Janaína (Mayara Santos) é uma jovem no primeiro ano da faculdade de direito, além de ser a primeira pessoa da família a cursar o ensino superior. Ela mora com sua avó (Cláudia Conceição) e sua mãe (Clau Barros) em um condomínio na periferia de Recife.
O filme se encarrega de mostrar como Janaína é dedicada aos estudos, principalmente dado que a bolsa que permite sua permanência da universidade exige boas notas e alta frequência às aulas. Ela também consegue uma monitoria disputada, devido a seu bom desempenho.
Dessa forma, quando Janaína se descobre grávida do namorado, conseguimos ter noção do impacto que isso pode trazer aos seus planos para o futuro. Todo o esforço que ela faz em sua vida acadêmica pode ter seus frutos ameaçados. Ela mesma se pergunta “por que isso foi acontecer logo comigo?”. Logo ela que se esforça para fazer tudo certo.
Ainda Não É Amanhã: direção afiada em filme que vai direto ao ponto
A diretora e roteirista Milena Times demonstra com essa narrativa que uma gravidez indesejada não é necessariamente fruto de descuidos ou negligência, mas pode acontecer com qualquer uma, ainda mais que nenhum método contraceptivo é 100% eficaz.
Acompanhando a protagonista, também passamos a ter noção da solidão que é seguir com a decisão de realizar um aborto num país em que ele não é legalizado. Por mais que tenha o apoio do namorado Jefferson (Mário Victor) e de sua amiga Kelly (Bárbara Vitória), Janaína tem de passar dias pesquisando em sigilo formas de conseguir realizar o procedimento, tentando vários métodos que não dão certo ou levam a golpes. Há também o receio de que outros descubram e julguem, como a professora da faculdade ou a própria família.
Pressão e tensão por todos os lados
No meio desse turbilhão, há a pressão para conseguir disfarçar que algo está errado, a luta para conseguir recursos financeiros, e a tensão sobre se Janaína conseguirá fazer o procedimento a tempo.
A diretora opta por uma abordagem naturalista, mostrando o cotidiano, a rotina, os diálogos econômicos. Alguns momentos lúdicos aparecem pincelados esporadicamente, para reforçar o estado emocional da protagonista, mas sempre dentro da economia de emoção que o filme pretende evocar. A situação já é dramática o suficiente para demonstrar o peso que a personagem tem que carregar.
Ainda não é Amanhã é sobre sororidade
E a melhor coisa do filme, além do retrato sensível sobre um tema espinhoso, é mostrar o apoio entre mulheres. Apesar da solidão, Janaína também recebe muito apoio e compreensão das mulheres em sua vida, seja uma colega menos próxima da faculdade, ou sua melhor amiga, ou sua mãe.
Em um mundo onde mulheres passam por tantas dificuldades, é reconfortante ver uma história de mulheres ajudando e acolhendo umas às outras.
O filme é distribuído pela Embaúba Filmes e estreou nos cinemas dia 5 de junho.
