A quarta temporada de The Handmaid’s Tale, série produzida pela Hulu, chega à metade em seu 5º episódio, intitulado “Chicago”. Comparado aos episódios anteriores, “Chicago”, que prometia trazer mais sobre a guerra expansionista de Gilead, é morno. Reserva, contudo, grandes dúvidas e reencontros para seus minutos finais.
Aviso: pode conter spoilers
“Chicago”: os destroços da guerra de Gilead em The Handmaid’s Tale
No episódio anterior, “Milk”, June (Elisabeth Moss) e Janine (Madeline Brewer) conseguiram fugir de Gilead em direção a Chicago, na busca por ajuda, sobretudo do grupo Mayday. Em seu caminho, as duas mulheres se deparam com um grupo de sobreviventes, mas precisam se submeter a atos de violência para permanecer junto a eles.
Em “Chicago”, então, elas permanecem junto ao grupo, mas se perguntam se devem permanecer com eles ou continuar sua jornada. Afinal, como fica bem claro, o grupo não possui relação com o Mayday, tampouco possui intenções de pôr fim ao regime de Gilead. Um dos líderes do grupo, inclusive, fala para as duas, ao ser questionado sobre o tipo de sua resistência: “nós sobrevivemos”.
O mais interessante desse episódio, em um contexto geral de The Handmaid’s Tale, é que temos maior tempo de tela do cenário de guerra propriamente dito. Dessa forma, enxergamos os destroços e as histórias deixadas para trás por conta de Gilead. Vemos a guerra em sua triste forma, a destruição que se deixa pelo caminho e que antecipa a violência do que virá diante de uma vitória.
É importante que esse contato ocorra, porque, desde então, vimos o antes, vimos o externo, vimos Gilead reconstruída em uma estrutura organizada. No entanto, tivemos poucos vislumbres da guerra bélica. Isto serve para reforçar que Gilead nunca foi apenas um regime teórico, mas um regime que se fortaleceu pela teoria e pela força das armas.
“É consensual”: a figura do consenso quando falta liberdade
Um dos momentos do 5º episódio da quarta temporada de The Handmaid’s Tale que merece destaque do episódio é uma conversa entre June e Janine sobre a permanência junto ao grupo de sobreviventes. Ambas passaram por torturas e violências diversas, morais, físicas, sexuais. E esperavam que, ao fugir de Gilead, fugiriam também dessa realidade. Contudo, qual não foi a frustração de todos ao descobrir que, para fugir, precisariam se submeter novamente a atos de violência.
Embora “Chicago” não foque tanto nesse tema, é necessário trazê-lo à pauta. Isto porque a discussão, de forma silenciosa, está ali. No final de “Milk”, Janine aceita manter relações com um dos membros do grupo como garantia de sua permanência. E sempre quando questionada, afirma que “é tudo consensual”. A pergunta que fica, no entanto, é: como falar de consenso quando as outras alternativas são inviáveis ou, mesmo que viáveis, expõem o indivíduo a perigos maiores?
É claro, em nenhum momento Janine foi obrigada a praticar tal ato como era em Gilead. Ela foi autônoma, no sentido de aceitar as condições expostas para o que acreditava ser mais vantajoso a ela. Não houve abuso físico. No entanto, isto não diminui o fato de que um homem colocou a relação sexual como condição, quando a outra alternativa era rumar por um local desconhecido em meio a ataques do regime do qual as duas mulheres fugiam.
Pode-se falar, então, de autonomia ou consenso neste caso? Se a situação fosse diversa, isto teria acontecido?
É difícil prever. Janine poderia desenvolver sentimentos e se relacionar com esse homem. No entanto, não podemos ignorar os atos dele diante desse contexto.
Chicago, Janine, June e o futuro de The Handmaid’s Tale
Descontente com o posicionamento do grupo e após saber o que aconteceu com o grupo Mayday, June decide, então, seguir sozinha. E embora Janine tenda a permanecer com eles, não consegue deixar sua amiga partir sozinha. O que elas não sabem, contudo, é que a guerra se intensifica para os lados de Chicago, colocando ambas em perigo.
Em Gilead, tia Lydia (Ann Dowd), o comandante Lawrence (Bradley Whitford) e o comandante Blaine (Max Manghella) lidam com as consequências dos atos passados. Após deixar June perturbar a ordem de Gilead novamente, tia Lydia perde a autoridade que conquistou. Com isso, impedem-na de treinar novas aias. Contudo, Lawrence foi o último comandante de June. E, tendo ainda grande importância no regime, apoia o retorno de tia Lydia à sua posição para evitar novos conflitos envolvendo seu nome.
Ao mesmo tempo, ele incentiva o bombardeio de Chicago. Afinal, a guerra serve tanto para conquistar espaço, quanto para reunir pessoas – como as novas aias a serem integradas – e mostrar poderio. E um ataque massivo poderia acabar com os últimos vestígios de uma resistência – assim como de fugitivos.
Em seu caminho, portanto, June e Janine novamente são ameaçadas por Gilead. E a incerteza é algo que permanece nesse final cinzento. Não sabemos se as duas sobreviveram. O que The Handmaid’s nos promete, todavia, é um reencontro esperado há três temporadas e a conclusão de uma expectativa antecipada pelos trailers da quarta temporada.
Revisão por Isabelle Simões.