Se você é uma das pessoas que acompanha e ama Hacks, série de comédia da HBO Max, deve conhecer o questionamento que circula no fandom desde a primeira temporada: estariam as protagonistas, Deborah Vance (Jean Smart) e Ava Daniels (Hannah Einbinder), em uma relação de mentora e aprendiz, ou há algo a mais?
A série, criada por Lucia Aniello, Paul W. Downs e Jen Statsky, finalizou a quarta temporada no dia 28 de maio de 2025 e já está com a quinta confirmada, ainda sem data de lançamento. Com isso, alguns fãs passaram a criar expectativas sobre a possibilidade de uma reviravolta romântica entre as personagens.
Mas será que isso faz sentido dentro da trama? Será que é necessário ou desejável? Será que elas têm uma relação tóxica demais para ser considerada romântica? Para tentar responder a esses questionamentos, o Delirium Nerd entrevistou dois fãs da série que têm opiniões quase completamente opostas.
Avorah: uma perspectiva romântica

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Para Mike (@avadanielsbf), um dos perfis do Twitter que comenta ativamente sobre a dupla, a série sempre fez questão de mostrar que Ava e Deborah têm uma conexão forte e especial.
“Elas nunca tiveram outra relação igual a essa antes de se conhecerem. A série, em si, é sobre essa relação, e todo o desenvolvimento delas como personagens mostra que isso é muito mais do que uma simples relação platônica. Elas são almas gêmeas e se completam”, disse ele, ao ser questionado sobre por que shippa as personagens.
Mike também comenta brevemente quando começou a ver a relação delas como algo romântico e cita o episódio 6 da primeira temporada, New Eyes, como exemplo pois, segundo ele, “é quando elas começam a se conhecer de fato”, e há um paralelo entre a relação das duas e o casamento de Deborah com o ex-marido.
“Gosto da cena em que a Deborah diz ‘we made each other funnier’ e pensava que nunca ia encontrar alguém como ele [o ex-marido], mas aí a série mostra como elas são melhores juntas, e isso deixa o trabalho delas melhor”, completou o fã.
Quando perguntamos sobre suas expectativas para o desenrolar romântico de Avorah nas próximas temporadas, Mike diz que são nulas. “Eu não tenho esperança nenhuma, mas pessoalmente não me importo, porque gosto que a série seja sobre elas e a amizade delas. Apesar de não ser romântico, elas ainda são a pessoa mais importante na vida uma da outra”, finalizou.
Uma relação de mãe e filha

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Diferente daqueles que shippam Ava e Deborah, muitos espectadores da série interpretam a relação entre as duas protagonistas como algo similar a “mãe e filha”. O motivo? Para Katharine (@kkaath_ no Twitter), isso se deve à própria construção da série: na rejeição, na admiração, e até no sacrifício.
Para ela, Ava e Deborah não são a mãe e a filha que o universo escolheu, mas que elas mesmas escolheram devido às suas semelhanças. Como se Ava fosse a filha que Deborah sempre quis, e Deborah fosse a mãe que Ava sempre sonhou.
Katharine considera que tanto a mãe biológica de Ava quanto a filha biológica de Deborah estão completamente desconectadas do mundo em que cada uma se insere e deseja, ou seja, são alheias e desinteressadas nesse universo de show business, comédia e fama. “Quando elas se encontram [Deborah e Ava], têm os mesmos pensamentos, os mesmos desejos e ambições. É a relação de mãe e filha que deu certo para elas, que elas mesmas escolheram”, disse.
Para exemplificar, ela cita algumas cenas que a fizeram pensar nessa relação de forma mais familiar: como quando Deborah julga e escolhe roupas para Ava; na admiração que nasce em Ava ao ver os antigos materiais de Deborah; quando Deborah demite Ava para que ela amplie seus horizontes profissionais e seu potencial sozinha; ou no próprio sacrifício de desistir do seu maior sonho por amor à outra.
Todas essas situações, para Katharine, são muito comuns em relações de mãe e filha, tanto no audiovisual quanto na vida real, onde muitas meninas presenciam esse tipo de dinâmica com suas mães. “Só uma mãe faria os sacrifícios e agiria dessa maneira como a Deborah, assim como a Ava sente uma pressão por conta dessa decisão, igual uma filha que sente culpa pela mãe não viver seu sonho por causa dela”, concluiu.
Where’s the line?

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Como questiona Deborah no penúltimo episódio da quarta temporada, A Slippery Slope: Where’s the line? (Onde está o limite?). Neste caso, onde está o limite para a representação de um casal atípico e para o ato de shippar duas pessoas do mesmo gênero? Esse limite sequer existe quando o assunto é arte? Ele é necessário quando fazemos isso por mero divertimento ou satisfação pessoal?
Apesar das leituras distintas dessa relação, uma coisa é certa: todos nós que continuamos assistindo Hacks temos algo em comum. Quer você veja Deborah e Ava como mãe e filha, como amigas improváveis ou como um casal sáfico em potencial, o que nos prende à série é o humor, afeto e amor intenso que existe entre elas. E enquanto elas estiverem na tela, vamos continuar acompanhando.