Bikini Kill em São Paulo: o tão esperado encontro de gerações de mulheres!

Bikini Kill em São Paulo: o tão esperado encontro de gerações de mulheres!

Na noite chuvosa de uma terça-feira em São Paulo, ocorreu um evento aguardado por mais de 30 anos: o primeiro show da banda Bikini Kill no espaço Audio.

Reunindo mulheres de diferentes gerações por mais de uma hora, elas cantaram e dançaram ao som de todas as músicas da icônica banda de riot grrrl.

A importância da Bikini Kill no movimento riot grrrl

Antes de mais nada, vale relembrar um pouco sobre a trajetória das mulheres que fundaram a Bikini Kill.

Nos anos 1990, surgiu a onda do riot grrrl dentro do punk, um movimento que celebrava e incentivava mulheres a liderarem bandas e a participarem ativamente dos shows.

Bikini Kill foi pioneiro no riot grrrl, usando músicas, zines, shows e encontros com outras mulheres para discutir questões feministas.

Bikini Kill nos anos 90: Tobi Vail, Kathleen Hanna e Kathi Wilcox
Tobi Vail, Kathleen Hanna e Kathi Wilcox nos anos 90 | Reprodução

Suas músicas eram poderosas ao trazer conteúdos privados para o domínio público quando eram cantadas. O objetivo era promover o empoderamento coletivo e individual, dando protagonismo às mulheres que eram excluídas.

Não é surpresa que Kathleen Hanna, Tobi Vail e Kathi Wilcox sejam uma fonte inesgotável de inspiração para muitas meninas e mulheres que veem na música uma forma de celebrar a vida e contar suas próprias histórias. Elas nos ensinam a potência de criar e compartilhar arte.

A celebração do riot brasileiro nas bandas de abertura

Agora, você certamente compreende o significado desse evento para nós aqui no Brasil.

Desde a criação da banda, centenas de outras surgiram por aqui e pelo mundo todo, inspiradas principalmente pela sinceridade e agressividade da Bikini Kill.

Nada mais justo do que convidar bandas que fazem parte da história do movimento riot grrrl brasileiro para dividir o palco com as pioneiras.

Por isso, no primeiro show, tivemos a participação do Florcadaver (5 anos de banda), Bertha Lutz (18 anos de banda) e The Biggs (28 anos de banda). No segundo, teremos a presença de As Mercenárias (41 anos de banda, se não considerarmos o hiato), Weedra (uns 7 anos de banda) e Punho de Mahin (6 anos de banda).

The Biggs
The Biggs | Reprodução

É importante destacar o tempo que os grupos existem para mostrar o quão vivo o movimento punk riot grrrl sempre foi no Brasil. Nós, mulheres latinas, subalternas, vivendo em corpos que enfrentam opressões de gênero, raça e classe, temos peculiaridades em nossas vivências.

Kathleen Hanna nos atinge no peito quando fala sobre um relacionamento tóxico, mas Bertha Lutz nos toca de maneira diferente quando Bah canta sobre ser preta, gorda e sapatão, ou sobre o machismo na cena musical. Afinal, são temas que dialogam diretamente com nossa experiência diária.

Kathleen Hanna no show da Bikini Kill em São Paulo
Kathleen Hanna no show do dia 05 de março em São Paulo | Crédito: Mila Maluhy

Dessa forma, o movimento riot brasileiro pôde ser maravilhosamente celebrado nessa reunião de mulheres cis e trans, pessoas não-bináries, homens trans e “riot queers”, como podemos chamar. E essa celebração continuará nos próximos shows e nas reverberações que esses encontros nos trazem.

Kathleen Hanna ressignifica o famoso coro “Girls to the front”

Com tanta abertura para debates de gênero na época, é lógico que as mulheres da Bikini Kill não deixariam de acompanhar as discussões atuais. E é por isso que uma das exigências da produção era ter um banheiro para pessoas não-bináries.

Como Kathleen fez questão de dizer: “Não estamos mais em 1992, é 2024 e nós não podemos afirmar a identidade de gênero de alguém pela aparência“.

O recado de inclusão é claro e óbvio, e a militância das integrantes da banda se mantém atualizada e fundamental para minorias e dissidências de gênero. Mesmo que a pauta de raça não fique tão clara nas manifestações da banda, as atitudes de inclusão continuam como objetivo principal do ativismo delas.

Kathleen Hanna chamando todas as mulheres para ficarem em frente ao palco em um dos shows dos anos 90.
Kathleen Hanna chamando todas as mulheres para ficarem em frente ao palco em um dos shows dos anos 90.

Para além do famoso coro “Girls to the front”, propagado por Kathleen nos shows dos anos 90, em 2024, Hanna afirma que todas as pessoas são bem-vindas, reconhecendo a pluralidade de identidades ao criar um espaço seguro.

Everyone is welcome at a bikini kill show! girls to the front yes, but also trans gender queer fluid non binary – if you feel you belong at the front – you do!”

Todos são bem-vindos em um show da Bikini Kill! Meninas na frente, sim, mas também pessoas trans, queer, fluidas, não-bináries. Se você sentir que pertence à frente, você pertence!”

Vídeo por @belle_simoes

Tobi Vail e a sua aliança com a causa Palestina

Outra bandeira levantada atualmente pela banda, principalmente pela baterista e vocalista Tobi Vail, é o apoio à causa Palestina diante do genocídio cometido por Israel em Gaza.

No show em São Paulo, Tobi disse que precisava usar óculos escuros porque chorou no show da banda no México, em 3 de março. Ela se emocionou ao lembrar de Aaron Bushnell, um soldado estadunidense que se autoimolou em frente à embaixada israelense em Washington, em 25 de fevereiro, como protesto ao genocídio em Gaza.

Vídeo por @trrrevisan

O zine distribuído gratuitamente após o show contém uma entrevista com Tobi, onde ela comenta que participou de eventos beneficentes para um fundo de ajuda às crianças palestinas, além da criação de zines em apoio à causa Palestina. Além disso, a artista divulga diariamente em seu perfil do Instagram informações e notícias sobre Gaza.

São poucos os artistas que possuem tamanha coragem e humanidade para falar abertamente sobre esse genocídio em curso. Por isso, a Bikini Kill continua propagando uma luz irradiante e necessária diante dos túneis midiáticos obscuros que escolhem “quais vidas importam”.

Bikini Kill fará um segundo show essa semana em São Paulo

O próximo show acontecerá dia 14 de março, à partir das 18h, na Audio, em São Paulo.

Com ingressos ainda disponíveis no site Ticket360, também é possível através das bilheterias da Audio e da Associação Cultural Cecília sem taxa de conveniência.

Bikini Kill se apresentando dia 05 de março em São Paulo
Bikini Kill se apresentando dia 05 de março em São Paulo | Crédito: Mila Maluhy

Parte dos valores arrecadados com as entradas irá para a instituição Girls Rock Camp Brasil, uma organização que tem como objetivo o empoderamento feminista através da música.

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Psicóloga, mestranda e pesquisadora na área de gênero e representação feminina. Riot grrrl, amante de terror, sci-fi e quadrinhos, baterista e antifascista.
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