Rita Lee: pioneira na música, revolucionária na moda

Rita Lee: pioneira na música, revolucionária na moda

Resumir a “Rainha do Rock Brasileiro” como cantora, compositora, escritora e ativista parece até eufemismo, considerando a grandeza de seu nome. Rita Lee é uma figura lendária no mundo musical e fashionista brasileiro, ganhou destaque nos anos 1970 e 1980. Sempre esbanjou um talento natural em suas composições, que unido à ousadia de suas vestimentas, lhe garantiu a reputação de uma verdadeira revolucionária, inspirando gerações de novos artistas e admiradores de seu trabalho. 

Rita Lee ficou conhecida nacionalmente por ser vocalista da banda Os Mutantes, parte importante de sua carreira, que pavimentou o sucesso estrondoso que viria a seguir. Mas foi em sua carreira solo, iniciada no final da década de 1970, que a cena do rock n’ roll nacional a conheceu verdadeiramente.

Cantora, compositora e ativista social Rita Lee.
Cantora, compositora e ativista social Rita Lee | Foto: Guilherme Samora (Reprodução)

Rita Lee na música

Rita Lee foi descoberta pelo Brasil na estreia do programa “O Pequeno Mundo de Ronnie Von”, da TV Record, em outubro de 1966, quando Os Mutantes fizeram sua primeira apresentação em uma emissora de televisão. A partir desse momento, a garota de cabelos longos e franja na altura dos olhos começou a se destacar por conta de sua voz distinta e presença de palco. A mistura de ritmos com elementos do rock psicodélico, vanguarda e tropicália pareceram ter sido moldados especialmente para ela desde o início de sua carreira. 

Arnaldo Baptista, Rita Lee e Sérgio Dias em apresentação da banda "Os Mutantes" na década de 1960
Arnaldo Baptista, Rita Lee e Sérgio Dias em apresentação da banda “Os Mutantes” na década de 1960 | Foto: Reprodução

A cantora e compositora deixou a banda em 1981, devido a divergências criativas com o grupo. Entre as razões de sua saída está também sua relação turbulenta com Arnaldo Baptista, baixista e vocalista da banda e seu ex-marido. Quando concedeu uma entrevista a Bruna Lombardi em 1992, Lee explicitou que ainda havia ressentimentos em relação a Arnaldo, que recebia toda a glória por um trabalho coletivo. A partir daí, iniciou uma carreira solo de sucesso, lançando álbuns e singles bem-sucedidos e consolidando-se como uma das principais artistas do Brasil.

Rita é sinônimo de feminismo

O feminismo é um dos temas mais abordados nas composições de Lee. A externalização da luta por igualdade de direitos e quebra de estereótipos é uma marca da artista, que sempre buscou expor sem pudores em sua música a realidade das mulheres brasileiras.

“Todos os homens desse nosso planeta
Pensam que mulher é tal e qual um capeta
Conta a história que Eva inventou a maçã
Moça bonita, só de boca fechada,
Menina feia, um travesseiro na cara,
Dona de casa só é bom no café da manhã”Elvira Pagã (1979)

Suas letras, que abordam questões como igualdade de gênero, liberdade sexual e empoderamento feminino, têm sido uma fonte de inspiração para as mulheres de todas as gerações. O tema não está presente apenas nas canções da paulistana, que é conhecida por seu caráter independente e forte, e sua atitude corajosa ao lidar com questões controversas. Rita, inclusive, se auto intitulou “Padroeira da Liberdade” em uma entrevista à revista Rolling Stone em novembro de 2022.

“Eu sou pau pra toda obra
Deus dá asas à minha cobra
Hum! Hum! Hum! Hum!
Minha força não é bruta
Não sou freira, nem sou puta
Porque nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem”Pagu (2000)
Rita Lee e Zelia Duncan performando "Pagu" em 2001
Rita Lee e Zelia Duncan performando “Pagu” em 2001 | Foto: Reprodução

Considerada a pioneira e maior representante feminina no cenário do rock nacional, é a mulher que mais vendeu discos no Brasil, ultrapassando os 55 milhões de cópias vendidas. Contudo, apesar de todos os recordes positivos, Rita Lee é considerada a artista que mais teve suas músicas censuradas na época da Ditadura Militar (1964-1985).

O legado de Rita no mundo da moda

A rebeldia e autenticidade de Rita Lee ultrapassam a barreira da música. Sua atitude também é marcada pelos looks da artista durante sua carreira, o que fazem dela um ícone fashion

Uma das histórias mais marcantes nesse âmbito envolvendo a cantora aconteceu em Londres, mais especificamente na boutique Biba. Rita calçou uma bota plataforma prateada e informou à atendente que o sapato estava apertado. Enquanto a moça foi ao estoque, ela saiu correndo da loja ainda calçando as botas, que vieram a se tornar icônicas nos seus figurinos.

A Bota da boutique Biba em imagem de Rita Lee com a banda Tutti Frutti
A Bota da boutique Biba em imagem de Rita Lee com a banda Tutti Frutti | Foto: Reprodução

Era ela quem idealizava os figurinos extravagantes d’Os Mutantes, e conseguia unir com maestria a essência das músicas com o conceito dos looks, tanto os das capas dos álbuns quanto os que usavam em cima do palco.

Ela sempre soube construir sua identidade visual como ninguém, sem demonstrar desconhecimento sobre seu estilo em nenhum momento. Pensar em Rita Lee é imaginar seus óculos de sol de armação redonda, o cabelo ruivo com franja na altura dos olhos e roupas despojadas e autênticas.

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Ela nunca seguiu tendências, pois sempre foi dedicada o suficiente a si mesma para criar um estilo próprio e ser fiel a ele até hoje. E ao contrário do que muita gente imagina, a essência de suas vestimentas não está apenas nas cores, tamanhos ou formas de suas roupas. O verdadeiro conceito de suas vestes está na excelência da externalização de si mesma e o que defende.

Em setembro de 2021, o Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, realizou uma exibição homenageando o legado de Rita Lee na moda. A Samsung Rock Exhibition Rita Lee contou com 42 figurinos utilizados pela cantora ao longo de sua carreira, inclusive a famosa bota plataforma da Biba.

Exposição "Samsung Rock Exhibition Rita Lee" no MIS
Exposição “Samsung Rock Exhibition Rita Lee” no MIS | Foto: André Velozo/Reprodução
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Atualmente, a artista é figura marcante no ativismo feminista e na causa animal. Apesar de estar afastada dos palcos, ela permanece sendo um símbolo de criatividade e independência. Não importa quanto tempo passe, nossa “Padroeira da Liberdade” vai continuar sendo venerada por fãs em todo o país e celebrada por sua contribuição ímpar para a cultura brasileira. 

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Uma jornalista apaixonada por música, literatura e cinema. Seus maiores hobbies incluem criar playlists para personagens fictícios e falar sobre Taylor Swift nas redes sociais.
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