5 filmes brasileiros de horror que merecem ser assistidos

5 filmes brasileiros de horror que merecem ser assistidos

Durante muito tempo, o cinema de horror foi um gênero negligenciado em nosso país. Embora sempre tenhamos tido cineastas desenvolvendo obras dentro desse gênero, o número de lançamentos relacionados ao horror sempre foi substancialmente menor quando comparado a outros gêneros. Assim, o consumo de filmes de horror no Brasil esteve historicamente vinculado ao cinema estadunidense. Quando pensamos em grandes clássicos do gênero, é comum que as primeiras obras a virem à mente sejam produções dos Estados Unidos.

Além disso, grande parte do público brasileiro ainda associa o cinema de horror brasileiro unicamente aos filmes de José Mojica Marins, conhecido pelo icônico personagem Zé do Caixão e por dirigir À Meia-Noite Levarei Sua Alma, o primeiro filme brasileiro classificado como de horror.

No entanto, o cinema contemporâneo de horror no Brasil tem conquistado uma notoriedade crescente. Especialmente notável é o fato de que muitas delas abordam tramas que refletem a realidade brasileira e buscam abordar o horror e o medo de maneiras mais autorais.

Trabalhar Cansa (2011)

Naloana Lima e Helena Albergaria, em cena de Trabalhar Cansa | Imagem: Reprodução.

Trabalhar Cansa, dirigido por Juliana Rojas e Marcos Dutra, apresenta a história de Otávio (Marat Descartes), um homem que perdeu recentemente seu emprego. Ao mesmo tempo, sua esposa, Helena (Helena Albergaria), inaugura uma mercearia no bairro.

Enquanto isso, Paula (Naloana Lima) é contratada como empregada doméstica para cuidar da casa e da filha do casal. No entanto, essa contratação ocorre de maneira irregular, sem registro, o que gera tensões desde o início entre a patroa e a empregada.

Enquanto Otávio enfrenta enormes desafios na busca por emprego, Helena se depara com diversos problemas em seu empreendimento: mercadorias desaparecem, conflitos surgem com os funcionários e uma misteriosa mancha preta, causada por uma infiltração, toma conta da parede. Além disso, eventos estranhos e assustadores começam a ocorrer na mercearia.

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No íntimo dessa narrativa que mescla suspense e mistério, encontramos uma crítica social sobre as dinâmicas de trabalho e poder que permeiam o universo da classe média brasileira. Trabalhar Cansa se torna, assim, uma obra de horror construída com alicerces alegóricos, cujo propósito é questionar a perspectiva de uma classe média trabalhadora que se coloca acima daqueles que fazem parte de níveis mais baixos em uma classificação social.

Quando Eu Era Vivo (2014)

Sandy interpreta Bruna em Quando Eu Era Vivo | Imagem: Reprodução.

No filme, acompanhamos a história de Júnior (Marat Descartes). Após se separar da esposa, ele retorna a morar no apartamento do pai, interpretado por Antônio Fagundes, que divide o lar com sua inquilina, Bruna (Sandy). À medida que o tempo passa, Júnior começa a ser atormentado pelo ambiente estranho que se tornou a casa de sua infância.

O rapaz fica obcecado pelos mistérios que envolvem o lugar e inicia uma investigação, envolvendo até mesmo Bruna em suas buscas, perdendo-se em uma espiral de loucura e realidade.

Baseado na obra literária A Arte de Produzir Efeito Sem Causa de Lourenço Mutarelli, Quando Eu Era Vivo foi dirigido por Marcos Dutra, que também escreveu o roteiro em parceria com Gabriela Amaral Almeida (é possível observar muito da assinatura dela no filme).

O filme cria um clima sinistro que permeia toda a narrativa. Mesmo construída de forma mais suave, há uma sensação latente de que algo muito ruim está prestes a acontecer.

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À medida que segredos são revelados e o passado desenrola-se, tendências ocultistas emergem e afetam profundamente a vida dos personagens.

A direção de arte merece destaque por criar um cenário típico do cinema de horror, repleto de elementos macabros que causam desconforto aos espectadores. As cantigas, aparentemente inofensivas, possuem um tom tenebroso que, provavelmente, permanecerá na mente daqueles que assistem por algum tempo.

Disponível em: GloboPlay e Itaú Cultural Play (plataforma de streaming gratuita).

Sinfonia da Necrópole (2014)

Eduardo Gomes e Luciana Paes em cena de Sinfonia da Necrópole | Imagem: Reprodução.

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Sinfonia da Necrópole já chama a atenção por ser um musical de horror. Dirigido por Juliana Rojas, o filme se desenrola principalmente em um cemitério. A trama é protagonizada por Deodato (Eduardo Gomes), um coveiro inexperiente que ainda se impressiona com a proximidade da morte que seu trabalho implica.

Quando Deodato é selecionado pelo setor administrativo do cemitério para ajudar a agente do serviço funerário, Jaqueline (Luciana Paes), com algumas burocracias relacionadas ao recadastramento de túmulos, estranhos eventos “sobrenaturais” começam a abalar seu equilíbrio emocional.

A história utiliza como pano de fundo os desafios relacionados à superlotação do sistema funerário de São Paulo, combinando elementos de horror com cenas musicais para abordar críticas e adaptar o cinema de gênero à nossa cultura e realidade local. O filme cria circunstâncias que atraem atenção, relevância e urgência social, enquanto também aborda as camadas fúnebres da narrativa de maneira natural, leve e divertida, mas sempre respeitosa.

O Segredo da Família Urso (2014)

Liz Comelatto e Amélia Bittencourt em cena de O Segredo da Família Urso | Imagem: Reprodução.

O Segredo da Família Urso é dirigido por Cíntia Domit Bittar e se passa no período da ditadura militar brasileira. Na narrativa, somos apresentados a Geórgia (Liz Comerlatto), uma garota de oito anos que costumava brincar no porão de sua casa. No entanto, em um dia, seus pais trancam a porta do porão e a proíbem de entrar lá. Em determinadas circunstâncias, a porta do porão está destrancada, e Geórgia se depara com alguém lá dentro.

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Um dos principais pontos da obra está em estabelecer uma conexão entre o horror exibido na tela e o período da ditadura. Esse aspecto ganha ainda mais relevância quando se considera que o filme foi gravado em uma época em que muitas pessoas desejavam (e possivelmente ainda desejam) o retorno do período militar.

O filme é eficaz ao abordar como os envolvidos com a ditadura se esforçavam para distrair a população e convencê-la de que não havia necessidade de se preocupar com os problemas sociais.

Embora haja uma certa dose de exagero no curta-metragem, ele destaca e critica a forma como as pessoas a favor da ditadura conseguiram criar uma narrativa de falso heroísmo em torno de um dos períodos mais sombrios da história brasileira.

Disponível no Youtube.

A Menina Só (2016)

Gabriele Bittar é a protagonista de A Menina Só | Imagem: Reprodução.

A Menina Só também é dirigido por Cíntia Domit Bittar e apresenta a história de uma garota (Gabriele Bittar) que vive em um sítio com um pai autoritário, que esconde um segredo perturbador.

O contato entre os dois é mínimo, e as poucas vezes em que ele se dirige à filha é para repreendê-la ou exigir que ela faça algo, refletindo uma educação opressiva. No entanto, a menina, mesmo obedecendo seu responsável, não concorda com o modo como ele a trata e, discretamente, começa a se rebelar quando necessário.

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Apesar de algumas atuações deixarem a desejar no curta-metragem, é interessante notar a crítica que a obra faz à acomodação patriarcal comumente retratada no cinema. A narrativa apresenta um pai que subjuga o feminino ao masculino, usando sua autoridade paterna para exercer controle.

Assim, o filme expõe a desconfiança do pai em relação às atitudes da filha e mostra seu descontentamento quando ela começa a dar sinais de desobediência. Tudo isso se desenrola em um ambiente de grande tensão, mantendo o espectador constantemente à espera do pior.

Disponível em: Youtube.

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Denise é bacharela em cinema e tem amor incondicional por tal arte. Pesquisa e escreve sobre feminismo e a representação das mulheres na área do audiovisual. É colecionadora de DVDs, fã da Audrey Hepburn, apaixonada por Rock n' Roll e cultura pop. Adora os agitos dos shows de rock, mas tem nas salas de cinema seu local de refúgio e aconchego.
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