Numa mídia como os quadrinhos, em que o visual tem tanta importância quanto o texto (ou até mais), uma artista como Fiona Staples deixa uma marca indelével. A ilustradora, nascida na cidade de Calgary, na província de Alberta, no Canadá, é vista como uma das maiores artistas trabalhando na indústria atualmente.
A carreira de Fiona Staples teve início em 2005. Na época, ela trabalhava como vendedora numa loja de HQs num shopping. Um dia, a loja fez um desafio de criar uma HQ em 24 horas: os concorrentes participariam com histórias de 24 páginas e no final alguns trabalhos seriam selecionados para uma antologia. Fiona decidiu participar e, com isso, criou sua primeira obra, “Amphibious Nightmare” (“Pesadelo Anfíbio”). Dentre 800 inscritos, a história de Fiona foi selecionada e publicada na 24 Hour Comics Day Highlights 2005.
Em 2006, Fiona Staples conseguiu sua primeira série: “Done to Death“. Em parceria com o escritor Andrew Foley, ela ajudou a criar uma história satírica de vampiros, parte terror e parte comédia. Foley descreve a série como “uma história de vampiros para quem odeia histórias de vampiros”. A HQ foi publicada pela UK Publisher enquanto Fiona se formava na Faculdade de Arte e Design de Alberta.
Depois disso, Fiona Staples trabalharia em diversas séries pequenas. Ela foi parte do time que ilustrou a adaptação em graphic novel do filme de terror “Trick r Treat” (“Contos do Dia das Bruxas”). Além disso, trabalhou como desenhista e arte-finalista para a série “The Secret History of the Authority: Hawksmoor“, escrita por Mike Costa; e atuou como colorista para a história “Button Man“, para a revista britânica de ficção científica 2000 AD.
O que podemos perceber, nessa primeira etapa da sua carreira, é que Fiona Staples atuou em praticamente todos os diferentes campos relacionados à arte de HQs. Ela também criou um background nos gêneros de fantasia, ficção científica e terror. Tudo isso viria a resultar na sua maior obra até o momento, “Saga“.
“Saga” é uma space opera escrita por Brian K. Vaughan e publicada pela Image Comics. Sua narrativa é fortemente influenciada por clássicos da ficção científica. Trata-se de da história de um casal, Alana e Marko. Os dois são de raças alienígenas inimigas que estão em guerra e por isso precisam lutar para viverem juntos e conseguirem criar sua filha, Hazel. Uma mistura de Romeu e Julieta com Star Wars, “Saga” foi publicada em março de 2012 e estourou, tornando-se um sucesso com o público e a crítica. Em 2013, recebeu o Prêmio Hugo de Melhor História em Quadrinhos. Desde a sua estreia, é constantemente uma das revistas de quadrinhos mais vendida dos Estados Unidos.
Apesar de seus trabalhos passados terem obtido certa aclamação, “Saga” foi a obra que realmente alavancou a carreira de Staples. Ela é co-proprietária dos direitos da série e responsável pelo design de todos os personagens, naves espaciais e raças alienígenas que aparecem na história. Além disso, ela também pinta capas de edições e escreve a narração a mão, usando sua própria caligrafia.
É com “Saga” que o estilo único de Staples realmente pode ser apreciado em seu auge. Algumas de suas influências são animes e videogames, além de artistas como Taiyo Matsumoto, N.C Wyeth e Howard Pyle. Como eles, Fiona foca muito nos personagens em suas ilustrações, muitas vezes deixando o plano de fundo vago ou até distorcido. Em vez disso, seu foco são as ações dos personagens e sua linguagem corporal.
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Um dos elementos de grande destaque na sua arte é sua expressão facial. É um elemento que salta aos olhos, vendo seu trabalho, e sem dúvida é algo que Fiona Staples valoriza conscientemente. Ela já declarou que um de seus processos para desenhar expressões é tirar fotos de si mesma e usar como referência, buscando canalizar as emoções dos seus personagens através de suas feições. Embora isso às vezes resulte em expressões cartunescas, é algo que se tornou característico e marcante em seu trabalho e ajuda seus leitores a criar relações com os personagens que ela retrata.
Mas o grande diferencial de Fiona Staples, no fim das contas, é seu método de trabalho. Ao contrário da maioria dos artistas, ela realiza grande parte de sua produção digitalmente. Seu trabalho em “Saga”, por exemplo, é feito em parte à mão (com elementos como a narração manuscrita já citada anteriormente) e em parte através do computador. Ela é muito aberta com relação a esse assunto, advogando abertamente pela produção digital.
Seu estilo singular não passou desapercebido pela indústria. “Saga” já recebeu diversos prêmios, inclusive um Eisner Award por Melhor Desenhista em 2015 e três Harvey Awards por Melhor Arista e Melhor Artista de Capa, em 2014, 2015 e 2016.
Seu trabalho na série ajudou Fiona a expandir sua carreira para outras oportunidades. Em 2015, ela se juntou ao escritor Mark Waid para uma minissérie de três volumes do clássico do quadrinhos “Archie“, celebrando o aniversário de 75 anos do personagem.
Atualmente, Fiona Staples continua trabalhando em “Saga”. Abraçando todas as possibilidades de criação de arte, sua obra continua a atrair e encantar leitores, usando da tecnologia para criar mundos marcados pela mistura de futurismo e fantasia.
Edição realizada por Gabriela Prado e revisão por Isabelle Simões.