• INÍCIO
  • SOBRE
    • DELIRIUM NERD NA MÍDIA
  • ANUNCIE CONOSCO!
  • COLABORE
  • CULTURA
    • ARTE
    • CINEMA E TV
    • ENTREVISTAS
    • ESTILO
    • GAMES
    • LITERATURA
      • LEIA MULHERES
    • MANGÁS/ANIMES
    • MÚSICA
    • SÉRIES
    • QUADRINHOS
      • [HQ] Lua Negra
  • PODCAST
  • PARCERIAS
  • APOIE!
DELIRIUM NERD
CINEMA

[CINEMA] Café com Canela: sobre afetos curativos (crítica)

por Samantha Brasil · 20 de setembro de 2017
Compartilhe
  • 35
    Shares

Café. Encontro. Perda. Afeto. Reencontro. Leveza. Ancestralidade. Alegria. Solidão. Vida. Fantástico. Solidariedade. Cinema. Espelho. Com. Amor. Cerveja. Andar de Bicicleta. Sororidade. Canela. Essas palavras conjugadas constroem a poética de Café com Canela.

Primeiro longa-metragem de Glenda Nicácio e Ary Rosa, Café com Canela é um filme que se revela de forma háptica, ou seja, refere-se à percepção tátil, do tato, do toque: um filme para sentirmos na pele, muito mais do que ser fruído apenas na chave óptica. Está para o tato, assim como a óptica está para a visão, como diria a crítica Carol Almeida em seu texto sobre a proposta de uma cinefilia feminista lido no painel das Elviras – Coletivo de Mulheres Criticas de Cinema, durante o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

Trata-se de um filme sobre reencontros e sobre reencontrar-se. Sobre pertencimento. Sobre libertar-se de memórias que doem, que sangram, que dilaceram. Os tempos, assim como a montagem do filme, são picotados e os diretores experimentam esses saltos temporais com a própria câmera e seus diferentes pontos de vista, brincando com sons e imagens. O jogo, proposto por Glenda e Ary, nos convida de forma adocicada a conhecer seus personagens que, apesar de terem seus arcos de desenvolvimento próprios, terão suas narrativas entrelaçadas por afetos. Às vezes violentos, às vezes carinhosos, mas sempre amorosos.

A primeira cena utiliza um filtro e um ratio de câmera a nos situar que a festa de aniversário de cinco anos de Paulinho dá-se no passado. Margarida (Valdinéia Soriano) e Paulo, pais do menino, tentam, sem grande sucesso, registrar aquele momento com uma câmera caseira, e é deste ponto de vista que o filme é apresentado.

Assim como no curta-metragem Aniversário do Pedro, dirigido por Cíntia Domit Bittar, um alerta de situação traumática está por vir, quando a fita que registrava a festa acaba antes do apagar das velas. Após este passeio da câmera por aquela festinha infantil, saltamos no tempo e os personagens estão na laje da casa de Violeta (Aline Brunne) que ao lado de seus filhos, do marido e dos vizinhos e amigos Margarida, Cidão (Arlete Dias) e Ivan (Babu Santana) conversam animadamente sobre amenidades. A conversa gostosa daquelas pessoas carismáticas ganha o espectador nos primeiros minutos de projeção. A forma como os personagens estão dispostos e o fato de estarem conversando sobre um passado próximo, emula uma atmosfera similar a do francês Retorno à Ítaca (2014) de Laurent Cantet; e do cubano Os últimos dias em Havana (2015) de Fernando Perez.

Apesar de toda a alegria e vivacidade compartilhada pelos vizinhos de cidades do Recôncavo Baiano, algumas dores e fissuras na vida de Violeta e Margarida vão sendo apresentadas. Ao contar essa história, a direção de arte, que também é assinada por Glenda Nicácio, se apoia em elementos do cinema fantástico, para criar uma casa que ao mesmo tempo serve de refúgio para Margarida, mas também a oprime, pois guarda memórias do filho que perdeu.

Plantas brotam das paredes, que por vezes sangram e aumentam ou diminuem de tamanho, de acordo com os sentimentos desta mulher. Essas metáforas da casa que se transforma para, de alguma forma, consumir a personagem, que passa por um período de vulnerabilidade, nos remete a O Babadook (2014), filme de terror psicológico escrito e dirigido pela australiana Jennifer Kent, além do curta-metragem Um Ramo (2007) de Juliana Rojas, que trata da inércia de uma mulher que precisa conjugar sua subjetividade e o casamento.

No entanto, é no reencontro afetivo de Margarida e Violeta, que fora sua aluna quando criança, que uma transformação se dá. A direção de atores é algo que merece ser ressaltado, uma vez que há uma conjunção de atores profissionais e não profissionais atuando com tamanha fluidez, que realça ainda mais a excelente preparação do elenco e o roteiro. A construção de cada personagem é da ordem do sensível, já que até os mais coadjuvantes têm seus momentos de apogeu dentro da narrativa, sendo impossível não mencionar todas as cenas em que a fabulosa Cidão está em quadro.

Leia também:
[CINEMA] 10 curtas de horror dirigidos por mulheres para assistir online
[CINEMA] “Nada” e “Peripatético” foram os grandes filmes do primeiro dia da mostra competitiva no Festival de Brasília (crítica)
[CINEMA] “Não devore meu coração!” de Felipe Bragança: sobre masculinidades em conflito (crítica)
[CINEMA] As Duas Irenes: sobre o espelhamento de si (Crítica)

O poder curativo visto na tela, permeado por este encontro entre Violeta e Margarida, alcança também a plateia que se sente contemplada ao poder ver no cinema um elenco majoritariamente de pessoas negras, em que a questão étnico-racial não é um elemento do roteiro. Os personagens são médicos ou professores, e suas subjetividades são largamente trabalhadas, sem que estejam a serviço do arco narrativo de pessoas brancas, como visto, por exemplo, em Vazante (2017) de Daniela Thomas, exibido no primeiro dia da Mostra Competitiva do 50° Festival de Brasília.

Numa cena belíssima em que Margarida conta para Violeta o que sente ao ir ao cinema, a quarta parede é quebrada e convida o espectador a refletir sobre o que costumeiramente vemos na tela grande. As sutilezas circunscrevem o roteiro de Café com Canela, como um desejo pulsante sobre uma possibilidade de existência em meio a tantas dores que a vida muitas vezes impõe. É importante ressaltar que a produção destas imagens é um acalanto dentro de uma historiografia do cinema brasileiro, em que raramente essa imagética é produzida. Não à toa, o filme foi ovacionado, no Cine Brasília completamente lotado, com aplausos que perduraram todo o tempo dos créditos, sendo o grande favorito ao prêmio do público.

50º Festival de Brasília do Cinema BrasileiroAfetosAline BrunneAry RosaBabu SantanaCafé com Canelacinema fantásticoFernando PerezFestival de BrasíliaGlenda NicácioJennifer KentJuliana RojasLaurent CantetO BabadookOs últimos dias em HavanaperdaRetorno à ÍtacasororidadeUm ramoValdinéia Soriano
Compartilhar Tweet

Samantha Brasil

Aquariana, mora no Rio de Janeiro, graduada em Ciências Sociais e em Direito, com mestrado em Sociologia e Antropologia pelo PPGSA/UFRJ, curadora do Cineclube Delas, colaboradora do Podcast Feito por Elas, integrante da #partidA e das Elviras - Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema. Obcecada por filmes e livros, ainda consegue ver séries de TV e peças teatrais nas horas vagas.

Você também pode gostar...

  • CINEMA

    Love Story: a Manic Pixie Dream Girl que existe para morrer

  • CINEMA

    A Despedida: um olhar sobre a eutanásia

  • Confissões de Uma Adolescente em Crise: amizade, música e família CINEMA

    Confissões de Uma Adolescente em Crise: amizade, música e família

PESQUISAR

PRÉ-VENDA

Textos Populares

  • Animes com protagonistas femininas que você precisa ver!
  • Shingeki no Kyojin A proeza humana de “Shingeki no Kyojin”
  • Quadrinhos eróticos feitos por mulheres Quadrinhos eróticos feitos por mulheres: erotismo para além dos homens
  • Os personagens não brancos dos animes Lista com personagens negros dos animes
  • Koe no Katachi: Uma animação que discute bullying, suicídio e a importância da comunicação

PODCAST

ANUNCIE AQUI!

Sobre

O Delirium Nerd é um site sobre cultura, com foco no protagonismo feminino e obras feitas por mulheres.

Tags

cinema crítica Feminismo filme literatura machismo mulheres Netflix personagens femininas protagonismo feminino Quadrinhos representação feminina resenha série

Posts recentes

  • [DELIRIUM CAST] #14 Consumo cultural na era pré-digital e atual
  • Love Story: a Manic Pixie Dream Girl que existe para morrer
  • A Despedida: um olhar sobre a eutanásia
  • WandaVision: primeira temporada (crítica)
  • Dicionário Agatha Christie de Venenos: uma carta de amor para a Dama do Crime

CONTATO

Para contato ou parcerias: [email protected]

© 2021 Delirium Nerd. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, total ou parcial do conteúdo sem prévia autorização das editoras.