Estamos destacando as mulheres negras que foram fundamentais para que o Rock and Roll tomasse forma, mas que não receberam o devido crédito ou foram esquecidas e apagadas da história. Já falamos do nascimento do gênero com Sister Rosetta Tharpe e de duas cantoras fundamentais que foram esquecidas: LaVern Baker e Big Mama Thorton. (Leia a primeira parte do especial AQUI).
Agora seguimos para os anos 1960 com Odetta, Tina Turner, Etta James e Martha and the Vandellas. Mulheres que colocaram os tijolos nas fundações do rock da década de 1960.
TINA TURNER, A “RAINHA DO ROCK”
Nascida Anna Mae Bullock em 26 de novembro de 1939, Tina Turner começou sua carreira em meados da década de 1950, quando conheceu Ike Turner em um Club noturno e ele orientou os primeiros passos de sua carreira. Tina Turner gravou pela primeira vez em um estúdio em 1958, fazendo backing vocal ainda com o nome de “Little Ann”. Na década de 1960 ela estourou com o duo Ike & Tina Turner, que fez sucesso com músicas como A Fool in Love e Proud Mary.
Tina Turner chegou pisando forte no palco: a maneira como ela se apresentava definiu o que era uma verdadeira performance de rock. Ela abusava de sua figura sexy e agressiva e promovia performances no palco que até hoje servem de base para outros artistas. Turner se tornou referência e definiu o novo tipo de cantora negra que estava por vir.
Ela é umas das cantoras negras de maior sucesso e uma das poucas, na época, a alcançar as audiências brancas e obter sucesso. Tina Turner é uma força da natureza, considerada a “Rainha do Rock” – e o rock realmente deve muito ao seu talento e carisma avassalador.
Contudo, em 1978 Tina divorciou-se de Ike Turner, após 18 anos de um relacionamento abusivo e violento. Seguindo em carreira solo, ela lançou mais dois álbuns na década de 1970, mas só recuperou o sucesso nos anos 1980, com hits como What’s Love Got to Do with It e Private Dancer. Tina Turner é uma das artistas negras mais bem sucedidas de todos os tempos, com vários prêmios Grammy e o reconhecimento merecido. Ela definitivamente é um ícone do rock.
https://www.youtube.com/watch?v=hzQnPz6TpGc
ODETTA E O FOLK ANTES DE BOB DYLAN
Também nos anos 1960 podemos destacar Odetta como um dos alicerces do folk que viria influenciar Bob Dylan, Janis Joplin, Joan Baez e muitos outros.
Odetta foi uma cantora, compositora, atriz e ativista. Com o seu trabalho contribuiu para definir o que seria a música folk da época, além de apoiar os Movimentos por Direitos Civis. Martin Luther King Jr. a chamava de “Rainha da música folk americana” e as suas músicas eram conhecidas como a “trilha sonora dos Movimentos por Direitos Civis”.
Odetta Holmes nasceu no Alabama em 31 de dezembro de 1930 e se mudou com sua mãe para Los Angeles com apenas 7 anos de idade, após a morte de seu pai. Desde de muito pequena ela já demonstrava talento para cantar e uma professora do primário, notando o seu talento, pediu que sua mãe a incentivasse a cantar.
Na década de 1950, após concluir os estudos em música, ela conseguiu um papel em uma companhia itinerante chamada Finian’s Rainbow e se apaixonou pela música folk quando a conheceu em um café em São Francisco. “Através daquelas músicas, eu aprendi coisas sobre a história das pessoas negras nesse país que os historiadores na escola não estavam dispostos a nos contar ou haviam mentido.” – disse Odetta sobre o seu primeiro contato com a música folk.
A partir daí ela se dedicou ao gênero e em 1956 lançou o seu primeiro álbum, Odetta Sings Ballads and Blues, que influenciou fortemente Bob Dylan a seguir o caminho do folk. Em seguida ela lançou mais dois álbuns At the Gate of Horn (1957) e My Eyes Have Seen (1959).
Nos anos 1960 ela foi uma figura forte do Movimento por Direitos Civis, colocando a sua voz em favor da igualdade, sendo considerada a “trilha sonora dos Movimentos por Direitos Civis”. Odetta fez uma apresentação no Lincoln Memorial que entrou para a história, após ser anunciada por ninguém menos que o Dr. Martin Luther King Jr.
ETTA JAMES E A SUA VOZ PODEROSA
Também não podemos nos esquecer de Etta James, quando falamos em Rock nessa década. Em 1967 ela gravou “Tell Mama”, uma fusão entre rock e música gospel e lançou um dos melhores discos da época.
Nascida Jamesetta Hawkins, em 25 de janeiro de 1938, ela teve uma infância difícil e na década de 1950 entrou para o grupo “The Creolettes”, em 1954 começou a trabalhar com Johnny Otis e mudou o nome do grupo para Peaches.
No final dessa década ela iniciou a sua carreira solo e nos anos 1960 conseguiu o seu primeiro hit chamado All I Could Do Was Cry e com a música At Last! ela alcançou o sucesso lançando um álbum de mesmo nome.
Etta James mesclava elementos do country, blues, rhythm and blues, jazz e rock and roll com a sua voz marcante e poderosa. No final dos anos 1960 ela lançou o álbum “Tell Mama”, com um single homônimo e uma mistura de ritmos que a colocaram na história do rock. Na década seguinte ela ficou afastada dos holofotes e retomou a sua carreira nos anos 1980, mas já havia gravado o seu nome na história da música com seus sucessos dos anos 1960.
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MARTHA AND THE VANDELLAS: O GIRL GROUP DE SUCESSO
Martha Reeves era secretária na Motown. Quando teve a oportunidade de substituir uma backing vocal que havia faltado em uma gravação, ela impressionou tanto que conseguiu formar o seu próprio girl group, e assim surgiu o Martha and the Vandellas.
Elas foram um dos grupos mais bem sucedidos da Motown na década de 1960 e, apesar do sucesso, o grupo se separou em 1972, não sem antes criar alguns hits que entraram para a história, como Dancing in the Street, que se tornou a música de maior sucesso do grupo e foi usada nos movimentos de direitos civis como símbolo de resistência. “Dancing in the Street” é conhecida também por ter sido regravada nos anos 1980 por Mick Jagger e David Bowie.
Nesta segunda parte conhecemos as artistas por trás da ascensão do rock nos anos 1960 e no seu uso como engajamento político, no próximo texto partimos para os anos 1970 e as transformações daquele período.
Ouça a nossa playlist especial Mulheres Negras no Rock:
Fontes:
Texto originalmente publicado em Sopa Alternativa.