Mulheres Negras no Rock: Poly Styrene e o Punk Rock

Mulheres Negras no Rock: Poly Styrene e o Punk Rock

No final da década de 1970, com o surgimento do punk, também tivemos mulheres negras que emergiram junto com o movimento. Nomes como Poly Styrene do X-Ray Spex, e Pauline Black, da banda The Selecter, tiveram um papel importante nesta cena musical, além da desconhecida Fancy Rosy, que lançou apenas um single.

POLY STYRENE: LONGE DE SER UM CLICHÊ

Poly Styrene

Nascida Marianne Joan Elliott-Said em 3 de julho de 1957, era filha de uma secretária escocesa com um ex-aristocrata Somali. Ela foi criada apenas pela mãe e fugiu de casa aos quinze anos para viver uma vida hippie, mas a aventura acabou sendo interrompida quando ela furou o pé em um prego velho e teve que ser tratada de septicemia.

Aos dezenove anos ela assistiu a um show do Sex Pistols e achou que também podia fazer aquilo. Ela colocou um anúncio no jornal procurando jovens punks interessados em formar uma banda e em 1976 surgiu o X-Ray Spex, com Jak Airport (Jack Stafford) nas guitarras, Paul Dean no baixo, Paul ‘B. P.’ Hurding na bateria, Lora Logic (Susan Whitby) no saxofone e Poly Styrene nos vocais.

O grupo lançou o seu primeiro e único álbum em 1978 e entrou para a história com a música Oh Bondage! Up Yours!, considerada uma das precursoras e grande influência do movimento das Riot Grrrl, movimento punk feminista que surgiria na década de 1990. Poly Syrene já iniciava Oh Bondage! Up Yours! mandando a real:

“Some people think little girls should be seen and not heard
But I think
Oh Bondage! Up Yours!”

Ela costumava dizer que, se não tomasse cuidado, os empresários da cena musical iriam transformá-la em um símbolo sexual e isso era justamente o que ela não queria. “Eu disse que eu não era um símbolo sexual e que se alguém tentasse me transformar em um, eu rasparia a cabeça no dia seguinte.” – Poly Styrene para a NME. Além de Oh Bondage! Up Yours!, também podemos destacar as canções Germ Free Adolescence e Identity.

Em 1978 ela começou a ter alucinações que depois seriam diagnosticadas como sintomas de transtorno bipolar. Isso impossibilitou a sua carreira por um tempo e causou o fim do X-Ray Spex, isolando a cantora da música por um período. Na década seguinte ela gravou mais um álbum em 1980 chamado Translucence, trabalho mais calmo do que o som da sua banda anterior e mais voltado para o jazz.

Marianne, ou simplesmente Poly Styrene, entrou para a história do punk com o seu aparelho nos dentes e uma atitude que quebrava padrões, principalmente em uma cena musical onde as mulheres não tinham muito espaço, e se tornou um dos símbolos do movimento.

PAULINE BLACK: A RAINHA DO SKA

Poly Styrene

Pauline Black foi a primeira mulher a fazer parte do movimento 2 Tone, onda que surgiu no final da década de 1970 e fundia o Ska original com a atitude e elementos do Punk e Reggae, sendo representado por bandas como The Specials e The Selecter e, mais tarde, influenciou nomes como Gwen Stephani nos anos 1990.

Ela nasceu em 23 de outubro de 1953 com o nome de Belinda Magnus, filha de mãe judia e pai nigeriano, mas acabou sendo adotada ainda bebê por um casal branco de meia idade que mudou o seu nome para Pauline Vickers. Pauline trabalhava de dia como radiologista em um hospital e a noite como cantora.

Em maio de 1979, ela foi a um ensaio em Hillfields com músicos que ela nem conhecia direito e acabou formando o The Selecter de maneira totalmente aleatória. Neol Davies entrou no local falando que precisava de uma banda e perguntou se eles topavam fazer parte dela.

Leia Também:
[MÚSICA] Mulheres Negras no Rock: Betty Davis, Trio Labelle, Joyce Kennedy e os Anos 70
[MÚSICA] Mulheres Negras no Rock: Tina Turner, Odetta e os Anos 60
[MÚSICA] Mulheres Negras no Rock: De Sister Rosetta Tharpe ao esquecimento

E foi assim que ela se tornou vocalista de uma das bandas originais do movimento 2 Tone e se tornou a primeira “Rude Girl“, misturando um visual inspirado na aparência “Rude Boy” de Peter Tosh e tornando-o mais feminino, além de receber o título de “Rainha do Ska”.

Ela acabou mudando o seu nome artístico para Pauline Black para evitar problemas em seu outro trabalho e também porque sua família adotiva costumava se referir a ela como sendo uma pessoa “de cor”, em vez de negra. Pauline já chegou a declarar que foi influenciada no começo de sua carreira por Poly Styrene do X-Ray Spex: “Ela foi a primeira mulher negra que eu vi fazendo algo fora do molde do que pessoas como o Chic estavam fazendo”, disse para o site Underground.

O The Selecter era formado por Pauline Black nos vocais, Compton Amanor na guitarra, Charley Anderson no baixo, Charley ‘H’ Bembridge na bateria, Desmond Brown no teclado, Neol Davies na guitarra e Arthur ‘Gaps’ Hendrickson também nos vocais.

Em pouco tempo eles já estavam dividindo o palco com bandas como o Blondie, The Specials e Madness e já tinham sucessos como a música On My Radio no topo das paradas. Pauline foi uma das primeiras mulheres negras a chegar ao Top 6 das paradas de sucesso na época fazendo um som anti-racista e anti-sexista.

Contudo o The Selecter acabou se separando em 1982 e voltou se reunir eventualmente nas décadas seguintes, mas já haviam entrado para a história da música junto com Pauline, que se tornou um ícone do movimento e que, além de cantora, se tornou atriz e apresentadora, seguindo até hoje com sua carreira artística.

FANCY ROSY E O PUNK DEBOCHADO

Poly Styrene

Fancy Rosy foi uma modelo porto-riquenha que imigrou para a Alemanha na década de 1970 e fez parte de um grupo de Disco Music chamado Pretty Maid Company. Segundo consta, o seu trabalho mais conhecido como modelo é a foto “Toilet Terror”, que aparece no encarte do seu único single solo I am the Clown of Disco Town.

No lado A do single, lançado em 1977, temos a faixa título homônima que mais parece uma zoeira da música disco e no lado B temos essa “pérola” do punk chamada Punk Police, nela Fancy Rosy faz uma mistura que lembra um pouco de Nina Hagen com Poly Styrene nos vocais e cria um som experimental que ninguém estava esperando na época.

Para muitos Punk Police soa mais como uma faixa punk falsa ou uma paródia da música punk, sendo categorizada como “punksploitation”, termo usado para definir artistas de outros gêneros que se aventuraram no estilo punk que fazia sucesso na época. Contudo essa música foi algo que mais tarde seria o embrião da experimentação no punk e, apesar de toda a controvérsia, Fancy Rosy deixou como única contribuição uma canção cheia de personalidade. Após esse single a cantora desapareceu do meio musical e não se tem notícia de mais nenhum trabalho seu.

No próximo post falaremos da Diva Grace Jones e da mulheres negras no rock dos anos 1980. 

Ouça a nossa playlist especial Mulheres Negras no Rock!

Fontes:

Texto originalmente publicado em Sopa Alternativa.

Escrito por:

35 Textos

Formada em artes visuais e apaixonada por arte, música, livros e HQs. Atualmente pesquisa sobre mulheres negras no rock. Seu site é o Sopa Alternativa.
Veja todos os textos
Follow Me :