Siouxsie Sioux: Um ícone do rock muito além dos estereótipos

Siouxsie Sioux: Um ícone do rock muito além dos estereótipos

Susan Janet Ballion, mais conhecida como Siouxsie Sioux, é um dos nomes mais importantes de sua geração. Eterna vocalista da banda Siouxsie and The Banshees e também da The Creatures, a Rainha do Dark nasceu em 27 de maio de 1957, em Londres, e até hoje influencia a música, a moda e a cultura pop. Referência para outras talentosas cantoras, como Sinead O’Connor, PJ Harvey, Courtney Love, Kim Gordon (Sonic Youth), Romy Croft (The XX) e Shirley Manson (Garbage), não é apenas como artista que ela se destaca: Siouxsie é também símbolo de empoderamento, liberdade, rebeldia e erotismo como expressão de feminilidade, e é uma ávida militante contra rótulos que limitem o que artistas possam ser ou fazer enquanto profissionais.

Siouxsie Sioux

Siouxsie and The Banshees

Sua relação com a música começou quando ainda era uma adolescente, e suas primeiras influências foram David Bowie, Lou Reed, The Stooges e Roxy Music. Com seu amigo Steven Severin deu início ao que seria um dos maiores marcos da era pós-punk: em um show dos Sex Pistols, em agosto de 1976, Siouxsie e Severin conversaram com o empresário do grupo sobre a ideia de lançar sua própria banda. Logo em setembro de 1976, quando enfim foram convidados a subir ao palco do 100 Club para o London Punk Festival, eles ganharam os holofotes do cenário musical londrino como Siouxsie and The Banshees, com Severin no baixo, Marco Pirroni na guitarra, Sid Vicious na bateria e Siouxsie nos vocais.

E desde que pisou ao palco pela primeira vez ela tem causado uma revolução: com uma voz potente e muito a dizer, provocativa e sedutora, Siouxsie é a encarnação do quanto uma mulher pode ser empoderada e livre, ainda mais em um cenário dominado por bandas unicamente masculinas. Foi apenas em 1978 que a banda assinou com uma gravadora, a Polydor, para lançar o disco The Scream, aclamado por ser algo novo e único dentro de uma cena marcada pela mercantilização do punk rock a partir do final dos anos 70. O single Hong Kong Garden alcançou o top 10 britânico, confirmando o espaço da banda recém-formada e ganhando a atenção da crítica especializada e da mídia.

Siouxsie Sioux

Com discos sendo lançados praticamente todo ano, Siouxsie and The Banshees aos poucos ganharam o mundo. Destacam-se os álbuns Kaleidoscope (1980) que alcançou o top 5 britânico; Juju (1981) com misticismo e magia como tema, e o single de sucesso “Spellbound”; Tinderbox (1986) presenteando os fãs com a música “Cities in Dust”, o maior sucesso da banda; e Superstition (1991) que colocou o single “Kiss Them for Me” no 23º lugar nas paradas de sucesso norte-americanas e rendeu a participação no festival Lollapalooza.

Ainda na década de 80 foi lançado o álbum de covers Through the Looking Glass, com as ótimas versões de “Hall of Mirros” (Kraftwerk), “The Passenger” (Iggy Pop) e “You’re Lost Little Girl” (The Doors), e em 1992 a coletânea Twice Upon a Time, que também contou com a inédita “Fireworks”, vários lados B e os singles mais famosos. Em 1995, para a tristeza dos fãs e da música como um todo, foi lançado o último álbum da banda, intitulado The Rapture, seguido por uma grandiosa turnê mundial.

Siouxsie Sioux

Siousxsie and The Banshees contou também com o baterista Budgie, que mais tarde se tornaria marido de Siouxsie, e o tecladista Martin McCarrick a partir de 1988. E entre os muitos guitarristas que passaram pela banda, merece destaque Robert Smith (The Cure), que foi muito influenciado pela música e estilo de Siouxsie. A constante troca de integrantes causou muita discórdia, mas apesar de todos os contratempos essa situação conturbada fez com que eles se reinventassem a cada álbum. Em duas décadas, Siousxie and The Banshees provaram que tinham muito para mostrar ao mundo: foram da agressividade do punk rock à melancolia do gótico, com toques de new wave, mas também flertaram com o pop e o eletrônico, criando hits dançantes, enérgicos e inebriantes, com uma sonoridade única para algo que já era diferente do que estava sendo produzido na época.

Em 1996 a banda se despediu dos palcos, mas não sem antes protestar contra a indústria musical que estava renovando contrato com bandas que já não representavam a verdadeira essência do punk rock – uma clara alfinetada ao retorno dos Sex Pistols no mesmo ano. Em 2002 eles se reuniram para uma pequena turnê intitulada Seven Year Itch Tour com Siouxsie, Severin, Budgie e Knox Chandler na guitarra. É inegável o quanto a banda influenciou a música nas décadas seguintes, e nomes como Radiohead, U2, The Smiths, Massive Attack, LCD SoundSystem, Joy Division, The Cure e Depeche Mode, entre outros, sempre reverenciaram o talento de Siouxsie e seus parceiros.

Siouxsie Sioux

The Creatures

Também em 1981 Siouxsie e Budgie formaram a banda The Creatures – e mais tarde o selo musical Sioux Records. O primeiro EP, Wild Things, tinha uma sonoridade primitiva e tribal baseada em percussão e foi muito polêmico por trazer fotos de Siouxsie e Budgie nus na capa e nas artes do disco. O álbum Feast foi lançado em 1983 e gravado no Havaí, com participação do The Hawaiian Chanters. Na Espanha gravaram o álbum Boomerang, um sucesso aclamado pela crítica e que merece a nossa atenção pelo single “Standing There”, que fala sobre violência contra a mulher. Anima Animus (1999) trouxe algo menos orgânico e experimental, mais frio e eletrônico para o trabalho do The Creatures, e o álbum Hái!, de 2003, foi produzido em parceria com Leonard Eto e os japoneses Kodo Drummers, com o destaque da crítica especializada por ser marcante visualmente, com trajes inspirados em roupas japonesas, e acompanhado por uma orquestra.

Siouxsie Sioux

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Carreira solo e participações

A carreira solo de Siouxsie foi até discreta se comparada com todo o furor ou a experimentação de suas outras bandas. Em 2005 ela lançou o DVD Dreamshow com canções da época que dividia sua carreira entre a Siouxsie and the Banshees e a The Creatures. Em 2007, chegou o álbum Mantaray e em 2014, junto com Severin, foi lançado It’s Wonderful Life para a revista Mojo, com sucessos do cinema e da música clássica. Antes de seus álbuns solo, Siouxsie também gravou músicas com muitos artistas e músicos renomados, como Interlude com Morrissey; The Lighthouse com o produtor francês Hector Zazou; a inédita Murdering Mouth com John Cale; Threat of Love com Marc Almond; e Cish Cash com Basement Jaxx.

Siouxsie Sioux

Única na música, na moda e na cultura pop

O estilo de Siouxsie, assim como de suas bandas, era inimitável. No início de sua carreira, misturando muito glamour com a moda punk e gótica, Siouxsie teve a sua marca registrada com roupas pretas, meia-arrastão, cabelos pretos e bagunçados, batom vermelho e olhos com muito delineador. Essa primeira versão é tão característica que serviu de inspiração para a personagem Morte de Sandman, escrita por Neil Gaiman; para o desfile da marca Saint Laurent, em 2015; e até no jogo World of Warcraft, com uma personagem chamada Siouxsie, a Banshee. Mas o colorido gritante das décadas de 80 e 90 também chegaram com força: muito pink, blush bem marcado, brilho e cores fortes fizeram parte de seu figurino, provando que nem tudo precisa ser preto no branco sempre.

Siouxsie Sioux

E essa capacidade de se reinventar na música ou visualmente fez com que ela detestasse a maneira como eram ligados exclusivamente ao punk ou à música gótica. Em 2005, em entrevista ao The Guardian, Siouxsie resmungava o quanto odiava toda essa mitologia criada ao seu redor sobre ser “rainha” e “musa inspiradora” de um movimento. Com muito humor, ela dizia que entre “The Queen of Goth” ou “The Queen of Punk”‘, se tivesse que escolher um título preferia ser conhecida como “The Ice Queen”. Ela também criticava a mídia e a imprensa por tentar moldá-los, ora colocando rótulos em tudo que faziam, ora desprezando tudo o que já haviam feito na música e no cenário pós-punk.

Siouxsie Sioux

Para Siouxsie era tudo muito simples: queria apenas ser ela mesma. Crescendo no subúrbio de Londres ela sempre se sentiu deslocada, fosse por seus problemas familiares (o pai morreu precocemente devido a problemas de alcoolismo e a mãe passava o dia trabalhando para sustentar a família), ou pela casa que tinha uma aparência um tanto descuidada com relação à vizinhança. E a ânsia de encontrar seu espaço no mundo não vinha de uma intenção de enfrentar o sistema sendo extravagante ou rebelde, era simplesmente algo natural: “Eu não estava tentando ser masculina e ficar com os garotos, então a principal diferença entre nós e o resto era que não era uma perspectiva unicamente masculina”.

Siouxsie Sioux

Com seu amigo e parceiro de banda, Steven Severin, Siouxsie fez parte do Bromley Contingent, grupo de amigos e conhecidos do sul de Londres que tietavam os Sex Pistols, e com ele escreveu muitas faixas que falavam sobre a infância e tudo o que lembrava a forma como eles cresceram nos subúrbios. E com outras inspirações não tão ligadas ao punk rock, como R&B e Beatles, experimentando culturas de outros povos como fez com a The Creatures, ou ainda com a influência de Hitchcock no cinema, Siouxsie Sioux marcou a música e a cultura pop: com uma história complicada, em um mundo marcado por grupos deslocados, enraivecidos e com muita coisa a dizer, ela apenas queria alcançar o público com uma música que pudesse fundir sensações e levar os ouvintes a outra dimensão. Talvez seu estilo ousado e seu excesso de rebeldia e liberdade tenham chocado a sociedade, mas nós, mulheres, sabemos que às vezes esta é a única forma que encontramos para conquistar o nosso lugar no mundo.

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No momento gamer casual. Em tempo integral Comunicadora, Relações Públicas e Pesquisadora. Freela como Produtora de Conteúdo, Redatora e Social Media. Pisciana e sonhadora, meio louca dos signos, meio louca dos gatos. Fã de tecnologia, games, e-sports, quadrinhos e outras nerdices legais!
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