de sua noona (mulher mais velha) e tenta de todo jeito fazer com que ela confie nele, mesmo sendo mais novo.

Em 2015, Love Sick surgiu como um segundo capítulo (segundo ato) para afirmar a todos que sim, aquela história de amor havia vingado. E então, no capítulo final dessa história de amor, o eu-lírico surge com Marry You, pedindo sua musa em casamento.

SHINee se apresentando
SHINee se apresentando | Imagem: divulgação

A história dessa música é uma maneira do grupo SHINee firmar seu compromisso com o fandom; não no sentido romântico, logicamente. Mas busca firmar a confiança, gratidão e amor por todos os anos que o grupo e fãs estão juntos. Com isso, Marry You se apresenta como uma balada chiclete, delicada, sensível e deliciosamente sonora, perfeita para fazer parte da trilha sonora da sua história de amor.

Days and Years

Calma, ritmada e tranquila, Days and Years brinca logo no seu primeiro minuto com as diversas maneiras que as vozes dos quatro rapazes podem se apresentar.

Com batidas compromissadas que se unem com sintetizadores discretos, através de toda uma estrutura minimalista, forma-se uma música perfeita para um clima de comédia romântica, antecedendo a cena de um caloroso beijo no outono.

Os vários falsetes que Onew distribuiu entre os versos e a maravilhosa maneira como as vozes dos quatro combinam no refrão, tornam essa música viciante e impossível de tirar da sua playlist.

I Really Want You

Enquanto a música anterior era contida, I Really Want You apresenta uma explosão de sonoridade. Essa é uma das músicas que melhor representam o SHINee: com um mix de sons instrumentais (sintetizadores, o bater das palmas, a guitarra constante ao fundo, batidas agitadas… todos os elementos combinando entre si e tornando uma canção realmente enérgica) a música se apresenta de maneira totalmente pop.

As vozes de Onew, Key, Minho e Taemin se apresentam em um coro coeso que clama que quer sua amada e há de fazer valer todo esforço para conquistar e provar seu interesse. O fandom chega a considerar essa música uma continuação – não-oficial – de um título anterior, dentro de The Story of Light: I Want you.

Kiss Kiss

Em um mesclar de gerações, Kiss Kiss consegue trazer elementos marcantes dos anos 1980 e dos anos 2000: batidas únicas, a presença quase que imperceptível de instrumentos de corda e a maneira de trabalhar as vozes em coro.

Minho se destaca ao conduzir sua voz agradável por diversos versos. Já o sotaque dos rapazes, ao falar algumas palavras em inglês, torna toda a construção atrativa e agradável. Taemin, porém, surge com uma voz alta, quebrando o ambiente tranquilo até então construído – mas de maneira totalmente coerente.

A música fala sobre querer beijar “estes lábios de cereja”, mas ela se faz totalmente convidativa para dançar juntinho, em total azaração.

Attetion

Mais moderada e até tímida, Attetion traz consigo referências de jazz e blues em sua concepção. Com as quatro vozes dificilmente saindo de um tom mais baixo, a faixa aposta em assobios, estalos e uivos para buscar refletir sobre a percepção da própria pessoa ao se entender apaixonada. Talvez seja uma faixa um tanto genérica, mas que ainda assim faz sentindo dentro do álbum.  

Body Rhythm

De maneira quase unânime, Body Rhythm pode ser considerada a favorita dos ouvintes. Os móvitos se ampliam inicialmente por essa faixa ser um estilo musical ainda não executado pelo SHINee: o reggae.

Com batidas, ritmo e ritmicidade características desse estilo unido ao pop jam, a música se dispõe também de maneira pop e dançante, e surpreendentemente essa mescla combina e constrói um som dançante e único.

Os versos exploram a atração entre um casal e a maneira como os seus corpos se unem em um ritmo perfeito. Com isso, já se entende o clima sensual apresentado na canção.

Kind

Kind é uma faixa tranquila, calma e é a baladinha que encerra o álbum.

Com o piano acompanhado das vozes dos rapazes, a música busca construir uma reflexão sobre a jornada do grupo e dos membros como indivíduos.

Ao refletir sobre momentos do passado, a canção atribui a ideia de maturidade. O grupo também canta em agradecimento e apoio aos momentos de fragilidade e saudades que o grupo viveu durante os treze anos de  atividade.

E apesar de soar como uma música melancólica, Kind se apresenta, na verdade, como um afago e consegue ser totalmente agradável.

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O nono álbum e relançamento do SHINee mostrou o grupo sempre buscou trazer com seu legado: músicas vibrantes que, além de ter fazer querer movimentar cada parte do seu corpo, trará, também, acolhimento. Se com The Story of Light sentimos o amadurecimento dos rapazes ao som das saudades e uma dor no peito, em Don’t Call Me/Atlantis observamos as fases de uma história de amor com reflexões sobre a própria identidade e individualidade.

SHINee conseguiu apresentar o melhor de seu perfil experimental, além de explorar as habilidades vocais de seus membros, incluindo suas apresentações ao vivo, em que Key, em uma brincadeira “inocente”, lançou a tendência do ending fairy, que é nada mais, nada menos, que uma dramatização daquele momento em que os cantores recuperam o fôlego após alguma apresentação.

Por fim, após mais de dois anos em hiato, o comeback de SHINee foi formidável, digno de muitos streamings e elogios até para os não ouvintes de k-pop.

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Ket tem 23 anos, é formada em Letras - Língua e Literatura Portuguesa, pela UFAM. Nasceu e criou-se em Manaus, onde ainda mora. Não é capaz de conceber uma realidade em que as mulheres não sejam livres, uma vez que sua vida inteira viveu em um lar matriarcal. Gosta de histórias tristes, é fascinada pela cultura Sul-coreana e chora com animes.
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