A Semente do Mal: o terror que faz humor com o absurdo

A Semente do Mal: o terror que faz humor com o absurdo

A Semente do Mal, escrito e dirigido pelo diretor luso-americano Gabriel Abrantes, com distribuição da Imagem Filmes, chega aos cinemas brasileiros hoje, 13 de junho. Este filme de terror centra-se na busca de Edward (Carloto Cotta) por sua família biológica, uma jornada que rapidamente se transforma em um pesadelo indescritível.

Acompanhado por sua namorada, Ryley (Brigette Lundy-Paine), Edward decide desvendar os segredos de sua ancestralidade no Norte de Portugal. No entanto, o que começa como uma viagem de autodescoberta logo revela laços familiares mergulhados em um segredo macabro, capaz de atormentar até mesmo os mais corajosos.

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A Semente do Mal: clichês, encontros familiares e uma pitada de sentimentos conflituosos

Tudo começa com um aniversário de Edward, marcado por sua incerteza sobre a veracidade da data. Para animá-lo, sua namorada Ryley lhe presenteia com um dispositivo chamado AnceStory, que promete encontrar conexões genéticas. Basta uma gota de sangue de Edward, e algumas horas depois, ele recebe uma notificação indicando a existência de um familiar. O casal então embarca numa viagem dos Estados Unidos para o Norte de Portugal, ansiosos por descobrir mais sobre a família de Edward.

Pôster de "A Semente do Mal"
Divulgação

Tudo bem, um clichê. O filme de terror ambientado em um lugar distante, com uma casa muito antiga e vizinhos assustados. Aquele tipo de filme de terror que você sabe que vai dar errado, mesmo quando os personagens ainda estão sorrindo. O encontro acontece e, como já sabemos pelo trailer, Carlos, irmão de Ed, é sua versão portuguesa de cabelos compridos.

A verdadeira estranheza começa com a aparição da mãe. Sua presença exagerada e bizarramente inquietante intensifica a certeza de que algo está profundamente errado. Ela deixa o casal desconfortável, mas é Ryley quem primeiro percebe os sinais de alerta.

Em um retorno ao clichê, ela busca sinal de celular no meio de uma mata fechada para receber conselhos sensatos que, como de costume, não seguirá. Edward, por sua vez, deslumbrado com a descoberta de sua família, ignora as bizarrices que seriam capazes de deixar famílias tradicionais de cabelo em pé.

A Semente do Mal
Cena de Amelia’s Children | Divulgação

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Quando percebemos, a estranheza do exagero se transforma no humor do absurdo, adicionando uma pitada de vergonha alheia. É aquela risada que te faz olhar para o lado e pensar: “Por que ninguém controla essa situação?”, enquanto assiste a uma cena irônica e repleta de detalhes ridículos.

Não é só de ambientação que sobrevive um roteiro, Gabriel Abrantes

Construção de roteiros à parte, também precisamos falar da parte técnica e conceitual do filme. E que conceito! Usando muito bem sua origem portuguesa, Gabriel Abrantes dá uma atmosfera lusa quase impecável ao filme. Quase, pois em uma cena significativa, o português que se ouve é o brasileiro. Além disso, há um apelo à mística nacional como justificativa para o desenrolar da trama. Com essa ambientação, ficamos com vontade de fazer uma viagem de carro por Portugal, comendo bacalhau e tomando vinho, tendo cuidado em lugares onde não existe sinal.

Mas é isso. Ficamos com a beleza da cena e o incômodo do roteiro, que não é facilitado pela construção dos personagens. A começar pelos gêmeos, Ed, o gringo careca, e Carlos, que poderia ter sido retirado de uma novela mexicana e posto diretamente em um castelo medieval em Portugal.

O filme também conta com Alba Baptista como Amélia, mãe da família, jovem, e Anabela Moreira como Amélia em sua versão idosa, caracterizada de forma que nos faz questionar se não teria sido melhor escalar uma atriz com idade correspondente à da personagem.

Alba Baptista em "A Semente do Mal"
Alba Baptista em A Semente do Mal | Divulgação

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Por fim, vamos falar sobre o título em português. Se o filme, por si só, já é quase uma compilação de clichês de terror, ter sido chamado de “A Semente do Mal” adiciona uma camada extra a isso, já que o título original em inglês, Amelia’s Children (Os Filhos de Amélia), é muito mais representativo da história. Lembrando que nem todos os filmes de terror são associados ao mal. A vaidade também pode ser um sentimento assustador. Portanto, recomenda-se coragem para assistir a esse filme.

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Uma adolescente emo virou uma hipster meio torta que sem saber muito bem o que fazer, começou jogar palavras ao vento e se tornou escritora e tradutora. Também é ativista dos direitos humanos. Além disso é lésbica, Fé.minista, taurina. E, principalmente, adoradora de gatos e de café.
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