A nova Menina Superpoderosa e seu significado para nós

A nova Menina Superpoderosa e seu significado para nós

Domingo (17) recebemos o anúncio, na própria conta do Twitter do Cartoon Network, que haverá uma nova integrante em um dos trios mais famosos da cultura pop, As Meninas Super Poderosas! E mais: segundo as imagens, Bliss, a nova integrante, será uma personagem negra (ou no mínimo não branca) havendo, finalmente, a merecida participação de um grupo minoritário no desenho. Mas é só isso?

Desde sua reestreia em 2016, a nova versão das Meninas Super Poderosas parece que veio com a proposta de não apenas quebrar barreiras e estereótipos, mas de atingir um novo público, através dá, por exemplo, exclusão de personagens que não acrescentavam características positivas à série ou sequer serviam para o andamento da mesma, como a Senhorita Belo.

Menina Superpoderosa

Tal personagem coadjuvante, por anos, de 1994 a 2005 para sermos exatas, serviu apenas como apetrecho sexual aos telespectadores em um desenho infantil que, paradoxalmente, tinha meninas minimamente empoderadas como protagonistas.

A figura da Senhorita Belo aspirava ao que as meninas se tornariam quando crescessem, como mostrado inclusive em um episódio da série original, e era utilizada para nos certificar do lugar social feminino como figura objetificada, sendo tão descartável que não se valia sequer de um rosto.

Menina Superpoderosa

A exclusão da Senhorita Belo, porém, havia sido a única mudança significativa e progressista numa série que ainda trazia sub-representações alarmantes de pessoas negras e demais minorias. Isso até a inclusão de Bliss, ou pelo menos é o que pensávamos.

Ao ser anunciada, Bliss nos encheu de esperança e orgulho. Finalmente um passo para a maior representação e reconhecimento de pessoas negras não apenas como indivíduos, mas como consumidores de mídia tal qual seus semelhantes brancos. Nossa prévia percepção, porém, caiu por terra ao assistirmos à Power of Four, o especial que nos apresentou Bliss.

Menina Superpoderosa

Procuramos, com certeza, fazer essa análise com a menor quantidade de spoilers possíveis, porém, não acreditamos ser um spoiler dizer que a representação feita de Bliss no desenho foi uma, no mínimo, preguiçosa.

A imagem física nos apresentada da personagem passa claramente o fato de Bliss não ser uma personagem branca. E até dizemos mais, o contraste de sua pele escura com seu cabelo liso – por mais que se trate de um desenho – nos remete a alguém que é, no mínimo, pluri-étnico.

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Dito isso, não nos surpreende, apesar de nos desapontar, o fato de Bliss ter sido representada como alguém emocionalmente instável ao ponto de ser capaz de causar efetiva destruição ao seu redor, um familiar estereotipo a mulheres negras e latinas – aqui tratando dos grupos étnico-racias a que pertencem – sendo elas não apenas consideradas inferiores por serem mulheres, mas também por fazerem parte de grupos étnicos-racias considerados inferiores ao branco e, portanto, bestiais.

A representação da mulher negra feita por Bliss é uma que não se preocupa em buscar as nuances existentes em tal grupo étnico, nem de buscar aprofundar a história da mesma, de forma a fugir de clichês e trazer uma maior possibilidade de redenção e associação da mesma com o público.

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A nova apresentação das Meninas Super Poderosas se afastou da sexualização implícita e explícita do corpo feminino e do ser mulher social para se aproximar da desqualificação de mulheres negras como seres humanos, ao caracterizar a única personagem não-branca e com falas do desenho como pertencente ao estereótipo de instabilidade bestial que seu grupo gênero-étnico-racial possui.

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Esperamos que ao longo da série, e se Bliss realmente se tornar membro fixo e integrante do grupo de super-heroínas mirins, sua personalidade seja melhor justificada e não desdenhosamente relacionada a antigos estereótipos sobre mulheres negras, para termos uma representação plena e válida das mesmas em desenho.

É triste, contudo, ver que mesmo com os diversos diálogos e chances de crescimento de sua consciência étnica-racial, os produtores da série ainda escolheram ir pelo caminho comum, preguiçoso e, ousamos dizer, racista, ao representar Bliss de tal forma.

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A proposta do remake, aparentemente, era a de revolucionar o anacrônico e se adequar à nova visão de mundo que possuímos, porém, enquanto deve ser celebrado por conquistas contra a objetificação feminina – vulgo Senhorita Belo – não podemos deixar passar que os grupos sub-representados permanecem, apesar de Bliss, sub-representados.

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