Intitulado “Se Essa Rua Fosse Minha”, o programa 3 da mostra competitiva de curtas brasileiros trouxe para o Cinema São Luiz curtas que têm a rua como um personagem da história. Além disso, aconteceu a exibição de mais um longa-metragem de Lucrecia Martel, homenageada do evento, dessa vez A Menina Santa.
Terceiro filme da diretora exibido no X Janela, A Menina Santa foi lançado em 2004, e aprofunda questões religiosas pinceladas pelo longa O Pântano, de 2011. O longa nos mostra o encontro de Amalia (María Alché), uma jovem estudante fervorosamente católica e Jano (Carlos Belloso), um médico que molesta adolescentes. Jano engata uma relação de flerte com Helena (Mercedes Morán), mãe de Amalia, sem saber desse fato.
A Menina Santa tem como palco o hotel onde Helena e Amalia moram e que Jano está hospedado para participar de um evento de medicina. Imaginamos que um escândalo está por abalar a vida das personagens, mas isso não nos é mostrado explicitamente em nenhum momento. Fica tudo a cargo da imaginação do espectador. Não tão cativante quanto O Pântano, a sofisticação narrativa de Martel é mais visível em A Menina Santa. É válido ressaltar que a diretora não deixa de criticar o racismo nesse filme, nos mostrando descendente indígenas, novamente, como subservientes de brancos.
O Olho e o Espírito, da pernambucana Amanda Beça foi inteiramente gravado em 16mm, método de gravação em desuso no cinema contemporâneo. Após as gravações, o filme foi revelado em um estúdio improvisado, em um apartamento no Recife, e colorido frame por frame pelos realizadores.
Outro curta exibido no programa 3 foi Filme de Rua, de Joanna Ladeira, Paula Kimo, Zi Reis, Ed Marte, Guilherme Fernandes e Daniel Carneiro, da cidade de Belo Horizonte. O curta mostra o processo de produção e pós-produção de um documentário por meninos e meninas da periferia de BH, mostrando o que os interessa, como encenações de acontecimentos, rimas de rap e conversas sobre o cotidiano.
A equipe foi representada por Gabriel, um dos personagens do filme e por Paula Kimo. Além deles foram convidadas pessoas que moram na Rua da Aurora – que está localizada em frente ao Cinema São Luiz – e que nunca tiveram chances ou condições de conhecer o cinema.
Após a exibição houve um debate com os realizadores dos curtas, que puderam falar um pouco sobre os processos de pré e pós-produção de seus filmes. Além dos curtas citados fizeram parte da exibição Borá, de Angelo Defanti e A Barca do Sol, de Leonardo Amaral.