Leitor de romances dramáticos ou não, tenho quase certeza que você ouviu falar sobre a adaptação cinematográfica de É Assim Que Acaba nas últimas semanas. Embora não tenha liderado as bilheterias em seu país de origem, o filme dominou as bilheterias brasileiras por dois finais de semana consecutivos.
O público geral ultrapassou os de outras grandes e aguardadas estreias simultâneas, como Deadpool e Wolverine e Meu Malvado Favorito 4, resultando na geração de uma receita que ultrapassa os R$11 milhões apenas em vendas de ingressos.
Atenção: Os parágrafos a seguir contém spoilers!
A trama é baseada no livro homônimo, lançado em 2018 e distribuído no Brasil pela Editora Galera Record. A história acontece em Boston, onde, após a morte do pai e um funeral desastroso, Lily (Blake Lively) conhece Ryle (Justin Baldoni), um neurocirurgião com um passado marcado por relacionamentos fracassados.
À medida que a história se desenvolve, a vida dos dois se cruzam até virar um romance inicialmente perfeito, mas que se torna um pesadelo conforme Ryle se torna um marido violento e abusivo. Atlas Corrigan (Brandon Sklenar), ex namorado de Lily, é um dos principais pontos de conflito entre o casal.
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Fenômeno literário
Se antes da estreia nos cinemas o livro já estava entre os mais vendidos no Brasil, após o sucesso astronômico do longa os títulos da mesma autora de É Assim que Acaba tomaram conta da lista dos 16 livros mais vendidos no país. Mas, sinopses e rankings à parte, quem é a escritora desse enredo, e por que seus livros arrebatam tantos leitores ao redor do mundo?
Trata-se de Colleen Hoover, fenômeno da literatura de romance e drama (e um pouco de suspense, por que não?) contemporânea. Entre os títulos mais famosos da norte-americana, além da recente adaptação cinematográfica, estão É Assim que Começa (2022), Verity (2019), Novembro, 9 (2016) e Todas As Suas Imperfeições (2019).
Nascida em dezembro de 1979 no Texas, Estados Unidos, Colleen Hoover possui uma escrita capaz de abordar temas complexos com sensibilidade, de forma a envolver os leitores em qualquer que seja a trama. Seus livros, que transitam entre o romance jovem adulto e o thriller psicológico, exploram questões humanas comuns, como traumas, amores, perdas e a busca por identidade.
O romance de Colleen Hoover vai além do clichê
Uma das principais características da autora é a criação de personagens tão reais que fazem o leitor se questionar sobre suas próprias escolhas. A complexidade dos personagens permite que o leitor se identifique com a história, mesmo que ela seja distante de sua realidade.
Outro grande trunfo de Colleen Hoover é a capacidade de abordar temas que chocam o público, mas que são mais comuns do que parecem. A autora consegue transformar experiências como agressão, sociopatia e obsessão em histórias que prendem e geram empatia no leitor.
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A popularidade da escritora de É Assim Que Acaba ultrapassa a linha do romance clichê. A autora surpreende com tramas profundas e emocionantes que contrastam com a simplicidade de suas capas. Ler uma obra de Colleen significa ter de lidar com suspense, intrigas, tragédias e mistério, o que, na maioria das vezes, gera um misto de sentimentos (muitas vezes divergentes) no leitor.
Além do entretenimento, os livros de Colleen Hoover muitas vezes oferecem um momento de reflexão sobre nossas próprias vidas, nossa maneira de ver o mundo e até a forma como julgamos as ações alheias. Ao nos conectarmos com as emoções e experiências individuais de seus personagens, somos levados a questionar nossos valores, nossos medos e nossos objetivos.
Nem só de fãs se faz uma autora best seller
É indiscutível que Colleen Hoover está nos holofotes literários há algum tempo, mas é preciso destacar que isso não se dá apenas por sua popularidade positiva. Nem todos os leitores se conectam com sua escrita, e isso acaba gerando uma espécie de bifurcação literária que divide o público em dois grupos: os que a adoram e os que a detestam.
No grupo das pessoas que não apreciam a escrita de Hoover, uma das maiores justificativas para tal é a romantização de relações tóxicas. Em livros como É Assim Que Acaba, por exemplo, a relação entre os protagonistas, marcada por ciclos de abuso e reconciliação, gerou debates sobre a forma como a autora retrata esse tema.
Alguns leitores argumentam que a idealização do amor tóxico pode ser prejudicial, especialmente para jovens leitores. Apesar de a mensagem da história ser clara, o argumento utilizado é a banalização da violência doméstica.
Outra crítica frequente é a falta de originalidade em suas tramas. Muitas vezes, seus enredos são considerados previsíveis e clichês, com reviravoltas que já foram exploradas em outros romances. A repetição de fórmulas pode desagradar leitores que buscam histórias inovadoras em um mar de mais do mesmo.
A ênfase no romance, muitas vezes em detrimento de outros elementos narrativos, é outro fator que incomoda grande parte dos leitores. Isso porque ao romantizar certos temas a história perde a oportunidade de abordar questões sérias de forma mais realista.
A linguagem utilizada por Hoover também é considerada por alguns como simples demais. Isso pode tornar a leitura menos desafiadora e intelectualmente estimulante, principalmente quando unido ao “felizes para sempre” altamente idealizado. Os finais felizes constantemente presentes podem parecer irreais demais e desencontrados com a complexidade das relações humanas e dos problemas abordados nas histórias.
A subjetividade da literatura
Amando-a ou odiando-a, é inegável que suas obras furaram a bolha e se tornaram mundialmente aclamadas. Portanto, é importante lembrar que cada leitor tem suas próprias preferências e expectativas. O que incomoda uma pessoa pode não incomodar outra, da mesma forma que o que comove alguém pode não tocar o coração de outrem.
É fundamental destacar que a literatura é subjetiva e que a opinião de cada leitor é válida. O importante é que cada um encontre as tramas que mais se conectam consigo mesmo e o fazem sentir como parte importante de uma história.