Vaya: a inocência encontra a dureza da cidade grande

Vaya: a inocência encontra a dureza da cidade grande

Dirigido pelo diretor Akin Omotoso, “Vaya” observa a viagem de três estranhos de uma pequena vila até a imensa cidade de Johanesburgo. Zanele (Zimkhitha Nyoka) é uma adolescente que está levando a jovem prima para morar com a mãe; Nkulu (Sibusiso Msimang) é um rapaz encarregado de buscar o corpo de seu falecido pai e trazê-lo para o funeral em sua cidade natal; e Nhlanhla (Sihle Xaba) é um inocente homem que vai atrás de uma proposta de trabalho oferecida por seu primo. 

Todos eles se depararam com uma realidade completamente inesperada ao chegarem ao seu destino e essa experiência definitivamente muda suas visões inocentes do mundo.

Vaya
Nhlanhla ao chegar de trem em Johanesburgo (Imagem: reprodução)
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Narrativa instigante e qualidade técnica

Vaya, que significa “ir” em Tsotsitaal, possui uma narrativa clássica e bastante fácil de acompanhar, nos prendendo à trama e fazendo torcer para os três protagonistas. Enquanto esse formato de vários núcleos faz com que cada um tenha menos tempo de tela para ser bem desenvolvido, as excelentes atuações do elenco em geral e o ótimo roteiro faz com que tenhamos uma boa noção de como pensa e age cada personagem. As cenas são bem eficientes em logo de cara nos mostrar como cada um deles age em situações de tensão e como são suas personalidades.

O mais interessante é que a trama foi feita a partir de relatos reais de pessoas de rua em Johanesburgo, muitas das quais aparecem em “Vaya“. Algumas cenas também foram filmadas nos locais reais onde os eventos aconteceram, embora o encontro entre os personagens principais seja ficcional.

Vaya
Nhlanhla com seu primo Xolani (Imagem: reprodução)

A qualidade técnica do filme também é um ponto positivo, com destaque para a ótima fotografia por Kabelo Thathe e suas imagens aéreas da cidade. 

A sobrevivência na cidade grande retratada em “Vaya”

Vaya” poderia facilmente ser encaixado no gênero “gangster”, já que boa parte dos personagens que os protagonistas encontram transitam pelo crime organizado, e a trilha sonora sugere um clima de filme de ação. Entretanto, o foco na jornada vivida pelos três e como buscam sobreviver nesse ambiente totalmente novo e hostil traz o ponto de vista para uma região mais intimista e dramática.

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Zanele tenta resgatar outra mulher na estação de trem (Imagem: reprodução)

O desfecho em aberto é algo que pode incomodar algumas espectadoras, ainda mais depois de tanto tempo torcendo para uma resolução, mas essa escolha reforça o intuito do filme de ser mais sobre observar as condições de vida dessas pessoas do que em estabelecer um fechamento narrativo. 

Vaya” está em cartaz na Mostra de Cinemas Africanos, no Cinesesc de São Paulo, que ocorre até hoje (17)!


Edição realizada por Gabriela Prado.

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Cineasta, musicista e apaixonada por astronomia. Formada em Audiovisual, faz de tudo um pouco no cinema, mas sua paixão é direção de atores.
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