Estamos vivenciando uma onda de filmes que tratam de problemas geracionais nas famílias. Artistas discutem abertamente questões pessoais de suas infâncias, além de assuntos universais de dor e cura. Beau Tem Medo, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo e outros filmes recentes abordam especificamente uma questão em comum: os problemas com a mãe.
Seja na falta de apoio, distância emocional, mau direcionamento ou falta de comunicação entre mãe e filhos, diversos filmes retratam como a maternidade ruim pode ser tão prejudicial mesmo quando os filhos já são adultos.
E no meio disso, recebemos o quinto filme da franquia Evil Dead, intitulado aqui no Brasil de A Morte do Demônio: A Ascensão, que traz uma mãe de três filhos que é possuída por um demônio e passa a persegui-los com intenção de matá-los. Com uma premissa dessas, pode até parecer que esse é mais outro filme para falar de maternidade agressiva e abusiva, mas não é esse o caso!
Esse texto apresenta spoilers para o filme!
A Morte do Demônio: A Ascensão coloca a mãe como maior protetora
Ellie é mãe solteira de três filhos, dois adolescentes e uma criança. Todos moram num apartamento pequeno que fica em um prédio decadente que está prestes a ser destruído. Eles tem um mês apenas para sair e ainda não encontraram um novo lugar. Tudo isso pilha para uma mãe exausta e estressada, mas que ainda podemos ver que se importa com os filhos. E então chegamos na questão foco do filme: ela é possuída por um demônio.
No período logo após, ela ainda está viva, mas é controlada pela criatura dentro dela e passa a agir estranho. Porém, um momento antes da entidade tomar conta de vez dela, matando a personagem que conhecíamos, ela faz um último apelo à sua irmã que estava passando o dia com eles: que não deixasse o que estava nela pegar seus filhos.
Em seu último suspiro, entre o que deveria ser uma batalha dolorosa com a criatura dentro dela, depois de ter sido possuída de forma brutal, ela encontra forças (que nenhum personagem anterior da franquia havia demonstrado na mesma situação) para implorar a única coisa que realmente importava para ela: que seus filhos ficassem seguros.
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A partir daí, temos Beth, a tia das crianças, imediatamente assumindo a função de protegê-las, se colocando na frente do perigo todas as vezes necessárias, tendo a segurança delas como sua maior prioridade.
Ela está grávida. Uma gravidez acidental que ela claramente não quer, como estabelecido no início do filme, mas em momento algum significa falta de instinto materno quando seus sobrinhos estão em perigo. Novamente, através dela, a figura materna está em seu ápice de proteção. Até mesmo a filha mais velha tem essa função ao cuidar da irmãzinha.
A figura materna é a única salvação em A Morte do Demônio
Durante todas as muitas batalhas pelas quais precisa passar para proteger seus sobrinhos, Beth é ferida diversas vezes, mas em todas elas consegue forças para se levantar, pois ela sabe que é a única que restou entre as crianças e os demônios.
Quando chega no final do filme, apenas a filha mais nova restou com Beth, os dois mais velhos tendo sido possuídos também. Sozinha, a garota não teria chances, mas sua tia dá tudo de si física e mentalmente para garantir que conseguirá salvá-la.
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Essa força quase sobre humana de Beth, de seguir em frente mesmo depois de tudo que passou naquela noite, nada tem a ver com o sobrenatural, não é um superpoder de herói dos quadrinhos: é o poder de uma mãe ao ver sua criança em perigo, que iria a qualquer distância para protegê-los, e é o que ela faz.
Apesar de perder dois de seus sobrinhos, Beth consegue salvar a pequena Kessie e as duas conseguem fugir do lugar. Desde o início, ela era a única chance de salvação.
A maternidade como força e proteção VS traumas e descuido
O terror é apenas uma forma de contar histórias. Trata-se de um gênero que dita o tom e os clichês, mas a mensagem que a história passa é uma que poderia estar em qualquer outro gênero.
Ao contrário de muitos filmes atuais que tratam como a maternidade pode ser o ponto de início de traumas e transtornos, A Morte do Demônio: A Ascensão mostra que, quando uma mãe, apesar de suas falhas e defeitos, tem em seu coração o bem estar de seus filhos como prioridade, nem uma horda de demônios invocados do inferno podem ficar entre ela e seus filhos. Que enquanto houver vida a mantendo de pé, ela lutará com unhas e dentes para protegê-los de qualquer mal, natural ou não.
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Traumas geracionais são reais e é importante que o cinema os esteja dando foco através de suas histórias. Mas ver a figura materna ser validada e ter sua força demonstrada através de uma narrativa sangrenta e violenta de terror, é uma ótima forma de deixar claro como uma mãe pode – e deve – ser o porto seguro de seus filhos.