Dandara: um sopro sutil de liberdade

Dandara: um sopro sutil de liberdade

Parceria entre a sueca Raw Fury e a brasileira Long Hat House, Dandara é descrito, de imediato, como um metroidvania 2D – jogo em estilo plataforma que tem como principais referências aquilo que foi construído nas séries Metroid e Castlevania, com uma ampla variedade de mapas a serem descobertos e acessados. Mas resumir qualquer obra a um gênero é pouco eficaz e, no caso específico de Dandara, injusto. Desde a jogabilidade até a trama, que muitas vezes pouco importa em jogos nesse formato, o que se tem aqui é um trabalho desenvolvido com um cuidado evidente.

Dandara

Mesmo ao beber da fonte de clássicos, Dandara inova. A movimentação no jogo sequer inclui a possibilidade de caminhar: a personagem salta, fixando-se em qualquer superfície. Paredes, teto, chão – não há limite para a exploração dos mapas, a não ser, talvez, por um estranhamento inicial dessa dinâmica incomum. Felizmente, o jogo abre com um breve tutorial e mesmo a progressão entre os primeiros mundos é bastante fluida, apresentando desafios na medida certa. Quando a jogadora começa a se acostumar com os comandos, algo novo é introduzido, garantindo tempo a quem tem um pouco mais de dificuldade e desafio a quem é avesso a mesmices.

Dandara

Os mundos reforçam essa impressão. A cada portal atravessado, algo inteiramente novo, variando entre ambientes internos e externos, natureza e maquinário, e tantos outros temas, sem um padrão evidente. A maior conexão é a coerência de design e da trilha sonora, criando uma sensação de unidade mesmo entre cenários sem qualquer tipo de relação. Ao longo do jogo, encontra-se uma mescla de referências fantásticas e outras tantas que remetem à cultura nacional – desde questões mais próximas do dia a dia à nossa arte e história. Nada que exija, porém, conhecimento prévio para ser desfrutado. 

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É impossível mencionar o design de Dandara sem voltar à sua protagonista e ao fator 2D. O jogo tem o apelo nostálgico da pixel art, mas não se prende a limitações do passado, elevando o formato ao que é possível criar hoje. Dandara por vezes parece dançar no cenário, tão fluida é sua movimentação; o mero ato de atravessar um portal rumo ao mundo seguinte ganha um gostinho a mais graças à beleza da animação.

Dandara

A beleza de Dandara, contudo, não termina aí: o jogo busca inspiração, ainda que sutil, em Dandara dos Palmares, figura histórica que infelizmente ainda se perde sob a sombra de seu marido, Zumbi. Ambas são guerreiras lutando contra a opressão que se abate sobre seus povos. A sutileza, aqui, é bem-vinda: a Dandara em 2D não chega a contar a história de sua contraparte real, mas o texto do jogo estabelece uma série de pequenas conexões que desde o início nos fazem entender a importância da liberdade em sua temática. No mais, temos uma aventura em um mundo de fantasia sob o comando de uma heroína negra que mescla força, esperança e graça.

De forma geral, Dandara é uma diversão leve com a dose certa de compromisso. Acostumadas que somos a ver tantas obras fantásticas com inspiração em outras culturas, chega a ser revigorante encontrar uma referência com gostinho de coisa nossa, sem recorrer aos clichês de sempre. E além de tudo, com uma homenagem delicada a uma figura que merece mais atenção do que recebe hoje.

A nossa esperança? Que Dandara se torne, de fato, sinônimo de liberdade.

Dandara está disponível na Steam, para as plataformas Nintendo Switch, Xbox One, PlayStation 4, PC, iOS e Android.

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