Na noite chuvosa de uma terça-feira em São Paulo, ocorreu um evento aguardado por mais de 30 anos: o primeiro show da banda Bikini Kill no espaço Audio.
Reunindo mulheres de diferentes gerações por mais de uma hora, elas cantaram e dançaram ao som de todas as músicas da icônica banda de riot grrrl.
A importância da Bikini Kill no movimento riot grrrl
Antes de mais nada, vale relembrar um pouco sobre a trajetória das mulheres que fundaram a Bikini Kill.
Nos anos 1990, surgiu a onda do riot grrrl dentro do punk, um movimento que celebrava e incentivava mulheres a liderarem bandas e a participarem ativamente dos shows.
Bikini Kill foi pioneiro no riot grrrl, usando músicas, zines, shows e encontros com outras mulheres para discutir questões feministas.
Suas músicas eram poderosas ao trazer conteúdos privados para o domínio público quando eram cantadas. O objetivo era promover o empoderamento coletivo e individual, dando protagonismo às mulheres que eram excluídas.
A celebração do riot brasileiro nas bandas de abertura
Agora, você certamente compreende o significado desse evento para nós aqui no Brasil.
Desde a criação da banda, centenas de outras surgiram por aqui e pelo mundo todo, inspiradas principalmente pela sinceridade e agressividade da Bikini Kill.
Nada mais justo do que convidar bandas que fazem parte da história do movimento riot grrrl brasileiro para dividir o palco com as pioneiras.
Por isso, no primeiro show, tivemos a participação do Florcadaver (5 anos de banda), Bertha Lutz (18 anos de banda) e The Biggs (28 anos de banda). No segundo, teremos a presença de As Mercenárias (41 anos de banda, se não considerarmos o hiato), Weedra (uns 7 anos de banda) e Punho de Mahin (6 anos de banda).
Kathleen Hanna nos atinge no peito quando fala sobre um relacionamento tóxico, mas Bertha Lutz nos toca de maneira diferente quando Bah canta sobre ser preta, gorda e sapatão, ou sobre o machismo na cena musical. Afinal, são temas que dialogam diretamente com nossa experiência diária.
Kathleen Hanna ressignifica o famoso coro “Girls to the front”
Com tanta abertura para debates de gênero na época, é lógico que as mulheres da Bikini Kill não deixariam de acompanhar as discussões atuais. E é por isso que uma das exigências da produção era ter um banheiro para pessoas não-bináries.
Como Kathleen fez questão de dizer: “Não estamos mais em 1992, é 2024 e nós não podemos afirmar a identidade de gênero de alguém pela aparência“.
O recado de inclusão é claro e óbvio, e a militância das integrantes da banda se mantém atualizada e fundamental para minorias e dissidências de gênero. Mesmo que a pauta de raça não fique tão clara nas manifestações da banda, as atitudes de inclusão continuam como objetivo principal do ativismo delas.
“Everyone is welcome at a bikini kill show! girls to the front yes, but also trans gender queer fluid non binary – if you feel you belong at the front – you do!”