Como o título já antecipa, o quarto episódio da sétima temporada de Game of Thrones, intitulado The Spoils of War (Os Espólios da Guerra) foca mais nas batalhas, do que nas estratégias da guerra pelo trono de Westeros. Espólio é o nome conferido ao produto tomado do inimigo em um combate. Mais do que se referir ao que o exército dos Lannister tomou no episódio anterior de Daenerys (Emilia Clarke), o título talvez se refira aos resultados em geral de uma guerra ainda maior.
Daenerys, apesar do poderio com que chegou a Westeros, encontrou apenas derrotas. Não somente perdeu seus três importantes aliados (casa Tyrell, casa Martell e casa Greyjoy), como viu seu exército de imaculados ser isolado no Rochedo Casterly, enquanto ainda tentava entrar em acordo com o recém declarado rei do Norte, Jon Snow (Kit Harrington), o qual se recusa a se ajoelhar perante os pés da rainha.
Ajoelhar-se seria um gesto simples, e talvez haja mais na recusa do rei, do que na representação do ato para seu povo. A série, por óbvio, não menciona isto, mas seria a recusa de Jon Snow somente devida ao passado dos Targaryen? Daenerys é, de longe, a mulher da série com maior poder reconhecido. Ainda que outras personagens fortes sejam apresentadas, suas posições, em geral, não são de liderança. E Daenerys conta, ainda, com o poderio físico dos dragões que comanda. A recusa de Jon Snow, portanto, não significa meramente uma desconfiança em relação à rainha, mas representa também a recusa de um homem de reconhecer a capacidade e o poder de uma mulher, de se subjugar ao poder político dela.
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E mesmo com a recusa, é a ele que Daenerys recorre como última opinião acerca das batalhas perdidas, em uma espécie de romantização clichê. Jon Snow, de fato, apresenta uma visão diferente da história de Westeros a Daenerys. Ele lhe mostra que existe um perigo maior, registrado também nas cavernas de Vidro de Dragão. Contudo, ele continua sendo o rei que quer auxílio, mas se recusa a apoia-la. E ainda, assim, Daenerys ignora Tyrion (Peter Dinklage), Missandei (Nathalie Emmanuel) e os demais membros de seu conselho, para perguntar a Jon Snow o que ele faria por seu povo. Apesar de ser compreensível o conselho de um regente para outro, tudo é encaminhado de forma forçada para a construção de um casal.
Desse modo, Daenerys parte para a região do Jardim de Cima, onde o exército dos Lannister carregam o espólio da destruição da casa Tyrell. Montada em um de seus dragões, exibe a capacidade destrutiva que ela mesma possui. E mesmo com a quase morte de Jaime (Nikolaj Coster Waldau) e a vitória dela e de seu exército de Dothraki – cuja violência contrasta com a refinada violência da guerra de Westeros, em um choque cultural entre os estereotipados como bárbaros e civilizados -, a batalha serve ao propósito de demonstrar que ter um dragão em seu poder, não significa a vitória. Os escorpiões (armas usadas contra os dragões) estão ali para combatê-los.
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No norte de Westeros, Arya (Maisie Williams) finalmente chega a Winterfell, protagonizando com Sansa (Sophie Turner) um encontro emocionante entre duas meninas que cresceram rivalizadas pela construção de estereótipos. Sansa, aquela que queria ser uma lady, e Arya, aquela que não queria, uma julgada pela outra. E após tanto tempo separadas pelos infortúnios da vida, reencontraram-se em um reconhecimento das dificuldades individuais que cada uma foi obrigada a suportar. Fica claro que os conflitos passados não foram esquecidos – talvez nunca o sejam. Todavia, as opressões exteriores mostraram-se maiores que a rivalidade um dia conhecida pelas irmãs.
Ainda em Winterfell, Littlefinger (Aidan Gillen) entrega a Bran (Isaac Hempstead-Wright) a adaga pertencente àquele que tentara cortar a garganta do menino na primeira temporada, logo após Bran ter flagrado Cersei (Lena Headey) e Jaime, fato este que iniciou a série de eventos da guerra dos tronos. A adaga, que, como espectadores sabem, era do próprio Littlefinger, é cedida a Arya, a qual não somente demonstra suas habilidades de luta como sua desconfiança em relação a Littlefinger e sua influência sobre Sansa.
O episódio é considerado o mais curto já exibido pela série, contando com pouco mais de 50 minutos. Diferentemente dos episódios que o precedem, não apresenta muitas mudanças de plot, o que talvez seja uma tendência em virtude da aproximação do fim – a temporada contará com apenas 7 episódios. No entanto, é um episódio marcante, tanto pela primeira atuação de Daenerys e seus dragões em Westeros, quanto pelo reencontro dos três filhos de Ned Stark sobreviventes.