Desmistificando Cleópatra: o poder da inteligência e estratégia

Desmistificando Cleópatra: o poder da inteligência e estratégia

Cleópatra, uma das figuras mais enigmáticas da história, é frequentemente descrita como uma mulher sedutora e irresistível, cujo charme estava supostamente enraizado em sua beleza física. No entanto, essa representação redutora falha em capturar sua verdadeira essência. Seu verdadeiro charme residia em sua inteligência afiada, astúcia política e métodos brilhantes que a levaram a se tornar uma das líderes mais poderosas de todos os tempos

Arte representando o perfil de Cleópatra | Imagem: Reprodução

Muitos relatos históricos e obras de arte retratam a rainha do Egito como uma mulher de beleza irresistível, capaz de seduzir e conquistar poderosos líderes. Um dos motivos para tal estereótipo são os relacionamentos da líder com os romanos Júlio César e Marco Antônio.

No entanto, essa imagem romantizada negligencia o papel crucial que a astúcia de Cleópatra desempenhou em seu sucesso como líder política. Ela era conhecida por sua fluência em vários idiomas, diplomacia e conhecimento profundo de assuntos políticos. Ela era uma mulher altamente instruída, capaz de manipular e influenciar aqueles ao seu redor por meio de sua sagacidade e habilidades estratégicas.

Cleópatra foi uma grande líder desde a juventude

A última rainha do Egito da dinastia Ptolomaica, nasceu em 69 a.C. e assumiu o trono aos 18 anos de idade. Seu governo se estabeleceu em um período de turbulência política e rivalidades entre o Império Romano e o Egito. 

Ela estabeleceu alianças com grandes líderes romanos, começando com Júlio César. Durante seu relacionamento, em 48 a.C., ela conseguiu garantir seu apoio ao trono egípcio e teve um filho com ele, chamado Ptolomeu Cesarião (o pequeno César). Após a morte do companheiro, Cleópatra formou uma aliança com Marco Antônio, outro líder romano poderoso, com quem teve um relacionamento amoroso e três filhos.

Adele James e John Partridge interpretando Cleópatra e Júlio Cesar em cena da série "Rainha Cleópatra" (2023), da Netflix
Adele James e John Partridge interpretando Cleópatra e Júlio Cesar em cena da série “Rainha Cleópatra” (2023), da Netflix | Imagem: Reprodução

No entanto, a rivalidade entre Marco Antônio e o jovem Otaviano (futuro imperador Augusto) levou à guerra. A batalha decisiva ocorreu em Áccio, em 31 a.C., e o casal foi derrotado. Diante deste fato, Cleópatra cometeu suicídio, e sua morte marcou o fim do domínio da dinastia Ptolemaica.

Durante seu reinado, a monarca demonstrou uma incrível habilidade política e capacidade de liderança. Ela navegou pela intriga política e conseguiu estabelecer alianças importantes para proteger o Egito de ameaças externas. A rainha se envolveu ativamente nos assuntos do Estado, tomando decisões que beneficiaram seu povo e fortaleceram sua posição como governante. Seu estrategismo era evidente em sua destreza de adaptar-se às mudanças políticas e formar alianças com líderes poderosos, com o objetivo de proteger seu reino.

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No entanto, as manobras da soberana para se manter no poder muitas vezes são negligenciadas e minimizadas em detrimento de seu suposto poder sedutor. A narrativa que a retrata simplesmente como uma mulher bela e irresistível fisicamente perpetua estereótipos sexistas que desvalorizam suas verdadeiras conquistas. A ênfase excessiva em sua aparência física não apenas desrespeita sua inteligência, mas também diminui a contribuição de outras mulheres na política e nos negócios, fortalecendo uma visão limitada das competências femininas.

A representação de Cleópatra em filmes, como aqueles estrelados por atrizes como Elizabeth Taylor, ajudou a sustentar preconceitos, deixando de lado a riqueza de seus talentos. Ao focar principalmente na beleza física da rainha do Egito, esses filmes reduziram sua importância histórica e seu papel como líder astuta e personagem política.

Essa abordagem limitada não apenas deturpa sua figura, mas também reforça a visão padronizada de que a atratividade física é o principal atributo valorizado nas mulheres, subestimando assim sua perspicácia, poder e contribuições significativas para a história. É fundamental desafiar essas representações estigmatizadas e buscar uma compreensão mais completa e precisa de sua verdadeira essência.

Elizabeth Taylor interpretando Cleópatra
Elizabeth Taylor como Cleópatra em filme de 1963 | Imagem: Reprodução

Ao redimensionar sua imagem, reconhecemos sua importância como uma líder brilhante e inovadora. Seu charme não estava baseado apenas em sua beleza física, mas também na confiança e no carisma que emanavam de sua presença. Sua sapiência e competência diplomática a tornaram uma figura respeitada e temida por seus contemporâneos, e seu legado continua a inspirar líderes até os dias de hoje.

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Cleópatra não era uma líder isolada em seu tempo. Ao longo da história, muitas mulheres demonstraram habilidades notáveis em diferentes áreas, incluindo política, ciência e artes. No entanto, muitas vezes suas realizações foram obscurecidas e minimizadas devido a preconceitos de gênero. É importante reconhecer e celebrar as conquistas dessas mulheres, oferecendo uma visão mais equilibrada e justa de seu legado.

Essa imagem preconcebida também pode ter implicações negativas para as mulheres contemporâneas. Ao perpetuar a ideia de que o poder feminino se baseia principalmente na aparência física e na sedução, corre-se o risco de desvalorizar a astúcia e determinação das mulheres em todas as esferas da vida. Para evitar tal consequência, deve-se começar pela promoção de uma compreensão mais completa do poder feminino, enfatizando a importância das qualidades intelectuais e emocionais das mulheres.

A verdadeira fonte de poder da Rainha do Egito estava no intelecto 

Ao analisar o charme da governante do Egito, é fundamental destacar sua inteligência e estratégia como as verdadeiras fontes de seu poder e influência. A imagem simplificada e sexista que a retrata apenas como uma mulher bonita não faz justiça à complexidade de sua personalidade e legado. É necessário desmistificar tais estereótipos e ensinar a sociedade a reconhecer e valorizar as contribuições femininas além de seus atributos físicos.

Baixo relevo de Cleópatra
Baixo relevo de Cleópatra feito entre os séculos 3 a.C. e 1 a.C | Imagem: DEA Picture Library

Ao romper com os clichês sexistas e olhar além da superfície, podemos apreciar plenamente sua grandiosidade como líder e figura histórica. Devemos reconhecer seu verdadeiro charme e sua capacidade de superar as expectativas sociais, consolidando seu poder através de seu brilhantismo e astúcia política. Ao fazer isso, além de honrar sua memória, a sociedade abre caminho para uma maior valorização e reconhecimento das mulheres por suas realizações e habilidades, independentemente de rótulos ultrapassados ligados a suas aparências físicas.

Cleópatra era muito mais do que uma mulher bonita e sedutora. Rompendo as visões sexistas, reconhecemos o verdadeiro legado da maior rainha da civilização Egípcia não apenas como uma figura histórica poderosa, mas também como um símbolo inspirador do poder feminino ao longo da história. Assim, poderemos promover uma visão mais inclusiva e justa das capacidades femininas, valorizando as contribuições intelectuais e emocionais das mulheres em todas as esferas da vida.

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Uma jornalista apaixonada por música, literatura e cinema. Seus maiores hobbies incluem criar playlists para personagens fictícios e falar sobre Taylor Swift nas redes sociais.
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